"Um princípio fundamental da nossa luta é que a nossa luta é a luta do nosso povo, e o nosso povo é que tem que a fazer, e o seu resultado é para o nosso povo. 
Os camaradas já compreenderam bem o que é o povo. O problema que pomos agora é o seguinte: Mas o nosso povo está a lutar contra quem? 
Claro que a luta dum povo é sua, de facto, se a razão dessa luta for baseada nas aspirações, nos sonhos, nos desejos de justiça, de progresso do próprio povo, e não nas aspirações, sonhos ou ambições de meia dúzia de pessoas, ou de um grupo de pessoas que tem alguma contradição com os próprios interesses do seu povo. 
Contra quem é que o nosso povo tem que lutar?"

O nosso povo tem que lutar contra os seus inimigos de dentro. Quem? Toda aquela camada social da nossa terra, ou classes da nossa terra, que não querem o progresso do nosso povo, mas querem só o seu progresso, das suas famílias, da sua gente. É por isso que dizemos que a luta do nosso povo é contra tudo quanto seja contrário à sua liberdade e independência, mas também contra tudo quanto seja contrário ao seu progresso e à sua felicidade. 
 

"A luta, na nossa terra, tem que ser feita pelo nosso povo. Não podíamos de maneira nenhuma pensar em libertar a nossa terra, em fazer a paz e o progresso da nossa terra, chamando gente de fora (estrangeiros) para virem lutar por nós.

Nós queremos que tudo quanto conquistarmos nesta luta pertença ao nosso povo e temos que fazer o máximo para criar uma tal organização que mesmo que alguns de nós queiram desviar as conquistas da luta para os seus interesses, o nosso povo não deixe. Isso é muito importante."

Amilcar Cabral: "Luta do povo, pelo povo, para o povo"

Amilcar Cabral

 

Estamos atentos e não deixaremos!

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

26.10.2005

 

Caros irmãos,

Volto a escrever hoje, depois de uma pausa de 3 semanas. Pausa essa justificada com a necessidade de parar  para pensar, para conversar, para ouvir e ler opiniões sobre o passado recente, o momento actual e as perspectivas futuras em relação à Guiné-Bissau e aos guineenses.

Pude falar com algumas pessoas, guineenses e não só, com pontos de vista que se aproximam dos meus, mas também, com pessoas com pontos de vista divergentes dos meus.

Em ambas as situações, o respeito pelas opiniões de cada um serviu de base de reciprocidade para o respeito de outros em relação à minha forma de pensar e vice-versa. Aliás, este princípio é o gesto mais digno de se valorizar o debate de ideias.

Esta pausa foi benéfica porquanto ter servido para fazer um balanço da minha frente de luta neste projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO.

A actual conjuntura da Guiné-Bissau "obrigou-me" a ir mais longe nas minhas reflexões, orientando-me na definição de estratégias de complemento que visem dotar o projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO com mais alternativas na forma de chegar às nossas populações na Guiné-Bissau.

Se por um lado, as estatísticas sobre o alcance deste projecto me deixam satisfeito, mais satisfeito fico, sabendo dos efeitos positivos que tem tido a nível da sensibilização e consciencialização dos guineenses um pouco por todo o mundo.

Entretanto, nesta grande tarefa de sensibilizar e consciencializar os guineenses, a grande aposta deste projecto é criar condições para que as populações na Guiné-Bissau, maioritariamente analfabetas e sem acesso à Internet, possam vir a beneficiar de programas editados na Internet em versão áudio, produzidos em crioulo e retransmitidos pelas rádios comunitárias da Guiné-Bissau que estiverem interessadas em associar-se a esta iniciativa.

Esta ideia está em estudo e em 2006 pode vir a tornar-se realidade!

Em mais um momento de crise no país, a pausa serviu-me igualmente para um reforço de aconselhamento através de novas leituras e consultas de escritos de Cabral.

Como escrevi anteriormente, Cabral é o trilho, Cabral é a chave. Quando tenho dúvidas sobre questões referentes à Guiné-Bissau, é através do legado de Cabral que obtenho as respostas que me elucidam, que me posicionam cada vez mais do lado da Justiça, da Verdade e a favor da defesa dos direitos dos guineenses.

É no legado deixado por Cabral que encontro sempre a certeza de estar no caminho certo nesta frente de acção em prol da Guiné-Bissau e dos meus irmãos guineenses.

O país está a atravessar momentos difíceis devido a jogos de interesses. Como dizia Cabral:

"Nós queremos que tudo quanto conquistarmos nesta luta pertença ao nosso povo e temos que fazer o máximo para criar uma tal organização que mesmo que alguns de nós queiram desviar as conquistas da luta para os seus interesses, o nosso povo não deixe. Isso é muito importante."

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