AMILCAR CABRAL: UMA APRENDIZAGEM CONSTANTE |
"A nossa luta é para o
nosso povo, porque o seu objectivo, o seu fim é satisfazer as aspirações,
os sonhos, os desejos do nosso povo: ter uma vida digna, decente, como
todos os povos do mundo desejam, ter a paz para construir o progresso na
sua terra, para construir a felicidade para os seus filhos. Nós queremos
que tudo quanto conquistarmos nesta luta pertença ao nosso povo e temos
que fazer o máximo para criar uma tal organização que mesmo que alguns de
nós queiram desviar as conquistas da luta para os seus interesses, o nosso
povo não deixe. Isso é muito importante." "Não podemos permitir de maneira nenhuma que as nossas Forças Armadas, os nossos militantes ou os nossos responsáveis, se esqueçam, por um momento que seja, que a maior consideração, o maior respeito, a maior dedicação, devem ser para o povo da nossa terra, para as nossas populações, sobretudo nas áreas libertadas da nossa terra." "Tudo quanto se possa
fazer para tirar a confiança da população em nós, para castigar a
população, para mostrar falta de consideração pela nossa população, para
roubar os bens da população, para abusar nos filhos da população, seja
homem ou mulher, é o maior crime que um camarada combatente ou responsável
pode fazer, prejudicando o nosso Partido, prejudicando o futuro e o
presente da nossa terra." |
O PATRIOTISMO: ENTRE O DEVER E O DIREITO
Por: Fernando Casimiro (Didinho)
09.11.2006
A 12 de Agosto deste ano lancei no fórum do site CONTRIBUTO um tema para debate, intitulado " ENTREGUES À SUA SORTE" e que hoje reabilito , tendo em conta a urgência na resolução de incumprimentos do Estado guineense para com os seus funcionários, tanto os que trabalham no país, como os que estão deslocados, trabalhando no estrangeiro.
Creio que se deve questionar, num prisma de afirmação patriótica qual deve ser a postura dos guineenses, entre o dever e o direito enquanto servidores do Estado.
Antes de desenvolver este tema, quero fazer referência ao que me sensibilizou a escrever, de novo, sobre os salários em atraso na Função Pública guineense e, particularmente, nas missões diplomáticas no exterior.
Estive recentemente na nossa embaixada em Lisboa e trocando conversa com alguém, fiquei a saber que há funcionários que não recebem ordenados há 22 meses (vinte e dois meses)!!!
Caramba!!!
Se não restam dúvidas que este problema vem de várias (des) governações e, por isso, ser um problema repartido na sua responsabilização, não é menos verdade que, pouco ou nada se tem feito na busca de soluções para que o Estado cumpra com os seus compromissos em relação os seus funcionários.
Mas quem é que consegue aguentar 22 meses sem receber salários, e continuar a acreditar nas promessas dos governantes senão os guineenses?
Quem se sacrifica em nome do país, passando fome, vendo a sua dignidade posta em causa por falhar com os seus compromissos pessoais, ter filhos e "obrigar-lhes" ao sofrimento que não merecem, quem, senão os guineenses?
Que povo mostra tamanha compreensão por aquilo que os seus governantes dizem, mesmo estando estes constantemente a mentir, quem, senão o povo guineense?
Caros amigos e irmãos,
O povo guineense não deve continuar a confundir Patriotismo com a sua postura de cidadão inactivo, que consente, que não contraria, que não reivindica, julgando estar a ser útil ao país, quando, na verdade, está a prejudicar o país e quiçá, a si próprio!
O servidor do Estado tem deveres para com o Estado e, nessa base, tem que cumprir com as suas obrigações, sob pena de ser processado em conformidade.
O servidor do Estado tem, igualmente, direitos como tal e deve reclamar dos seus direitos sempre que o Estado esteja em falta.
Os Sindicatos guineenses devem continuar a incutir aos seus associados e aos trabalhadores em geral a noção dos deveres e dos direitos, enquanto trabalhadores e também, num enquadramento de cidadania.
O Patriotismo não se questiona pela reivindicação dos nossos direitos.
O Patriotismo exige a aplicação dos conhecimentos do cidadão que tem a responsabilidade de guiar a governação através das suas reivindicações quando assim se justificar.
Não basta termos nascido na Guiné-Bissau para julgarmos que somos todos patriotas. Um patriota é aquele que se identifica com as causas do país, que procura a cada dia que passa ser útil na edificação de uma sociedade mais justa e mais fraterna.
Um patriota é aquele que deve cumprir com os seus deveres, mas também com os seus direitos de cidadania!
Um patriota é aquele que consente sacrifícios pelo país, quando assim se exige, desde que esse sacrifício seja equitativo e repartido por todos!
Há que exigir ao Estado guineense a assumpção das suas responsabilidades no que toca ao incumprimento no pagamento de salários, que tem prejudicado a vida aos nossos irmãos que vivem desesperados, desmoralizados, enquanto as elites do poder esbanjam os dinheiros que vão entrando nos cofres do Tesouro Público.
Os guineenses devem debater os seus problemas, devem "criar" vozes, devem avançar com acções concretas para casos concretos. Se assim fizerem, estarão a mostrar o seu patriotismo!
ENTREGUES À SUA SORTE Tenho
partilhado ao longo deste projecto "GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO" a
convivência com muitos conterrâneos nossos espalhados um pouco por todo o
Mundo. 12.08.2006 |