Canhacracia

 

 

 

 

 

 

 

 

Por: Djabú Lequel

 

 

22.11.2006

 

O Ministro das Pescas e da Economia Marítima teria reagido nalguns órgãos de comunicação social a propósito de uma notícia que dava conta de reuniões entre o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas e um grupo de indivíduos que supostamente estariam na posse de certos documentos comprometedores da sua gestão.

 

Abdou Mané denunciava assim publicamente as pressões de que estaria a ser alvo por parte desses indivíduos.

Segundo o Ministro das Pescas, esse grupo exigia em nome do «trabalho» que alegadamente teriam feito (que o Ministro desvaloriza) para pôr Nino poder, contrapartidas «ilícitas» como o desconto de títulos nas pescas e canhás.

 

Mas as denúncias não ficariam por aqui. Abdou Mané vai mais longe, insinuando estarem por detrás preconceitos étnicos.

 

Mas como começa este braço de ferro que esta a tornar-se numa hilariante novela da praça de Bissau?

Esse grupo de indivíduos arrogam-se de terem posto (um deles, utilizou a expressão terem imposto, de imposição) Aristides Gomes e seu governo no poder, dai que invocam a sua legitimidade moral para solicitar a Nino Vieira e a Tagme Na Waie a cabeça deste ou daquele ministro.

 

Na génese deste braço-de-ferro entre o Ministro das Pescas e o Grupo de Apoio a Nino Vieira esta a «Canhacracia».

 

Enquanto fénomeno social, a canhacracia é antiga estando bem ramificada no tecido social desde os tempos mais remotos.

 

A canhacracia traduz-se no acto de dar ou prometer dinheiro ou vantagem patrimonial desviando para tal recursos financeiros públicos ou seja fundos do Estado, em troca de favores prestados ou serviços relevantes.

 

Ao que parece, há um conjunto de pessoas, verdadeiros parasitas, que nada sabem fazer se não sentarem no Baiana, antro da incontinência verbal, a contar mentiras e a cogitar tramóias políticas;

 

Acérrimos defensores das correntes de «tchonalmente» esse bando de incompetentes é igualmente conhecido pelo seu apego especial aos títulos do Tesouro Publico.

 

Normalmente, aparecem sob a veste de fornecedores de bens e serviços do Estado, sobrefacturam as vendas ou serviços ou pura e simplesmente falsificam despesas sem nenhuma realidade orçamental.

 

A mão-de-ferro do Governo de Carlos Gomes levou à sua esterilização, mas não infelizmente como todos desejávamos, à sua eliminação.

 

Desorientados com «fecho da torneira» apegaram-se a Nino Vieira como quem pega numa tábua de salvação. Nem a cantiga do Iva & Ichi, esmoreceu os ímpetos vorazes deste grupo, cuja principal arte é o “mama taku”.

 

Com a ascensão ao poder de um governo fiel e conivente às suas praticas estavam então reunidas as condições para a reinstalação da canhacracia para gáudio de todos.

 

Nos primeiros tempos, tempos de fartura, os cofres públicos estavam cheios (fundos deixados pelo governo de Carlos Gomes) o casamento era perfeito e a sintonia total.

 

Mas como o «taku» é um bem «fungível» quando começou a escassear ou melhor quando começou a chover só de um lado, as comadres zangaram-se.

 

O Ministro das Pescas, inicialmente inseguro nas suas funções, ía distribuindo canhás aos baloberos da Rádio Pindjiguiti e do Baiana só que depois, convenceu-se da sua força, afinal, nunca nenhum ministro capturou 50 barcos em menos de 3 meses.

 

O caçador dos piratas do canal Geba considerando-se invencível começou a prescindir dos seus comparsas que lhe guindaram ao poder.

 

Por outro lado, o taco já não chegava para cobrir as suas novas necessidades voluptuosas (viagens constantes ao estrangeiro que lhe valeram a alcunha de Vice­Ministro dos Negócios Estrangeiros, além de outros gostos e gastos refinados».

 

Para que preciso de dar canhás se sou tão poderoso que nem os Ministros da Defesa e das Finanças se atrevem a desafiar-me?” Perguntava olhando-se para o espelho.

 

Então Abdou Mané decidiu deixar de dar canhás.

 

O resto da história já todos conhecemos, o descontentamento por parte dos canhalopitecos foi letal não tardando a se fazer sentir.

 

Munidos de documentos que provariam a gestão obscura, desvios de receitas, favorecimento e negócios ilícitos envolvendo não se sabe bem se é compra ou se é leasing de vedetas, ou simplesmente «aluguer» de embarcações de fiscalização e somas principescas de perdiens e despesas de representação foram pedir Justiça a Tagme Na Waie.

 

Mas como dizia alguém a procissão ainda vai no adro

 

Nos próximos episódios vamos trazer mais canhás sobre este escândalo que se abateu sobre o Ministro das Pescas e conhecer o desfecho sobre esta guerra de compadres e comadres.

 

Destaques dos próximos capítulos:

 

O Ministro das Pescas em nome do culto da transparência e porque sente por ser filho de boa gente, entregará o dossier à Procuradoria-Geral da República contendo as seguintes peças numeradas como se faz no tribunal:

 

Doc: 1              Cópia do Jornal (Diário de Bissau, Nô Pintcha, Gazetas de Noticiais, Kansaré) contendo o anúncio de concurso público internacional da compra, leasing ou aluguer de vedetas;

 

Doc: 2             Cópia do ofício solicitando a assistência técnica da Direcção-Geral dos Concursos Públicos;

Doc: 3             Cópia da Acta da Comissão de Apreciação do Ofertas dos Postulantes e respectivas propostas negociais;

 

Doc: 4             Cópia do despacho do Ministro homologando a proposta da Comissão de Apreciação;

Doc: 5                        Cópia da Resolução do Conselho de Ministro conferindo autorização especial ao Ministro das Pescas para realizar a despesa, fora do orçamento e do programa de referência celebrado com o FMI ;

Doc: 6             Cópia da instrução dada pelo Ministro das Pescas ao BCEAO para, por débito da conta da FISCMAR, transferir uma certa quantia a favor da empresa vencedora do concurso internacional.

 

A seguir, o Ministro das Pescas fará um desmentido público. Reconhecerá que, dada atrapalhação (não do macaco da Indochina) meteu os pés pelas mãos falou mas não disse (nada), e que por lapso referiu-se à utilização da conta do Projecto de pesca no BAO para fazer a transferência.

 

Mas que diabo, como é que podia se ter utilizado essa conta se ela nada tem a ver com o negócio.

 

Que grande canhabalacho! ! !

 

Djabú Leguel

 

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