Dois mil e cinco
Filomena Embaló
fembalo@gmail.com
01.01.2005
Foi um ano difícil o de 2004.
Aliás como têm sido todos, nos últimos tempos. Só que no fim de cada um,
pensando que pior do que aquele não poderá haver outro, desejamo-nos,
esperançadamente, como se com isso pudéssemos esconjurar o mau agoiro, que o
melhor dele seja o pior do seguinte... E, de ano em ano, despertamos com
pesadelos cada vez maiores, porque cada crise que aparece, por mais banal que
possa ser, recai sobre uma população cada vez mais fragilizada, mais pobre, mais
desprotegida e mais desalentada, por não ter tido tempo de se reconstituir das
precedentes.
Há povos no mundo que sofrem de
catástrofes naturais, contra as quais dificilmente podem lutar. No nosso país,
que tem tido o privilégio de escapar às fúrias da natureza, produzem-se
catástrofes, com a periodicidade necessária para que os seus efeitos possam ser
comparados aos do maremoto... Será uma forma de se mostrar que os seus cidadãos
são solidários com os que sofrem das calamidades naturais?...
Tenho dificuldades em entender
que todas essas convulsões criadas de há uns anos para cá, foram-no no
verdadeiro interesse nacional. Não nego as causas que foram avançadas para
justificá-las. Infelizmente elas eram (e continuam a ser...) bem reais, com
consequências gravíssimas para o presente e futuro do país. Mas ao alinhar-se
golpes atrás de golpes não se estará a agir no mesmo sentido que os governos
abatidos? Se é realmente o interesse nacional que move essas “nobres intenções”,
será difícil entender-se que o país assim não poderá prosperar, por simplesmente
não poder ter tempo de produzir?
Quando se quer agir em prol do
bem estar nacional, no meu ponto de vista, deve-se escolher a via que não vá
provocar o efeito contrário. Queremos combater a corrupção? Muito bem, mas então
instalemos a ordem e a estabilidade no país e criemos condições para que cada um
possa trabalhar em paz e com
confiança no seu futuro! Queremos melhores salários e melhores condições de
vida? Muito bem, então arregacemos as mangas e
produzamos para além do nosso
sustento, para que possamos acumular riqueza e investi-la no nosso bem estar
pessoal.
Não há milagres, nem receitas
milagrosas, para que o país possa sair desse marasmo, dessa letargia moribunda
que o arrasta, dia a dia, para uma situação sem retorno. Não há ajuda, nem
solidariedade internacionais que nos possam valer, por substanciais que sejam. A
solução está em nós, na nossa vontade de querermo-nos entender, no nosso
trabalho quotidiano e na nossa
abnegação em querer fazer deste país o nosso motivo de orgulho e uma terra de
Sabura!
Não vou desejar que o melhor de
2004 seja o pior de 2005... Seria começar mal o ano! O que desejo, sim, para
2005, é que haja uma tomada de consciência nacional de que o futuro da
Guiné-Bissau depende, única e exclusivamente, daquilo que os guineenses querem
que ele seja. Que compreendam que um país não pode ser unicamente representado
por um Hino e uma Bandeira, mas que por detrás desses símbolos deve haver uma
Nação unida, empenhada no seu desenvolvimento pelo
trabalho próprio, vivendo em paz
e sentindo que poderá acreditar na sua vanguarda e no seu futuro. Aí sim,
poderemos desejar, em cada passagem de ano, que o melhor do que passou seja o
pior do vindouro...
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