DOIS DEDOS DE CONVERSA COM FILINTO DE BARROS*
Filinto de Barros |
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Filinto de Barros, intelectual guineense, teve a iniciativa de me manifestar o seu desacordo quanto ao conceito de ditadura que utilizei no recente artigo "A INDIFERENÇA QUE VAI FAZENDO A DIFERENÇA" .
Filinto de Barros terá respondido por se sentir beliscado com a chamada de atenção que fiz à intelectualidade guineense em particular e ao povo guineense em geral.
Fez bem em ter respondido e deixado os seus pontos de vista para se dar a conhecer melhor.
Filinto de Barros, nas duas trocas de mensagens desenvolvidas confirmou, sem dar por isso, a razão de ser do próprio artigo "A INDIFERENÇA QUE VAI FAZENDO A DIFERENÇA" .
A atitude de Filinto de Barros é no entanto, positiva! Temos que conversar, debater, discutir a Guiné-Bissau. Só assim haveremos de encontrar respostas para os nossos problemas.
Deixo à vossa consideração o teor das mensagens.
A 1ª mensagem de Filinto de Barros From: "filinto barros" <filintob@hotmail.com> >To: didinhocasimiro@hotmail.com >Subject: RE: A INDIFERENÇA QUE VAI FAZENDO A DIFERENÇA Date: Thu, 24 Aug 2006 09:53:53 +000 sinceramente nao compreendo o seu sentido da ditadura. um presidente que ganha as eleiçoes vira se ditador! um governo que consegue ver aprovado o seu programa na mesma assembleia que aprovou anteriormente o governo do Carlos Gomes Jr. vira se ditadura! O importante e fazer cumprir as regras democraticamente aceites por todos pouco importando quem e quem. Na democracia e preciso saber se perder! filas A minha 1ª resposta a Filinto de Barros From: "FERNANDO CASIMIRO" <didinhocasimiro@hotmail.com> >Reply-To: fernando.casimiro@mail.telepac.pt >To: filintob@hotmail.com >Subject: RE: A INDIFERENÇA QUE VAI FAZENDO A DIFERENÇA >Date: Thu, 24 Aug 2006 12:49:37 +0100
Em democracia devemos respeitar opiniões divergentes, é o que eu faço, mas julgo que o saudosismo imbuído de oportunismo continua a caracterizar fortemente a sociedade guineense. Deixe o egoísmo de lado e pense noutros guineenses, não privilegiados como o senhor e os poucos que tudo têm, e que sentem na pele os efeitos da ditadura. Se os resultados das eleições em África simbolizassem a democracia, então não haveria défice democrático em África! Compreendo o seu raciocínio como sendo uma postura de quem vive para servir o poder, ainda que reconheça as suas capacidades profissionais e intelectuais. Não se deixe manipular. Pense pela sua cabeça, como costumava sugerir Cabral! Cumprimentos Didinho |
A contra- resposta de Filinto de Barros -----Mensagem original-----
pelo que constato voce nao me conhece. Para sua informaçao desde 1994 que deixei a administraçao publica e partidaria. De 1994 a 1998 trabalhei com os americanos na USAID. De 1999 ate hoje trabalho com os europeus na EU. Eu nunca servi o poder, fui poder o que e diferente! ja agora, na sua optica de servir poder, qual o poder que serve? filas
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Caro Filinto de Barros,
Conheço-o o suficiente para lhe dizer que estou a par das informações que me forneceu quanto às suas actividades.
O Filinto era poder (?) como fez questão de referir ou servia alguém que era o senhor poder que todos sabemos?
O Filinto por acaso passou ao lado dos fuzilamentos de figuras como Paulo Correia, Viriato Pã, Pedro Ramos e tantos outros... Foi o poder quem matou ou mandou matar essa gente, ou foi o povo guineense que os sentenciou, pode responder-me? É que ainda hoje não há culpados oficialmente...
As perseguições, prisões, torturas e assassinatos de guineenses foram praticados a mando de que poder? Do poder denominado POVO GUINEENSE, ou do poder a que o Filinto também pertencia?!
O Filinto que discorda do termo ditadura que eu utilizo, acha que o poder a que serviu, pois o Filinto, contrariamente ao que diz nunca foi poder, poder-se-ia (á) considerar de democrático?!
Onde estava o Filinto estes anos todos para defender o poder que serviu até 1994?
Quando Nino Vieira foi derrubado em 1999, os que hoje o defendem, como é o caso do Filinto, o que fizeram para contrariar a opinião pública nacional e internacional sobre as acusações contra o seu regime?
Na Guiné-Bissau trabalhar para organismos internacionais tem as suas vantagens e o Filinto continua a ser um privilegiado que julga que o país está bem à imagem do estatuto de privilegiado que o Filinto tem.
A Guiné dos guineenses não se resume aos beneficiários das várias governações que delapidaram o tesouro público guineense.
A Guiné dos guineenses não se resume aos que trabalham para os organismos internacionais no próprio país e, portanto, privilegiados, ainda que alguns por mérito, mas nem por isso deixando de ser privilegiados.
A Guiné dos guineenses deve ser um TODO onde a LIBERDADE, A JUSTIÇA E A SOLIDARIEDADE devem ser os princípios de expansão para a construção de uma sociedade com direitos, mas também com deveres repartidos em igualdade de circunstância!
O Filinto de certeza que sabe o que isso significa. Outros tantos que pensam e agem como o Filinto também o sabem, mas infelizmente, passaram a ser
marionetas e defensores da ditadura! Para terminar estes dois dedos de conversa, digo-lhe que o poder que sirvo é a GUINÉ-BISSAU!
Eu, Fernando Casimiro (Didinho), tenho como única referência a seguir na Guiné-Bissau o Amilcar Cabral!
E é o testemunho de Cabral que tento transmitir aos mais jovens através da interpretação que faço dos ensinamentos deixados.
Procure conhecer-me primeiro, depois entenderá melhor que o meu compromisso é para com a Guiné-Bissau e não com o sujeito A, B, C etc.
Recomendo-lhe a leitura das minhas reflexões!
Cumprimentos
Fernando Casimiro (Didinho)
25.08.2006
* Filinto de Barros é actualmente Responsável do Fundo Europeu para o Desenvolvimento (FED) na Guiné-Bissau.
Kikia Matcho. O desalento do combatente Filinto de Barros Filinto de Barros nasceu em Bissau a 28 de Dezembro
de 1942. Fez estudos secundários no Colégio Nuno Álvares, em Tomar, e
estudos superiores na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra e no
Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa. Depois da
independência da Guiné-Bissau foi embaixador em Lisboa, entre 1978 e 1981.
Na Guiné-Bissau exerceu vários cargos políticos, entre os quais ministro da
Informação e Cultura (1981-1983), ministro dos Recursos Naturais e Indústria
(1984-1992) e ministro das Finanças (1992-1994). Kikia Matcho, sua
primeira obra literária, é, nas palavras do autor, um pequeno exercício
de ficção. Nem história, nem sociologia, nem etnologia, nem política,
tão-somente uma abordagem que se pretende dinâmica e existencial do processo
de síntese sociocultural de um Povo. Fonte: Editorial Caminho |