NEM CULTURA DA INSTABILIDADE, NEM DITADURA DA ESTABILIDADE

 

 

Flaviano Mindela dos Santos

 

flavianomindela@hotmail.com

 

08.11.2009

 

Antes da sua tomada de posse, o actual Presidente da República prometeu surpreender muita gente pela positiva, - dos quais me senti logo incluído, - o que para mim, foi um sinal de muita humildade, parte do seu conhecido carácter de um homem equilibrado. E foi também para mim, um sinal de reconhecimento da sua cota das responsabilidades, como um membro muito influente, do partido libertador do território nacional, no lastimável estado, em que a nossa sociedade se apresentou, ao novo milénio.

Os seus constantes discursos de comedimento, alertando para a imperiosa necessidade do alcance da paz, e garantia da estabilidade absoluta; respeito e consideração pelas instituições públicas; observação e submissão à separação dos diferenciados poderes instituídos, demonstra da sua parte e bem, o devido empenhamento, exigível ao Presidente da República.

A sua preferência por algumas personalidades da nossa classe política, declarados opositores do seu próprio partido, para a ocupação de cargos de relevância na Presidência, e noutras instituições do Estado, que cabem a sua competência nomear, também demonstra uma básica consciência de que, quer ser como tem afirmado, o Presidente da República de, e para todos os guineenses.

Tudo isso é razoável, e de destacar, tendo em conta as graves falhas, durante os consulados de alguns dos seus antecessores. Portanto, só podemos esperar do actual Presidente da República, mais e melhores avanços, assim como resultados concretos e seguros, em direcção ao nível de eminência.

Quanto ao Governo, foi sim um desastre constatar a manutenção, e recuperação de algumas das figuras, com provas há muito bem dadas, no que respeita a incompatibilidade para o exercício dos cargos com exigências técnicas acima da média. Mas que lugar mais desastroso seria esse nosso Mundo, se tudo agradasse somente a uns?!

O objectivo primário para a existência de todos os partidos políticos, é a conquista e permanência no poder, o tempo mais alargado possível, ou mesmo estabelecerem para a eternidade. Por isso mesmo, não devemos continuar a insistir na passividade inocente, e a esperar que deles venham atitudes exactas, nocivas a esse propósito.

Se para compensar, e ao mesmo tempo, incentivar maiores compromissos desses, nos próximos períodos eleitorais, o partido no poder escolheu, na concretização da tão aguardada remodelação, manter e recuperar para alguns cargos na governação, certos dos seus membros, tecnicamente ineficazes, e mas politicamente eficazes, foi precisamente a pensar num determinado e significativo segmento do eleitorado, composto por uma população de adultos do país real, com uma faixa etária mais avançada, portanto, conhecedor de uma maneira, ou de outra, das célebres façanhas independentistas, dispostos a aguentar os minutos suficientes na fila para as urnas; e que por razões de uma eterna gratidão, para com o partido libertador, votam mesmo de olhos fechados, sempre que lhes aparecem os tais militantes históricos nas suas tabancas, a solicitar uma renovação de confiança.

Posto isto, resta uma curta advertência, aos nossos decisores políticos:

A nossa complexa comunidade, é em grande medida, se não mesmo toda ela, dominada pelas crenças ancestrais, nos poderes ocultos; onde as pessoas das mais incapazes, acreditam, e fazem a questão de recorrer aos frequentados meios tradicionais e diabólicos, para dessa forma, enfrentar com sucesso garantido, todas as imposições da vida, inclusive, ocupar os lugares mais cobiçados, na estrutura do Estado. Mesmo que isso tenha que custar a vida de alguém, colega de serviço ou não, desde de que seja considerado, no presente ou no futuro, um concorrente ideal.

Ao optarem por manter, e para mais, ainda recolocar algumas pessoas nos lugares governativos de elevada importância, sem quaisquer habilitações tecnicamente adequadas, ou se as possuem, nunca conseguiram traduzir essas potencialidades, em ganhos reais, para o desenvolvimento da nossa comunidade, mesmo que sem intenções claras nesse sentido, estão a encorajar cada vez mais, esses tipos de práticas hediondas e ilusórias, que na realidade, só acabam num engenhoso envenenamento da vítima, tal como todos nós sabemos, têm sido ao longo dos anos, um dos factores impiedosos de eliminação física, de alguns dos nossos melhores quadros técnicos.

 Aliás, até porque é bastante comum escutarmos aqui e além, pessoas a comentarem sem quaisquer receios de maior, sobre os grandes feitos de outras tantas, que embora não tendo formação académica justificável, mas sendo uns magníficos conhecedores dos sinuosos caminhos em terra batida, conseguem sempre boas funções no aparelho do Estado. Ou seja, os acessos facilitados aos cofres públicos, o que lhes permite uma vivência folgada, num meio miserável, ainda que com os dias contados.

Ao contrário desse facilitismo obsoleto, é mais que urgente, a promoção legal de aptidões por excelência, através da implementação de concursos públicos transparentes, para um preenchimento harmonizado dos lugares, na administração pública, acompanhados de rigorosos, mas no entanto, equitativos métodos de avaliação do desempenho, que deve definir as progressões nas carreiras profissionais. Para além de que isso, apesar de todas as nossas ambiguidades, poderá desencadear um explosivo retorno de numerosos guineenses qualificados, que por razões de força maior, residem no estrangeiro, e de que a prosperidade nacional tanto precisa, como pão para a boca, ainda com certeza, desenvolve-se um combate eficaz, contra a mediocridade, ao mesmo tempo, também contribuir para o desencorajamento do recurso aos referidos caminhos impróprios, para a todo o custo, ser só mais um pobre endinheirado das nossas praças.

Tal como os partidos políticos, uma vez constituídos em diferentes grupos, para a defesa dos nossos interesses, seremos também parte fundamental, no funcionamento da democracia. Até porque, como elementos do povo, somos mesmo a parte primeira, e a mais importante de todas, na busca da melhor forma de funcionamento, de um qualquer Estado Democrático.

Se assim desejamos, e queremos mesmo experimentar as verdadeiras mudanças na procura da felicidade colectiva e individual, temos que fazer o relativo uso adequado da nossa condição de um povo livre; liberdade essa, que no passado mereceu tantos sacrifícios e tantas vidas, de alguns dos nossos preferíveis compatriotas.

As verdadeiras mudanças, quase que nunca têm origens nas disposições políticas dos governantes; mas sim, nas iniciativas sociais dos governados.

A chamada nova geração, que é a nossa, só para diferenciarmos em termos fictícios, da chamada antiga geração, que é a da luta armada, não deve limitar-se às habituais queixas de indignação nos bantabas di nobas, que tem caracterizado a nossa forma de estar, e que as três décadas de independência territorial, revelaram insignificantes.

Ansiamos desesperadamente por uma mudança no passado, até que um belo dia, tivemos a oportunidade nas urnas, de atribuirmos parte do nosso destino, a uma suposta nova geração de políticos, do actual maior partido na oposição. Apesar disso, em termos globais, resultar de consequências das barbaridades cometidas pelos ilustres déspotas da nossa liberdade, seus predecessores modelo, esses foram pura e simplesmente, momentos indesejáveis, com uma sucessão de disparates institucionais, e corrida louca aos patrimónios do Estado.

Temos que ambicionar e diligenciar com consistência, através do exercício constante da cidadania activa, pela introdução de novos protagonistas na governação do país, recheados de ideias progressistas.

Temos que incorporar grupos funcionais e expressivos, para a defesa dos nossos interesses, e pelo menos assim condicionar, as mais indispensáveis decisões políticas. Corporações esses, tais como: os sindicatos laborais; as associações profissionais; as associações de utentes dos serviços públicos; as associações de moradores nos nossos bairros; as associações nas nossas escolas; as associações etárias; e as associações de condições pessoais; só para mencionar algumas. Assim como, militarmos sempre que necessário, em todos os agrupamentos de natureza espontânea, para as reivindicações pontuais, do nosso bem estar social, económico e cultural.

Temos sobretudo que votar sem desculpas, mesmo em todas as eleições, para que os diferentes partidos políticos, passem a ter, em todas as suas estratégias governativas e eleitoralistas, o sentido dos nossos votos…

Porque não estou por perto, o leitor acabou de dizer para os seus botões:

- Mas os votos são manipuláveis!

Por isso respondo:

- Pois é. E quanto menos assumirmos as nossas devidas responsabilidades enquanto cidadãos adultos, mais margem de manobra, atribuiremos aos interessados na manipulação de qualquer que seja instrumento político, para depois influenciarem na mesma, as nossas vidas!

A plena satisfação da liberdade, na procura da felicidade, perto de ser um direito natural, para reclamarmos em todos os momentos da nossa vida, é um dever sagrado, para cumprirmos em todas as acções na nossa vida. Porque a felicidade na sua essência, nasce e morre connosco. O difícil às vezes, é a coragem de empreendermos uma viagem no nosso interior, ao encontro desse fim último, de todo o Universo.

 

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