Campos opostos
Por: Fernando Casimiro (Didinho)
23.04.2006
Hoje faço questão de partilhar com todos quantos costumam visitar o site, um comentário recebido sobre o meu artigo intitulado "A dupla de generais".
Comentários recebo sempre, uns a favor, outros contra, dependendo da análise e interpretação de cada um. Num caso ou outro, respeito sempre e, se achar que devo ser mais esclarecedor, não hesito em fazê-lo a quem mo solicitar.
O comentário que me chegou hoje, da autoria de Sidónio Pais Quaresma, músico guineense radicado há vários anos em França, podia ser simplesmente mais um comentário, que tanto podia servir para me elogiar e por isso, me encorajar, ou para me contrariar nos meus argumentos, fazendo-me repensar sobre os meus pontos de vista. No entanto, este comentário, no seu essencial, trouxe-me sugestões e insinuações de como eu devo pautar a minha forma de abordar os assuntos da Guiné-Bissau... Paralelamente a isso, o autor do comentário julga que devia-lhe pedir informações e conselhos sobre o tema que abordei, no que ele chama de "interesse comum" e que, na verdade não consigo entender o significado!
Este comentário trouxe nas entrelinhas considerações de quem realmente não me conhece bem!
Como costumo dizer: O medo priva-nos da liberdade! E eu, felizmente, não tenho medo e sou responsável pelos meus actos! |
Por: Fernando Casimiro (Didinho)
23.04.2006
Caro Sidónio,
Muito obrigado pelo comentário ao meu artigo de opinião.
Não vou contrariar a sua análise em relação ao meu artigo, pois que, não se trata de um debate de ideias de parte a parte sobre o tema do referido artigo e, muito menos, da síntese geral da problemática da Guiné-Bissau.
Porém, gostaria de lhe deixar aqui uma visão minha em relação ao que é o debate de ideias, para que, compreenda melhor a forma como eu, Didinho, encaro a questão.
“Quando expomos opiniões nossas, a apreciação na sua forma crítica ou elogiosa por parte de quem as lê e interpreta é sempre motivo de análise, ponderação e consideração para quem escreve. Quem escreve precisa ler e ouvir comentários aos seus artigos. Precisa saber como é que a sua opinião é recebida por outras sensibilidades e, acima de tudo, conseguir detectar o grau de assimilação de quem está do outro lado. Quem escreve em jeito crítico como é o meu caso, não espera nem pretende unanimidade na forma de pensar dos que o vão ler. O espírito do debate de ideias é essencialmente o de sensibilização! Sensibilizar para provocar reacções positivas a nível das capacidades de reflexão e acção das pessoas. Quem escreve, lança ideias para que em vez de uma cabeça, milhares de cabeças se debrucem sobre os mais variados temas e assim, milhares de pontos de vista ajudarem melhor nas tomadas de decisão e na forma de encarar os problemas com que as Sociedades e o Mundo se deparam.”Fernando Casimiro (Didinho) |
Por outro lado, gostaria de lhe dizer que, mesmo quando não concordamos com a reflexão ou análise de alguém, não devemos pensar (como é o seu caso) que a nossa interpretação é a mais acertada e, por isso, sentirmo-nos no dever de insinuar princípios ou opções de análise, de reflexão, de forma de escrever, de visão das coisas, a quem se sente à vontade para desabafar o que lhe vai na alma (o meu caso) e que talvez cometa o simples pecado de partilhar as suas ideias e mágoas com pessoas (…) à partida conotadas com regimes e não com o país…como parece ser o seu caso...
Estamos de lados opostos na visão que temos em relação ao que a Guiné-Bissau precisa. No entanto, respeito a sua forma de pensar, os princípios e valores que defende. Respeito igualmente a forma como compõe as suas músicas.
Espero contudo que, respeite igualmente a minha forma de pensar, os princípios e valores que defendo e a forma como escrevo o que me vai na alma. Claro está que não quero dizer com isto, que não pode ter leituras contrárias ao que escrevo e muito menos que estou para além da crítica.
Saiba que a liberdade de expressão, no verdadeiro sentido do termo, é o “fusível” da caracterização dos Estados hoje em dia.
Lamento que o Sidónio vivendo em França há muitos anos ainda não tenha compreendido o significado do termo liberdade.
Cumprimentos
Fernando Casimiro (Didinho)
De:
sidonio.quaresma [mailto:sidonio.quaresma@wanadoo.fr]
Enviada: domingo, 23 de Abril de
2006 12:48
Para: didinhocasimiro@yahoo.com.br
Assunto: Re:
A DUPLA DE GENERAIS
Olá Cuca.
Diz-me o que pensas deste resposta, e se devo responder à todos ou simplesmente ao Didinho. Penso que por razões de ética, seria melhor eu responder-lhe isoladamente.
Mostra-o também à Aparecida...
De: Sidónio Quaresma
23.04.2006
Olá Didinhocasimiro.
Lamento muito ter que responder sobre o tema aqui desenvolvido.
Acho bem que a comunicação entre os Guineenses se desenvolva mas de maneira productiva. O contrário ou o pior, não ajudará ninguém e pode mesmo ser prejudiciável à sua fonte.
Muitas das tuas informações têem como efeito criar o pânico e assentar psychoses. Penso e espero que a tua intenção de fundo não é essa. Se for de facto o caso, revê a forma como expões tuas opiniões a volta dos temas, e sobre tudo como associas as pessoas aos teus actos.
Estamos tratando de uma comunidade e/ou de um povo (na diaspora e mesmo a autoctona), que passou por fases muito delicadas e que hoje precisa mais de sussego do que de agitações.
Por outro lado nós Guineenses precisamos de aproximação, de coesão, de um espaço de consulta de diàlogo e de concertação com vistas à obtenção de compromissos fundadores e construidores de uma nova sociedade que deve renascer e se inspirar, dos nossos usos e costumes ancestrais que nos foram legados pelas nossas História e realidades sociológicas = NOSSA CULTURA. Ela deve resancer e não abortar mais uma vez. Ė nossa missão, cada um de nós e todos juntos na coesão construida da diversidade, que enfrentaremos com êxito, as difficuldades e os desafios.
Em principio, este dominio é reservado (e estou falando da legalidade) aos especialistas acreditados pelas instituições competentes. Todos os actos fora deste campo, podem ser atingidos pelas acções judiciàrias. Pessoalmente, penso que isto é dispensável e profundamente doloroso se viesse a acontecer a um simples Guineense que com muita vontade e desponibilidade procura ingénuamente servir seus compatriotas e Païs.
Tratando-se do caso da ala dicidente dos independentistas do MLDC que se insurgiram no território Nacional, maltratando e vandalizando nosso patrimonio, parece-me a mim, mais uma vez (e sem espirito bélico, pelo contrário embibido do sentido do diàlogo e da concertação, como aliàs, disse no paràgrafo precedente) que é do dever dos nossos governantes a tomada de medidas adequadas para a reposição, repreenção, e protecção dos seus cidadãos e bens públicos. E isto, no principio da coesão Nacional “ropa susso na caça kita labado, y kana bantaba”. E isso foi feito, pois que as forças políticas na sua maoria optram pelas medidas tomadas. O Presidente NINO estava de viagem entre Portugal e Cabo Verde, e eu encontrava-me por acaso em Bissau, por razões privados.
Pelos vistos, não temos a mesma visão sobre a aproximação e tratamento do problema. Mas isto não entrava nada, pelo contrário, se me tivesses pedido opinião antes da tua “publicação” ter-te-ia informado e aconselhado, no interesse comum.
Eu terei muito prazer em ler-te mesmo no correio electrónico grupado mas, se a informação é tratada com imparcialidade objectivismo e intenção de congregar e construir. Se for o contrário, jà não adero nessa lógica.
Acredita sinceramente caro Didinho, quero preservar nossa amizade e estima, como tenho feito ao longo de toda a minha carreira musical. Convivi e ainda convivo com amigos de opiniões diametralmente opostos à minha, amigos que entre eles mesmos se recusam, mas dos quais eu sou o denominador comum. Meu fundo de músico cantor, ajuda-me muito a compôr na diversidade e mesmo da divergência. E é isto que eu gostaria de estabelecer e desenvolver contigo. Reitéro que tua amizade e estima me são preciosas.
Penso ter-te dito uma vez que para mim, nossa alternativa, a solução aos bloqueios vincendos, reside na CULTURA e não nas Finanças, Saude, Educação. Todas estas áreas sem uma forte dose de CULTURA sustentada por uma profunda vontande politica, estão condenadas ao abismo.