Um Grito de alerta!!!!!!!!!
Por: Zinda Pinto
Lisboa, 11 de Maio de 2004
Nota do editor Dada a pertinência deste tema achei por bem colocá-lo neste espaço. Apesar de o Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO ser apartidário, este artigo não deve ser avaliado pelas referências feitas a um Partido como sendo uma forma de instrumentalização, mas tão somente, um ponto de orientação na busca de soluções positivas para os problemas do país, que, sem margem para dúvidas, começaram pelo Partido em referência. Fernando Casimiro (Didinho) 15.05.2005 |
E se os Guineenses se recusassem a desenvolver-se?
Será que o maior inimigo da Guiné-Bissau são os próprios Guineenses?
A nossa história, o nosso passado e presente obrigam-nos a acreditar que sim, aliás, conduzem-nos a essa conclusão. Por que razão os guineenses têm recusado as vias e os caminhos possíveis rumo ao desenvolvimento?
Esta é a questão com que me tenho confrontado todos os dias, e creio que deve ser a preocupação de todos quanto estimam aquela terra e sonham ainda um dia poder lá viver e não, “ sobreviver”.
Será que desta vez devemos confiar no PAIGC?
Vamos dar o benefício da dúvida!
O PAIGC, um partido histórico que a todos deu a dignidade de um dia sermos um País livre, tem agora, mais do que nunca o dever, repito, o dever de virar a página da história de um povo tão sofredor e martirizado.
Em crioulo diz-se: “Sufridur ta padi fidalgo”!. Então tenhamos
fé e esperança, porquanto tememos que a Guiné Bissau volte a viver os anos em que o PAIGC, outrora respeitado e acarinhado, traiu as expectativas do seu povo, ao cultivar fomentar e promover ao longo das quase três décadas de governação Paigécista uma mentalidade desprovida de valores éticos e morais, uma mentalidade que promoveu um conceito atrofiado do “desenvolvimento”e do “progresso”, em que para se ser um cidadão digno e respeitado tinha de seguir alguns mandamentos tais como os do clientilismo, da corrupção, da impunidade, do desvio de fundos públicos, da intriga, da mediocridade, do favoritismo da vingança, dos abusos do poder, do uso e abuso do património do estado e a da delapidação da coisa pública.
Uma era em que se viam desfilar automóveis do ultimo grito de marcas e modelos, bastando para isso ser-se filho, amigo, amante, primo, marido, sogra ou esposa de quem estava no poder ou próximo dele, enquanto o povo esse continuava a sofrer, com fome, muita miséria e sem salário, apesar dos discursos oficiais bombardearem frases muito na moda como a “boa governação” e a “luta contra a pobreza”, impostas pelos parceiros de desenvolvimento.
Os guineenses apesar de optimistas e crentes da regeneração do homem, temem que se voltem a cometer os mesmos erros da era Paigécista . Se o PAIGC apesar de todas as proezas e valentia de libertação do povo da Guiné do jugo colonial, se recusa a aprender com os erros do passado, e volta a tomar o leme do barco já cansado com muitos furos pelo caminho, furos irreparáveis , apesar de por vezes ultrapassáveis?
Se o PAIGC se recusa a lembrar que o povo da Guiné está cansado e desapontado com promessas nunca cumpridas durante três décadas? Se se recusa a lembrar que promoveu durante a sua “reinança” digo mandato, uma mentalidade já muito enraizada na mente dos guineenses e difícil de se mudar, a da “sede do poder”, do poder, para se sobreviver, em que muitos quadros por vezes capazes e competentes, perdiam a sua dignidade mendigando cargos de chefia e outros, apesar da mediocridade comprovada, teimavam em desempenhar funções de muita responsabilidade, cujo desempenho e prestação, por consequência, não só entravavam a dita ”boa governação” como contribuíam para arruinar a imagem da Guiné-Bissau.
Qual a herança deixada à juventude guineense dos anos 80 e 90? Que referências, que valores morais, éticos deixados e promovidos pelo partido que deu independência ao território guineense? Deu a independência do território e eterna dependência dos seus filhos à ajuda externa?
O que aprenderam as crianças e os jovens guineenses, hoje homens, políticos, intelectuais, empresários, muitos deles falhados? Que recompensa tiveram os antigos combatentes?
A juventude guineense, os jovens guineenses, aprenderam que para ter direito à formação, ( direito consagrado na carta das Nações Unidas), têm que pagar a um funcionário também ele miserável devido ao magro e invisível salário, aprenderam que para usarem as roupas da moda têm que se aproximar de um dirigente ou de um governante que ostente um “alto caro”, como se diz na Guiné. Os pais aprenderam a não ver e a se calar para poderem receber dos amantes das filhas, um mísero saco de arroz e alguns géneros alimentícios.
Os jovens aprenderam ainda que para prosseguirem os estudos têm que comprar a “bolsa de estudos”, outrora concedida. Aprenderam que para serem conhecidos e poderem ter um carro e ter uma casa e uma vida condigna a única saída é fazer política, pois através da política, podem vir a ser ministros, directores..., na medida em que basta formar um partido ou ser-se líder de um partido para se ascender, e doravante ser-se considerado um possível, provável dirigente de qualquer coisa....
Os jovens guineenses aprenderam também e sobretudo que só se pode ascender economicamente, ser-se alguém respeitado, fazendo política ainda que de política nada percebam. Aprenderam isto e muito mais.
Os enfermeiros aprenderam a vender os medicamentos do hospital aos doentes que deles teriam direito, para sobreviverem. Os funcionários públicos aprenderam que só com “sucu di bás” , vulgo suborno, podem resolver e encaminhar um assunto do seu serviço para o qual são supostamente pagos.
Os taxistas aprenderam que não prestam nenhum serviço, mas sim fazem um favor a quem lhes paga para ser levado até a um destino qualquer, mas nunca o destino desejado.
Como ensinar os jovens guineenses que há outras vias para se tornar um cidadão digno e consequentemente um povo respeitado e ser respeitado pelos outros?
É urgente a reconciliação no próprio seio do PAIGC, para que haja uma verdadeira reconciliação do PAIGC com o povo da Guiné-Bissau.
Por conseguinte confiamos no PAIGC e auguramos boa governação, na base do entendimento, do diálogo e do respeito pelo povo guineense, esse povo que em 1974 era do PAIGC!.
Re-Viva o PAIGC !
Viva a Guiné-Bissau!
Lisboa, 11 de Maio de 2004
Maria Domingas Tavares Pinto ( Zinda Pinto )
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO