DE ONDE VIM?

 

Por: Edson Incopté *

 

02.07.2008

 

 

Uma pergunta que faço constantemente a mim mesmo. Graças a Deus tenho tido respostas até hoje e espero tê-la sempre. Espero nunca esquecer de onde vim, porque vim e o que vim fazer/buscar.

Mas será que a juventude africana que reside em Portugal sabe de onde veio, porque veio ou do que anda à procura? Creio que, infelizmente, uma grande parte dos jovens africanos residentes em Portugal não saberia responder a estas perguntas. A mesma juventude não tem a mínima noção do que quer do presente ou para o seu futuro quanto mais para o seu continente ou o dos seus pais.

Mas nem esta falta de noção sobre o que se quer da vida explica o que os jovens africanos fazem uns aos outros.

Morte de jovens africanos e filhos dos mesmos passou a fazer parte do quotidiano de quem vive em Portugal, principalmente em Lisboa. A pergunta é: mortos por quem e por quê?

Pelos próprios irmãos africanos. E, as razões, essas são normalmente as mais lerdas possíveis. Telemóveis, bonés, leitores de Mp3, ténis, etc. …   

 

Para quê tamanha estupidez? Para quê carregar no coração um ódio que não se sabe por quem? Será que o que sofremos dos outros não foi o suficiente e chegamos ao ponto de maltratarmos a nós mesmos? A resposta a esse sofrimento tem que ser na base da luta pela igualdade e não em exibirmos a nossa ignorância matando nossos irmãos. Será que somos tão ignorantes que ainda não reparamos que a única coisa que a polícia diz em casos de mortes de jovens negros é: ajuste de conta e, fica por isso mesmo.

É muito triste olharmos para os nossos pais que atravessaram oceanos à procura de uma vida melhor para nós, dando no duro dia e noite chegando a passar mais horas a trabalhar do que connosco, o que não é de certeza do agrado deles, fazem-no por necessidade de nos darem uma vida melhor do que aquela que eles tiveram exigindo de nós uma única coisa: Estudar! Para o nosso próprio bem. Mas nem isso às vezes fazemos, não por falta de capacidade, mas sim de vontade da nossa parte. Porque a capacidade já todos sabemos que temos as mesmas que qualquer outro ser humano. Não existe, no entanto, muita vontade de a pôr em prática, o que é absolutamente incompreensível! Assim como é incompreensível como cabe na cabeça de uma pessoa que a pele negra significa confusão. É triste mas é o que temos na sociedade africana em Portugal! Parece que por se ser africano ou descendente de africanos temos que ser obrigatoriamente revoltados; temos que arrumar confusão em todo o lado; temos que esfaquear ou até, matar alguém para provarmos que somos “pretos” de verdade (é patético, eu sei, mas acontece).

 

Ninguém é mais ou menos africano por fazer barbaridades. É verdade que não somos só nós, jovens africanos, que cometemos esses actos indignos nas ruas de Portugal, mas a verdade é que nós é que temos o rótulo. Eu lembro-me de ter sido seguido uma série de vezes ao entrar nos supermercados pelos seguranças. Lembro-me do caso de um amigo que na sua primeira aula de condução o instrutor lhe perguntou, como é normal, se já tinha dirigido um carro, ao que ele respondeu não. O instrutor olhou para ele e sorriu e disse que não acreditava. A conversa ficou por ali, mas todos sabemos o porquê do riso do instrutor e porque é que ele não acreditou, ou seja: por ser um africano, já deveria ter assaltado um carro.

Bem… essas coisas, graças a Deus, não me afectam o percurso na vida, muito pelo contrário, alimentam o meu desejo de ser igual, sendo diferente de qualquer um.

 

Caros irmãos, camada jovem africana, vamos tratar de tirar o rótulo de maus da fita que na verdade não nos pertence. Paremos de fazer mal a nós mesmos com as estúpidas guerras de bairros. Já chega de boicotar o futuro que somos nós, jovens!

 

* 20 anos de idade, estudante do Curso Profissional de Informática de Gestão

 


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