BISSAU ONTEM E BISSAU HOJE
Samuel Vieira
*
vieirasamuel@hotmail.com
23.05.2009
Quem diria que
Bissau de ontem seria Bissau de hoje?!
Chegou a independência e com ela vieram introduções de reformas e
inovações em vários sectores:
O quê que tínhamos e que funcionava e hoje como está?
Indústrias/Fábricas:
-
Fábrica de Cumeré – chegou
a produzir para o mercado nacional óleo vegetal que era comercializado no
mercado interno.
-
Montadora Nhaye – gerou
muitos empregos, chegou a exportar para países vizinhos como Senegal e
Guiné-Conacry.
-
A Oficina Naval - foi
modernizada e adaptada para oferecer serviços a navios de vários portes.
-
Oficina de autocarros Silô Diata
- surgiu com modernos equipamentos para prestação de serviços a essa empresa
estatal.
-
Fábrica CICER - trabalhava
a todo o vapor e não deixava faltar a nossa geladinha do fim-de-semana.
-
GUINÉ-GÁS - a fornecedora
de gás de cozinha, que tinha suas instalações na SACOR, não deixava a dona
de casa sem gás.
-
DICOL - distribuidora de
combustíveis e lubrificantes por todo o país. Essa empresa presumo ter
alcançado muito sucesso e gera muitos empregos.
-
CEABIS – na década 80 fez
melhorias no sistema de fornecimento de electricidade e águas para a
população de Bissau. O vai-vem dos técnicos dessa empresa em vários bairros
para fazer manutenção, consertos ou trocas de equipamentos, era algo muito
notório por parte da população. As cidades do interior quase todas elas
tinham o sistema de fornecimento de energia parcialmente regular.
Orgulhava-me ver ao cair da noite, às lâmpadas que lançavam a intensidade de
suas luzes pelas ruas de Bissau, Bafatá, Bissorã, Farim, Gabu e Catió.
-
Fábrica de espuma – nossos
colchões e outros produtos produzidos por essa fábrica lotavam o mercado
interno.
-
SOCOTRAM – Nossas madeiras
tinham um destino certo. Vários produtos foram elaborados a partir da
madeira nacional para nosso mercado interno.
-
Montadora Volvo – essa
provou a coragem do guineense! País recém independente, sem pessoal
qualificado, sem matéria-prima, sem fábrica de acessórios, sem o
fornecimento de energia regular, aliás, a própria montadora tinha o seu
gerador próprio, o que não é viável para uso constante, pois, os geradores
poderiam ser usados para casos de emergência, ou seja, havendo falta de
energia da concessionária CEABIS. Mas como a CEABIS nem sempre tinha o
fornecimento regular, o uso do gerador era uma necessidade. Quanto à
existência da montadora, não houve um planejamento adequado e o resultado
esperado foi o pouco período de existência dessa montadora.
-
Quantos empregos não foram
gerados por essas unidades de produção? Hoje quantos deles existem?
Avançamos ou recuamos? Sua análise e sua resposta são importantes!
Comércio:
-
Armazém do Povo -
espalhou-se por vários bairros da capital Bissau e outras cidades do
interior. Tinha de tudo um pouco!
-
Supermercados novos - com
instalações amplas mudaram a cara de Bissau.
-
A Mavegro - era concorrente
principal dos nossos supermercados, mas nem sempre o que tinha na Mavegro
faltava nos nossos supermercados, à exceção dos eletrodomésticos e outros
artigos importados diretos da Holanda.
-
A Feira Principal - os
Djilas que descobriram Portugal como uma nova fonte fornecedora de novos
produtos (sapatos, roupas, etc.) de boa qualidade, carimbavam seus
passaportes quase todos os meses para esse país – Mbembá que o diga!
-
Os Djilas senegaleses -
também estavam presentes com relógios, perfumes e tecidos. Os Nares
com suas mercearias espalhadas pelos bairros. Bissau não faltava nada!
-
A Granja de Pessubé - os
nossos frangos do dia-a-dia e nos fim-de-semana?! Creio que todo o mundo se
lembra. Gerou muitos empregos e dinamizou o comércio nacional.
-
Matadouro de Bissau – a
carne transportada para o Mercado Principal tinha até a vigilância
sanitária que acompanhava o abate e os locais de venda desse produto
alimentício, embora com algumas falhas.
-
Quantos empregos não foram
gerados por esses sectores de comércio? Hoje, avançamos ou recuamos? Sua
análise e sua resposta são importantes!
Ensino/Instalações:
-
Escola Técnica de Brá - foi
equipada com boa parte de equipamentos fornecidos pela ex-República
Democrática Alemã (RDA). As oficinas eram fantásticas! Os professores
Dominguinho e Tuno que o digam. Escola Técnica tinha vários cursos técnicos
entre eles: Mecânica, Elétrica, Edificações, etc., etc.
-
Ciclo Preparatório Salvador Allende
- era um orgulho para todo o guineense em qualquer hora do dia, ver a
caminhada dos nossos alunos com batas brancas para esse estabelecimento em
busca do conhecimento. Não faltavam professores, as salas de aula modéstia à
parte tinham ventiladores e ofereciam condições mínimas para um aluno
assistir às aulas. O período da tarde infelizmente fazia muito calor, pelo
menos até 17h00minhs.
-
As estruturas prediais -
estavam minimamente conservadas. As alegações dos estudantes prendiam-se com
a falta de higiene nas casas de banho.
-
O Liceu Kwame N'Krumah -
era o sonho da maioria dos estudantes. Chegar lá significava ganhar a porta
de saída para o estrangeiro. Todo o esforço para ultrapassar todas as
barreiras não se poupava, o aluno queria terminar o 7º Ano. A colaboração de
professores com sotaque estrangeiro (Russos, cubanos e outros), quase
confundiam a cabeça dos nossos alunos, mas mesmo assim, as matérias
transmitidas nas salas de aula eram bem assimiladas.
-
Instituto de Amizade – os
órfãos ou alunos provenientes de zonas libertadas e alunos carentes que
conseguiam vagas nos Internatos, estudavam nesses estabelecimentos de
ensino. A ajuda da Suécia e de outros países amigos melhoraram muito os
aspectos físicos dos prédios, patrimônios da herança colonial, cedidos para
o Instituto de Amizade que os transformavam em internatos. O Instituto de
Amizade recebia regularmente de vários países doações diversificadas
tais como: material escolar, uniformes, material esportivo, gêneros
alimentícios, etc., etc. Todos os alunos do internato cuja parcela
significativa faz parte do nosso elenco governamental actual tiveram apoio
do governo da Guiné-Bissau para concluírem seus estudos em Bissau, e
facilidades para seguirem para Europa, assim como para outros países amigos,
para prosseguirem seus estudos. “Falo com
conhecimento de causa, fui professor do Internato”.
-
Quantos empregos não foram
gerados por essas instituições de ensino e quantos cérebros novos não
criamos? Hoje, avançamos ou recuamos? Sua análise e sua resposta são
importantes!
Transportes:
-
Os autocarros “Silô Diata”
- fechavam ligações entre a capital e os muitos municípios.
-
Haviam “Candongas”- a vez
delas só era favorecida fora do horário dos famosos Silôs Diatas.
-
A segurança dos passageiros
- era um problema, mas como em toda à África esse assunto passa despercebido
pelas autoridades, não vamos comentá-la.
-
Autocarros urbanos - a
nossa juventude tinha orgulho de exibir a carteira de estudante (laissez
passer!) ao subir no autocarro. Os estudantes da Escola Técnica
de Brá – ah! esse usufruíram e como, dessa carteira de estudante! Fazia
raiva ao cobrador ao avistar o estudante subindo no autocarro, mas a lei
dava o direito a este último.
-
Centros Rodoviários –
Infelizmente, em todos os governos, não se teve iniciativa para pensar
nisso. Os autocarros intermunicipais se misturam no terminal rodoviário, ou
seja, (parada obrigatória a céu aberto!), com os vendedores
ambulantes vendendo comidas que são condimentadas com poeiras a cada chegada
de um autocarro ou de uma “candonga”.
-
Taxi Nhaye - mandava em
Bissau, por todos os lados que virávamos, um simples PAM-PAM convidava para
uma viagem. Não precisava esperar muito tempo para aparecer um taxi.
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Quantos empregos não foram
gerados por esses sistemas de transporte? Hoje, como está o nosso sistema de
transporte? Avançamos ou recuamos? Sua análise e sua resposta são
importantes!
Segurança:
-
Vocês ainda se lembram do GUER-MATCHU! Quem ficava
depois do primeiro grito – “ala guer-matchu na bin?! Bandidos na rua, não me
lembro do sucesso por parte deles! Havia blitz nas ruas, se o guer-matchu
cruza com o cidadão que não porta documentos à noite, este ia terminar a
noite na 2ª Esquadra ou era acordado de madrugada para prestar
esclarecimentos ao radialista Cancã. Todos os estudantes eram orientados a
portarem carteira de estudante, principalmente os que estudavam a noite.
Qual o pai de família tinha preocupação de ir buscar a filha à noite em
qualquer estabelecimento de ensino em Bissau? Não precisava! A caminhada
noturna com amigas ou namorado era sua segurança.
-
No Korda Sintidu – era
programa de grande audiência do radialista Cancã. Ele tinha um jeito
particular de interrogar os bandidos ou àqueles que ficavam à margem da lei.
Esse programa era muito bom, porque quem tinha cara limpa não aparecia nesse
programa, mas todo aquele que gostava do que é dos outros, Cancã ganhava-o
no dia seguinte na emissora, com perguntas e chacotas que o povo gostava de
escutar.
-
As discotecas – lugares
prediletos dos jovens de Bissau, que só voltavam para casa de madruga e
satisfeitos. Não havia preocupação com a bandidagem, até os cooperantes
faziam parte e não receavam exibir suas fortunas ganhas nos serviços que
ofereciam a Guiné-Bissau, nas discotecas. Gastavam-nas, nas badaladas que
Bissau oferecia à noite.
-
Hoje, como está o nosso
sistema de segurança? Avançamos ou recuamos? Sua análise e sua resposta são
importantes!
Saúde:
-
Hospital de Canchungo –
graça à cooperação chinesa, o hospital dessa cidade foi erguida. Foi um
alívio para a população de Cacheu, Bula, São Domingos e outras cidades
próximas. Os médicos chineses fizeram um bom trabalho, muitas doenças e
outras pragas foram combatidas.
-
Hospital Simão Mendes –
quadros recém formados de Cuba, da ex-União Soviética estiveram lado a lado
com os médicos russos e cubanos dando assistência a nossa população. A
formação de enfermeiros a partir do próprio Hospital Simão Mendes cobria
lacunas manifestadas por falta de profissionais. Posteriormente veio a
Faculdade de Medicina que tinha como papel principal formar os nossos
profissionais a partir de Bissau, estes, portanto, na última etapa do curso
podiam fazer suas residências em Cuba.
-
Hospital de Bafatá –
médicos russos fizeram um bom trabalho nessa unidade. Foi durante o Governo
do Senhor Malam Bacai Sanha, actual candidato às Presidências 2009. Não se
queixava muito da falta de atendimento e de medicamento. Os profissionais
voltados da Rússia faziam parte da equipe médica, assim como, percebia-se
também um número suficiente de enfermeiros em suas unidades.
-
Hoje, como está o nosso
sistema de saúde? Avançamos ou recuamos? Sua análise e sua resposta são
importantes!
Limpeza urbana:
-
Cidade de Bissau – outrora
considerada uma das cidades mais limpas da Costa Ocidental de África, hoje
sua fisionomia mudou e sua beleza que chamava atenção dos visitantes, perdeu
brilho na ornamentação de seus prédios, nos cuidados com suas ruas e
passeios.
-
A Câmara Municipal – ela
tinha funcionários muito comprometidos e cujas vassouras davam o luxo de
acordar os moradores de casas próximas as calçadas, para mais um dia do
batente. Os companheiros da madruga geralmente eram os padeiros. Um ou outro
padeiro oferecia um pão na madrugada para acalmar o bicho que atormentava o
estômago do trabalhador da câmara. No final de cada expediente as ruas de
Bissau eram de total agrado. Sem acumulo de lixos e outras coisas mais.
-
Matadouro de Bissau –
carcaças de boi, excrementos, peles que eram jogados a céu aberto, eram
pratos do dia dos nossos “djugudés”. A falta de empenho por parte das
autoridades competentes gerava focos para criação de várias pragas. Se tudo
isso fosse levado em consideração e algumas providências fossem tomadas para
dar um destino próprio a esses elementos citados acima, e que não passam de
pragas, muitas doenças poderiam ser evitadas.
-
Hoje, como está a nossa
limpeza urbana? Avançamos ou recuamos? Sua análise e sua resposta são
importantes!
Desporto/Cultura:
-
Nossa juventude – encontrou
no desporto a fuga da pobreza. Muitos se revelaram e tiveram seus
passaportes carimbados para clubes portugueses. Temos o Samuel, que se
revelou no Benfica de Portugal por uma boa temporada. Seguindo a ele, muitos
outros jogadores fizeram esse caminho. Na inauguração do Estádio 24 de
Setembro na Sacor, tivemos participação de vários jovens cedidos por times
portugueses para jogar na Seleção da Guiné-Bissau e enfrentar outros tantos
times que participaram do torneio, por exemplo: Cabo Verde, Senegal,
Guiné-Conacry, etc.
-
Grupo Cultural Nossa Pátria Amada
– representou a Guiné-Bissau até na China! Como se deu tanto valor à cultura
durante o período que se seguiu à independência! Grupos musicais diversos
surgiram nos finais da década 70 (Mama Djombo, Cobiana Djaz, Tchifre Preto,
N'Kassa Cobra, Capas Negras, etc.), muitos grupos prosperam, mas todos que
se sucederam bem estão no estrangeiro.
Observação: Este meu trabalho propõe uma análise de cada um dos
nossos colaboradores em relação a esses diversos assuntos, que sem
dúvida são importantes para análise crítica das falhas verificadas
ao longo dos tempos que se seguiram à nossa independência, nos
renomados sectores que geram empregos e fortalecem a economia
nacional.
Um
forte abraço!
Samuel Vieira |
*
Analista de
Sistemas
VAMOS CONTINUAR A
TRABALHAR!
Associação
Guiné-Bissau
CONTRIBUTO
associacaocontributo@gmail.com
www.didinho.org
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