Objectivo 8 – Organizar uma parceria mundial para o desenvolvimento

 

Situação e tendência

 

O seguimento deste objectivo deve ser feito a nível internacional. É a este nível que é possível verificar que a parceria organizada é neutra e não discriminatória do sistema comercial e financeiro, tendo em conta as necessidades dos países menos avançados no que diz respeito ao acesso ao mercado, à ajuda pública ao desenvolvimento nas suas modalidades e afectações bem como no tratamento da dívida externa em assegurar a sua viabilidade. Este seguimento a nível internacional deve ser acompanhado de análises das condições de materialização desta parceria mundial para o desenvolvimento. É dentro deste espírito que os progressos realizados serão examinados. Há uma expectativa de ver como é que a Guiné-Bissau irá tirar proveito desta pareceria em favor do desenvolvimento, e os benefícios que poderá esperar assim como as exigências que lhe serão impostas

 

8.1 – Seguir a elaboração de um sistema comercial e financeiro multilateral aberto, baseado em regras previsíveis e não discriminatórias

 

Acesso dos produtos da Guiné Bissau aos mercados

 

A castanha de caju é o principal produto de exportação da Guiné-Bissau, representando mais de 80% das exportações totais do país. A mestria das fieiras das exportações da castanha de caju é crucial para permitir à Guiné-Bissau negociar a sua vantagem bem como maximizar as suas receitas de exportações. Deve-se organizar para melhorar as condições de conservação e qualidade da sua castanha de caju com vista a melhorar a competitividade.

 

8.2 – Atacar as necessidades mais particulares dos países menos avançados

 

A ajuda internacional na Guiné-Bissau

 

A ajuda pública ao desenvolvimento (APD) tem um papel muito importante na economia da Guiné Bissau. A proveniência da APD vem de um grupo de doadores, e representava 73% do PIB em 1994. Apesar da sua diminuição, entre 1995 e 1998,a sua taxa era superior a 45%, mas caiu para 24% do PIB em 1999, em 2000 representava 37% do PIB e 30% em 2001. A APD dos parceiros multilaterais de 1990 a 1998 representava 24% e 14% do PIB, e 9,3% em 1999. A ajuda pública ao desenvolvimento é tão importante que permite suplementar a quase ausência de economia doméstica.

 

 

Figura 13

 

8.3 – Tratar globalmente do problema dívida através de medidas apropriadas de ordem nacional e internacional de forma a pagar a dívida a longo prazo

 

Tratamento da dívida externa da Guiné-Bissau

 

A economia da Guiné-Bissau está esmagada pelo peso da dívida externa pública. O fardo da dívida externa pública representa quase seis vezes da sua riqueza nacional. Nos tratamentos sucessivos da dívida pública externa dos quais a Guiné-Bissau beneficiou junto do Clube de Paris em 1987, 1989 e 1995, não lhe permitiram reduzir o peso da sua dívida. O acordo obtido pela Guiné-Bissau em 1999 considerou-se a divida como sendo de 360 milhões de dólares (por uma dívida externa no total de 944 milhões de dólares), dentro do quadro de iniciativa a favor dos Países Pobres Altamente Endividados (PPMA). Sobre um montante de 141 milhões de dólares contemplados, 60 milhões foram anulados e 8 milhões escalonados sobre 23 anos com 6 anos de período de graça.

 

Tabela 9 : Peso da dívida externa na Guiné Bissau

 

 

1998

1999

2000

2001

2002

Peso da dívida externa em milhões de euros

1441,4

849,1

844,6

829,9

838,9

Peso da dívida externa em função do PIB

777,1

403,0

361,2

373,3

364,7

Serviço da dívida externa em% das exportações

119,0

66,3

48,2

65,1

64,3

Serviço da dívida externa em% das receitas totais excluindo donativos

284,8

87,4

72,2

101,8

102,2

Fonte : Comissão da UEMOA, 2003

No entanto os maus desempenhos económicos registrados posteriormente não permitiram à Guiné-Bissau de beneficiar plenamente da iniciativa PPAE. A dívida externa mantém-se uma preocupação na medida que esta continua a ser um peso consideravelmente sobre os escassos recursos do país.

 

A NECESSIDADE DA LUTA CONTRA A POBREZA

 

É evidente que o aparente engajamento do Governo e a Comunidade dos doadores não serão suficientes para concretizar os objectivos de luta contra a pobreza e também, com o actual ritmo de crescimento económico do País, não se alcançará os ODM. Estudos sobre as acções necessárias para atingir estas metas revelam a magnitude do desafio. No entanto, a combinação destas acções dará o impulso para a consecução das metas dos ODM.

 

Dai a necessidade de uma estratégia mais ampla para combater a pobreza.

 

Não existe um plano simples e universal para implantar essa estratégia. Cada País deve preparar sua própria combinação de políticas para reduzir a pobreza, de acordo com as prioridade e realidades nacionais, dependendo do contexto económico, socio-político, estrutural e cultural do País.

 

Uma boa estratégia de luta contra a pobreza deve antes de tudo, começar por identificar as principais causas e estabelecer o perfil. O carácter multi-dimensional e sistémico da pobreza e a variedade das suas manifestações tornaram relativamente complexas a tarefa de identificação dos elementos que estão na origem assim como a clarificação das potenciais relações de causalidade estabelecidas. As causas apontadas durante a nossa digressão nos ateliers de disseminação e validação dos ODM pelas populações, resultam acima de tudo, da interacção e convergência de diversas desvantagens sociais que, não as explicando isoladamente, desencadeiam no seu conjunto um cenário propicio a sua propagação. Elas são de diversas ordens:

 

Natural (qualidade dos solos, encravamentos regionais desertificação, mudanças climáticas)

Político (perturbações sociais, déficit democrático); Social (alto nível de analfabetismo, forte crescimento demográfico, dificuldades de acesso aos serviços sociais de base); Económica (estagnação ou recessão, da Economia Nacional, desemprego, subemprego, falta de acesso aos activos de produção, fraca produtividade, má gestão das coisas públicas, etc.); Técnica (dificuldades de acesso as técnicas de produção, à ciência, e as novas tecnologias, inacessibilidade infra-estruturas económicas de base, etc.), Cultural (existência de numerosos tabus, ausência de uma cultura de excelência).

 

A estratégia de redução da pobreza evolui nos últimos anos em resposta a uma maior compreensão da complexidade do desenvolvimento. Nos anos 50 e 60 considerava os grandes investimentos em capital físico e infra-estruturas como a principal via para o desenvolvimento.

 

Nos anos 70, aumentou a consciencialização de que o capital físico não era suficiente, a saúde e a educação tinham pelo menos a mesma importância. O Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 1980 articulou essa noção e argumentava que as melhorias em saúde e educação eram importantes não só por si próprias mas também, para promover o aumento da renda das populações pobres. Por isso, o Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 1990, propunha uma estratégia dupla Promover o crescimento com o uso intensivo da mão-de-obra mediante abertura económica e investimento e proporcionar serviços sociais de saúde e educação para os pobres.

 

Tendo em vista a experiência acumulada na última década e o novo contexto global, sugerimos as seguintes acções no âmbito nacional e depois no contexto internacional, que julgamos pertinentes para atingir ODM.

:

Promover as oportunidades

As políticas e as instituições essenciais para criação de mais oportunidades envolvem acções complementares destinadas a estimular o crescimento económico em geral fazer com que os mercados beneficiem os pobres e aumentem os seus bens, inclusive eliminando as desigualdades arraigadas na distribuição de serviços. Entre as medidas destacam/se as seguintes.

 

- Incentivar investimento privado eficaz. O investimento e a inovação de tecnologia são os principais mecanismos para criar empregos e aumentar a renda do trabalho. De modo a promover o investimento privado, é preciso reduzir os riscos para os investidores, mediantes políticas fiscais e monetárias estáveis, regimes de investimentos estáveis, sistemas financeiros sólidos e um contexto empresarial claro e transparente. Mas também é preciso assegurar o império da lei e tomar medidas para combater a corrupção, ou seja, acabar com os esquemas empresariais baseadas em propinas, subsídios para grandes investidores e assegurar acesso ao crédito promovendo a intensificação financeira e reduzindo fontes de problemas no mercado; reduzir os custos de transação para entrar no mercado, proporcionando treinamento em práticas comerciais modernas; construir estradas alimentadoras para reduzir barreiras físicas.

 

- Criar um património para os pobres

A acumulação de recursos humanos, físicos, naturais e financeiros que os pobres possuam ou possam usar requer acções em três frentes. Primeiro, concentrar o gasto público nos pobres, ampliando as ofertas de serviços sociais e económicos básicos reduzindo as restrições sobre a demanda.

 

Segundo, assegurar a prestação de serviços de boa qualidade mediante acções institucionais que envolvam uma boa administração pública e uso de mercados e múltiplos agentes. Isto requer reformas do serviço público, como a educação ou uma privatização que assegure a expansão de serviços para os pobres, como no abastecimento urbano de água e saneamento.

 

Terceiro, assegurar a participação da comunidade e famílias pobres na escolha e implantação de serviços e sua monitorização para que os responsáveis assumam suas responsabilidades.

 

As outras medidas que promovam as oportunidades dos pobres são.

- Abordar as desigualdades baseadas no sexo, etnia ou posição social,

- Criar infra-estruturas e informação para as áreas rurais e urbanas pobres;

 

Promoção da Autonomia

O potencial do desenvolvimento económico e redução da pobreza é bastante influenciado pelo Estado e pelas instituições sociais. As medidas destinadas a melhorar o funcionamento do Estado e das instituições sociais aumentam o crescimento e a equidade, ao reduzir as restrições burocráticas e sociais à acção económica e a mobilidade ascendente. Contudo a implantação dessas reformas requer a vontade política.

Entre tais medidas destacam as seguintes:

 

- Lançar as bases políticas e jurídicas para um desenvolvimento inclusivo;

- Criar administração pública que promovam o crescimento e a equidade;

- Promover a descentralização e o desenvolvimento comunitário,

- Promover a igualdade entre os sexos;

- Eliminar as barreiras sociais

- Reforçar o capital social para os pobres.

 

Promover a segurança

Para obter maior segurança, é preciso concentrar mais atenção na maneira como a insegurança afecta a vida e as perspectivas dos pobres.

 

Também é necessário adoptar algumas medidas para reduzir os riscos no âmbito da uma economia ou região e ajudar a enfrentar os choques adversos.

 

Dentre essas medidas são:

 

- formular uma estratégia modular que ajude os pobres a controlar os riscos ;

- elaborar programas nacionais de prevenção, alertas e respostas a choques naturais e financeiros;

- prevenir os conflitos;

- enfrentar as epidemias.

 

Acções internacionais

Com frequência, a acção no âmbito nacional não será suficiente para obter uma rápida redução da pobreza. Muitas áreas exigem acção internacional de modo a assegurar que os países pobres e as populações sejam beneficiados. Uma maior ênfase no alívio da dívida, acompanhada de medidas para fazer com que assistência ao desenvolvimento seja mais eficaz, é parte da história.

 

Igualmente importantes são as acções nas outras áreas tais como comércio, vacinas, relação de defasagem de tecnologia e informação podem aumentar as oportunidades, a autonomia e a segurança social dos pobres.

 

As acções simultâneas para aumentar a oportunidade, autonomia e a segurança, podem criar novas dinâmicas de mudanças que permita reduzir a privação humana e criar sociedade justas que sejam competitivas e produtivas. Se os países em desenvolvimento e a comunidade internacional colaborarem para combinar essa visão com recursos reais, tanto os financeiros quanto aos incorporados nas pessoas e instituições isto é, sua experiência, conhecimento e imaginação, o século XXI testemunhará um rápido progresso na luta contra a pobreza.

 

 

www.didinho.org