Obrigada aos Guineenses !
Por: Ariane Morais-Abreu
11.07.2008
Quero aqui comentar com muito agrado o texto do jovem Samuel Reis “Partir para a acção” que muita maturidade demonstra perante a situação guineense. A sua atitude bem como a analise produzida, revelam a grande responsabilidade com que este jovem encara a saída da crise onde se perdeu, há muitos anos, este país hoje catalogado internacionalmente de placa giratória da droga, um novo e fácil bode expiatório do mais selvagem neocolonialismo.
Inaceitável hipocrisia e sobretudo, crime de não assistência, a um país violentado e agonizante!! Condenável hipocrisia porque os que estão a denegrir a imagem da Guiné Bissau, são precisamente aqueles que se aproveitam do caos actual. Incluo neste lote as instituições internacionais, os países, os lobbies económicos e os indivíduos que facilitaram o regresso de Nino Vieira e dão benção aos crimes, usufruindo da vulnerabilidade e das riquezas.
As palavras do Samuel contêm a determinação, a lógica e o bom senso de que precisa a Guiné-Bissau para resolver os seus problemas. Existem soluções, a violência não é fatalismo mas sim, resultado das más acções e dos pensares egoístas por que sempre combateu a humanidade para maior e melhor justiça.
Este trabalho de justiça já começou com o site do Didinho e com todas as intervenções como a do Samuel. Creio que com resistência, tenacidade, honestidade espiritual, visão e sobretudo imaginação fértil poderão, os Guineenses, encontrar soluções para erradicar as causas do fracasso, porque estão homens atrás de tudo isso!!
Soluções existem para agir: fazer a soma de todos os disfuncionamentos, listar todos os crimes perpetuados desde a independência (assassinatos, desvios e roubos públicos, criminalização do Estado...), intentar uma acção em justiça contra o responsável máximo do Estado, perseguir o presidente e os cúmplices pelos crimes junto da Corte internacional dos Direitos humanos, organizar com a Diáspora acções de informação junto dos países de acolhimento... mostrar o verdadeiro rosto da GB.
Acredito na força dos homens e das mulheres que não podem aceitar mais à frente a hipocrisia, as mentiras e os crimes de que sofrem directamente os seus filhos. Sendo cabo-verdiana não posso ver sem reagir o que se passa neste país que também é meu. Os que assassinaram Amilcar Cabral ainda continuam a matar o nosso destino comum, a nossa luta pela justiça, a nossa fraternidade...
No passado sábado, 5 de Julho, aconteceu em Saint Denis, uma municipalidade periférica do norte de Paris onde residem muitos estrangeiros e uma numerosa comunidade cabo-verdiana, um evento importante que simbolicamente devemos considerar no que diz respeito a Cabo Verde: a sua história, a sua independência, os seus dirigentes, as suas pretensões políticas, as suas comunidades.... A mairie de Saint Denis cujos eleitos são de esquerda, imortalizou Amilcar Cabral, um homem de convicção e de acção positivas, cuja projecção francesa deve-se à iniciativa de um jovem cabo-verdiano, segunda geração, que fez questão de destacar Cabral na via pública e na memória dos imigrantes crioulos. No entanto, a ironia do tempo fez com que aqueles que representaram Cabo Verde, fossem os mesmos que hoje pisam, sem vergonha, a obra e o homem. Porquê? Pamodi?!
Não respeitam nem a terra cabo-verdiana, nem a população, quanto menos os ideais que moveram Cabral na sua luta colectiva de libertação nacional. Continuam a menosprezar pela mesma via o país irmão graças a quem Cabo Verde ganhou a sua liberdade. Hoje, pergunto se o meu país mereceu esta liberdade quando vejo a maneira como (mal)tratam os Guineenses em Cabo verde e como os governantes vendem o país aos mesmos que ontem combateram.
Incrédula, vejo também a amnésia voluntária e os seus efeitos perversos sobre a conduta da política interna, como "estrangeira" do meu pequeno arquipélago que está a perder de si mesmo quando pretende assinar acordos de “parceria especial” e de “imigração selectiva” com os conhecidos racistas e xenófobos da Europa, os mesmos que ainda não conjuraram o passado negreiro, colonialista e imperialista que, no caso da França de Sarkozy, reivindicam, descomplexados, uma superioridade tanto económica como racial.
O discurso do presidente francês na Université Cheik Anta Diop de Dakar em 2007, não deixou dúvidas sobre as reais intenções e estratagemas escondidas desta classe política “bandida” e globalizada que nada compreende da "marche du temps” e dos homens.
Também muito pouco compreendeu o meu Cabo Verde da luta de libertação de Amilcar Cabral. Por isso, infinita obrigada aos Guineenses que também combateram para a minha dignidade e a minha preciosa liberdade. Ao Samuel, igualmente obrigada por ter a coragem de falar e agir...
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO