MANOBRAS PRESIDENCIAIS

 

 

Alai Sidibé

Alai Sidibé

alt0154@londonmet.ac.uk

Londres, 26 Novembro 2008

 

Na madrugada de Domingo, dia 23 de Novembro, um grupo de agentes das forças armadas (pudera) da República da Guiné-Bissau, se organizou para levar a cabo um ataque armado (sem que até à data se tivesse ainda apurado com que motivações) a uma das muitas residências particulares do senhor Presidente da República, João Bernardo ‘Nino’ Vieira.

Como refiro, ainda não são claros em que contornos se operou mais um episódio da triste vida político-militar a que o país nos vem habituando desde 1980. Parece ser mais uma nuance daquilo a que se acostumou a chamar de intentona; uma prática, aliás, inaugurada pelo próprio senhor Nino Vieira no já longinquo dia 14 de um mês como este, do referido ano de 1980. Não que eu esteja aqui neste espaço a defender qualquer tomada de poder pela força, até porque o único perdedor deste eterno jogo do medo é o próprio povo da Guiné-Bissau, o único que merece a minha atenção e solidariedade.

Para alguém que se encontra longe como é o meu caso, e com a consequente limitação no que toca à análise de questões que se desenrolam num país, longe da vista mas perto do coração, haverá, contudo, da minha parte breves leituras a tecer no rescaldo deste (mais um) episódio da vida guineense.

Assim, na sequência do ataque de Domingo, o titular da pasta da Administração Interna veio afirmar que o seu ministério ja havia tomado conhecimento da iminência do ataque à residência do seu Presidente.

Ora a mim me parece que uma afirmação desta natureza, proferida num qualquer país normal (que não é o caso da Guiné-Bissau), daria objecto a uma explicação mais detalhada e objectiva acerca de tudo o que o ministro em causa sabia mas não teve coragem de prevenir de modo a evitar perda de vidas como, aliás, veio a acontecer. Mas como na Guiné tudo é possível, tudo é permitido, afirmações irresponsáveis como as proferidas pelo senhor Cipriano Cassamá ficam sem efeitos esclarecedores. Senão vejamos.

1. Se o Ministro Cassamá já sabia que ia suceder aquilo que acabou por suceder numa zona habitada não só pelo chefe de Estado, mas por muitos inocentes cujo único crime cometido é serem sujeitos a tão incómodas vizinhanças, porque não deu um alerta; ou seja, que o ditador iria ser objecto de um ataque desta natureza. Porque se absteve de o informar para que se precavesse? Porque motivo o senhor Ministro Cassamá não informou o senhor Presidente para que, em conjunto com outros órgãos do Estado se tomasse as medidas necessárias tendentes a liquidar a iniciativa de raiz? Então o senhor Ministro toma conhecimento de um acto desta natureza, ainda por cima de forma atempada de tudo o que iria suceder mas mesmo assim se revela incapaz de tomar as “diligências” que diz ter tomado para que, ao menos, no âmbito do seu ministério tomasse iniciativas para abortar o ataque de modo a que se evitasse perda de vidas? O senhor ministro, em vez de agir com vista a evitar o derrame de sangue fica simplesmente na sua cegueira, apostando na sorte? A nós não nos parece que se esteja perante uma situação de sentido de Estado; parece-nos, isso sim, estar-se perante uma grave situação de défice de competência política e moral. Perante tudo isto, ainda nos parece que o ministro Cipriano Cassamá prestaria um bom serviço aos guineenses se, simplesmente pusesse o seu lugar à disposição do actual Primeiro-Ministro, dado revelar não estar à altura do lugar que ocupa, muito menos ao alcance dos desafios que o seu ministério enfrenta, numa altura muito crítica do país devido à proliferação descontroladamente vergonhosa das narco-substâncias.

Mais. Ainda nas vésperas do acto eleitoral do dia 16, vi na televisão uma peça em que um jornalista interpelava o mesmo ministro Cassamá sobre a prontidão da sua equipa ministerial em relação ao acto em causa, ou seja, tratava-se de saber se o Ministério da Administração Interna guineense estaria preparado para garantir segurança aos cidadãos durante e após o acto de votação. Perante uma questão tão óbvia e directa o que mais me espantou foi a falta de prontidão (ou de preparação) da parte do Ministro em satisfazer a pergunta posta pelo jornalista: o senhor Cassamá, em vez de, obviamente, escorrer sobre as medidas de segurança que eventualmente teria planeado, simplesmente se perde em evasivas, em retóricas, tão previsíveis quanto evitáveis se tivermos em conta um titular ministerial. Foi a primeira vez que o dito Ministro me impressionou... Pela negativa.

2. Até prova em contrário, compartilho das opiniões do Didinho Casimiro e de um outro guineense (cuja preferência pelo anonimato se torna perfeitamente compreensível dada a intolerância e perseguições que são já escola no seio político guineense) proferidas no Jornal de Noticias português desta semana, que punham sérias dúvidas à autenticidade dos acontecimentos de Domingo passado. Digo isto porque não me parece crível que um grupo de tropas minimamente bem armado, com intenções de assassinar não o tenham conseguido em circunstâncias tão acessíveis, sobretudo tendo como alvo uma casa particular estruturalmente pouco preparada para garantir protecção física em situações de emergência armada. Daí que não me espantaria nada se isto tudo fosse mais uma jogada dos ‘habituais’ com o intuito de se eternizarem na situação de bonzos da República. Assim como não me convence o consequente papel com que Nino se quer vestir, de virgem imaculada, vítima de intentonas pouco esclarecidas e esclarecedoras. Já vimos muito disto no passado. Nino sabe que se encontra na iminência de enfrentar um certo rigor governativo que a administração de Cadogo implicaria na delapidação irresponsável e abusiva do pecúlio público. Por isso mesmo importa cerrar fileiras (que visam eternizar a situação da endogamia política que dele se conhece no seio ninista) tentando desestabilizar o novo governo resultante da vontade popular. O homem é capaz de tudo.

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