Barack Obama
Selo Djaló *
28.10.2009
Yes, You Deserve
«Os seres humanos diferem dos animais principalmente pela sua capacidade de acumular conhecimento, mas não são capazes de controlar o seu destino nem de utilizar a sabedoria acumulada para viver melhor. Nesses aspectos, somos como os demais seres. Através dos séculos, o ser humano não foi capaz de evoluir em termos de ética ou de uma lógica política. Não conseguiu eliminar o seu instinto destruidor, predatório. No século XVIII, o iluminismo imaginou que seria possível uma evolução através do conhecimento e da razão. Mas a alternância de períodos de avanço com declínios prosseguiu inalterada. Sucederam-se os regimes tirânicos. A história humana é como um ciclo que se repete, sem evoluir….Não acredito que haja avanços em ética e política. Temos momentos melhores e piores, mas em geral a história é um ciclo intermitente de anarquia e tirania. Trazemos no nosso ADN a inclinação para autodestruição e somos incapazes de mudar. Neste sentido, não há progresso. A guerra no Iraque mostra isso. Os EUA não eram a nação mais desenvolvida do mundo? No entanto, não puderam impedir a tortura de prisioneiros em Abu Ghraib. Se, por um lado, alcançamos estágios avançados, por outro, também perdemos essas conquistas a todo o momento», John Gray, Prof. de Pensamento Europeu na London School Of Economics
John Kenneth Galbraith, ex-professor da Universidade de Harvard, um dos mais importantes pensadores no âmbito da economia e da política (agora no “mundo do não ser”, Hannah Arendt), chegou a escrever algures, salvo erro, que o mundo foi sempre governado por loucos (ou lobos, na terminologia de Osho, místico indiano) que infernizaram a vida de muita boa gente. E não é preciso pensar muito para os descobrir. Desde logo, George W. Bush (A Guiné-Bissau, diga-se de passagem, teve, para não variar, o seu quinhão. De lobos disfarçados de cordeiros a loucos varridos, conheceu de tudo).
Na manifestação mundial do dia 15 de Fevereiro de 2003, liderada em Portugal por Mário Soares, contra a “expedição punitiva” (Eduardo Lourenço, um dos maiores pensadores portugueses da actualidade) da coligação anglo-americana ao Iraque, o meu cartaz rezava: “Saddam made in USA” (querendo significar com isso que Saddam não passava de um produto americano. Não estava sozinho. Atente-se nas palavras de Carlos Fuentes, escritor mexicano, se não me falha a memória: «Os EUA são o Dr. Frankenstein do mundo moderno, especialistas em criar os seus próprios monstros que, a posteriori, se voltam contra os seus criadores»). Fadhil Shanon, um iraquiano residente em Portugal há décadas, não podia estar mais de acordo comigo. «É pena as pessoas não saberem isso», disse. Apertou-me a mão, perguntando de que país era eu. «Nós também não morremos de amores por Saddam. Ainda assim, estamos contra esta guerra», concluiu, tocado pela onda de solidariedade e pesaroso pela sorte do seu povo. À conta dessa ignóbil guerra, que virou Iraque do avesso, que matou, e continua a matar um sem número de pessoas (ou melhor, “não pessoas” [Hannah Arendt], na óptica dos falcões; pois, só assim se compreende tanta sanha homicida). É caso para perguntar, onde pára o Tribunal Penal Internacional? W. Bush & companhia ficam para o Dia do Juízo Final? Assim, não admira que os nossos ditadorzecos exijam respeitinho.
Felizmente, aí estão os sábios para dizerem de sua justiça…
Harold Pinter, Prémio Nobel da Literatura 2005, chamou Tony Blair de «criminoso de guerra» e aos EUA… «dirigidos por um bando de criminosos». Noam Chomsky, intelectual americano, e Michael Moore, cineasta e escritor americano, críticos acérrimos de W. Bush e de Ocidente, não destoam.
No seu livro sobre o 11 de Setembro – acontecimento macabro, mais do domínio da ficção cientifica (ainda hoje não consigo acreditar na realidade daquelas imagens), que deitou por terra a ilusão de invulnerabilidade da fortaleza norte-americana, que tornou a “Guerra das Estrelas”, tão do agrado do Presidente Reagan, uma brincadeira de crianças –, Chomsky, qual Émile Zola (EU ACUSO), põe o dedo na ferida, denunciando as agressões americanas no mundo, recordando as bombas atómicas lançadas sobre Hiroxima e Nagazaqui, no Japão. O único país a ousar a tanto, faz notar.
É nesse contexto de loucura (quando se sabe que “o ser humano, por muito engenho que tenha, nunca será capaz de construir um mundo igual a este”) e de mediocridade que surge o homem do momento (ou será, antes, do século XXI, como alguns críticos crêem? Com efeito, desde que me conheço, nunca vi nada igual.), Barack Hussein Obama, a antítese de W. Bush (homem da aristocracia).
Vindo de nenhures, contando apenas com o seu elevado quociente de inteligência (QI), fruto de muito trabalho, inteligência emocional (IE), dom da palavra (os seus discursos não deixam ninguém indiferente), integridade, humildade (a marca dos sábios), coragem e uma forte consciência social e humana, Barack Obama ganhou o Partido Democrático, deixando para trás Hilary Clinton, uma das super-estrelas da intelligentsia americana, ganhou a Casa Branca e, ouro sobre azul…o Prémio Nobel da Paz; isto, num fechar e abrir de olhos. É obra! É caso para dizer que “o trabalho por um mundo melhor” (Karl Popper) compensa e muito. Yes, you deserve (Sim, o Senhor [Barack Obama] merece). Ter um homo sapiens sapiens (sábio sábio), ético, apostado em fazer bem às pessoas, nos comandos da maior potência nuclear de sempre constitui, sem dúvida, motivo de grande satisfação e alívio ( «de agora em diante», avisa o Prof. Leonardo Boff no seu livro “O Despertar da Águia”, «a existência da biosfera estará a mercê da decisão humana. Para continuar a viver o ser humano deverá querê-lo. Terá que garantir as condições de sua sobrevida. Tudo depende de sua própria responsabilidade. O risco pode ser fatal e terminal.»
God bless you, Barack Obama (Que Deus o abençoe!).
* Pós-graduado em Relações Internacionais pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade Técnica de Lisboa (UTL); co-produtor e co-apresentador do programa o “Prazer da Leitura” na Sol Mansi.
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO