O
Dia Internacional da Mulher
Filomena Embaló
fembalo@gmail.com
08.03.2010
Comemora-se
este ano o centenário da adopção do "Dia Internacional da Mulher",
festejado hoje, a 8 de março, pelos quatro cantos do mundo.
Tradicionalmente esta data constitui uma ocasião para a
reivindicação da igualdade de direitos da mulher na sociedade, bem
como para um balanço sobre as conquistas da luta pela sua
emancipação.
A
comemoração deste dia tem raízes nas manifestações de mulheres no
início do século XX nos Estados Unidos e na Europa, que reclamavam a
igualdade de direitos, melhores condições de trabalho e o direito de
voto.
Foi em agosto de 1910, durante a segunda conferência da
Internacional Socialista das Mulheres, realizada em Copenhaga, que,
sob proposta da militante feminista alemã, Clara Zetkin, foi
adoptada a ideia de um "Dia Internacional das Mulheres" , sem que no
entanto tenha sido fixada uma data.
A
data de 8 de março deve-se a Lenine, que em 1921, por ocasião da
comemoração do 4° aniversário do início da Revolução Russa (8 de
março de 1917), decretou esse dia do ano como o "Dia Internacional
da Mulher". Ele homenageava assim as operárias de S. Petersburgo
que, manifestando em 1917 contra o aumento do custo de vida e pelo
regresso a casa dos maridos enviados para as frentes de combate,
contribuiram para a queda do regime tsarista, com a abdicação de
Nicolau II a 15 de março do mesmo ano.
Em 1924 a
China passou a celebrar este dia e a partir de 1946 os países de
Leste comemoravam nele o "Dia dos Direitos da Mulher". Foi mais
tarde que no mundo ocidental se passou a comemorar o 8 de Março. Em
1971 o dia passou a ser celebrado no Quebeque, as Nações Unidas
oficializaram-no em 1977 e a França conferiu-lhe um estatuto oficial
em 1982, sob a presidência de François Mitterrand.
A intenção de se consagrar um dia à
Mulher nasceu de uma boa intenção : Destacar a importância da mulher
e do seu papel na sociedade e promover a sua luta pela
emancipação. Nestes cem últimos anos houve sem dúvidas grandes
progressos na condição feminina, progressos esses conquistados por
longos e penosos combates da mulher em todas as frentes. Um combate
permanente contra o conservadorismo da sociedade que continua a
fragilizar a sua situação, que em muitas regiões do globo volta a
regredir.
Se do ponto de vista teórico o discurso
oficial é em geral politicamente correto, promovendo-se até a data
do 8 de março, na prática constata-se uma resistência da sociedade à
evolução do estatuto da mulher.
Como apreender então a comemoração do 8
de março neste contexto? Será uma forma para "dar uma boa
consciência" à sociedade, uma vez que nos restantes dias do ano, a
mulher está sujeita às maiores injustiças e discriminações sob o
olhar condescendente das próprias autoridades? …
O reconhecimento do papel da mulher não
deve de modo algum ser o facto de um dia, pois é quotidianamente,
durante os 365 dias do ano, que ela participa na sociedade, como
mãe, como esposa, como produtora de bens e serviços e, por que não,
como elemento de coesão da própria comunidade.
Por essa razão parece-me esquizofrénica
e até mesmo hipócrita essa duplicidade de atitude da sociedade para
com a mulher. De que vale exaltar os seus valores durante um dia do
ano, quando nos restantes a maioria das mulheres é reduzida à sua
insignificante condição de sub-ser humano? De que vale proclamar os
seus direitos durante um dia do ano, se nos restantes a maioria
delas é obrigada a abdicar dos direitos que lhes reservam as
constituições dos respetivos Estados para seguir o caminho que lhes
é apontado pelos pais, pelo marido ou pela família?
O 8 de Março faria, sim, sentido se nos
restantes dias do ano houvesse uma atitude permanente em prol da
garantia dos direitos da mulher como ser humano, isto integrado numa
política de desenvolvimento da sociedade no seu todo, homens e
mulheres, pois a condição feminina atual não é mais do que o
resultado do estado de desenvolvimento das próprias sociedades. Por
outras palavras, a libertação da mulher passa pela libertação da
sociedade da ignorância e do obscurantismo que caracterizam ainda
boa parte das sociedades humanas, nomeadamente no nosso continente.
O que precisamos é de fazer com que
cada dia que nasça seja um dia de certezas na conquista dessa
liberdade para a sociedade no seu conjunto, liberdade essa sem a
qual será vã toda e qualquer luta pelos direitos e emancipação da
Mulher!
ESPAÇO PARA
COMENTÁRIOS
VAMOS CONTINUAR A
TRABALHAR!
Projecto
Guiné-Bissau:
CONTRIBUTO
www.didinho.org
|