OS MESMOS ERROS DE SEMPRE...

 

 

Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

03.04.2010

Fernando Casimiro (Didinho)Depois de várias reuniões ontem com os demais órgãos de soberania, o Presidente da República da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá, continua a pensar que só há uma leitura sobre os acontecimentos de 01 de Abril na Guiné-Bissau: "foi um pequeno problema entre os militares" e já está tudo normalizado...

O Sr. Presidente da República continua a pensar que com os seus posicionamentos, entre atitudes e comportamentos com margem para várias interpretações e enquadramentos, conseguiu convencer os guineenses e a comunidade internacional de que realmente já está tudo bem na Guiné-Bissau e o que aconteceu, foi um pequeno problema entre os militares.

Sr. Presidente Malam Bacai Sanhá, no passado recente da Guiné-Bissau, há registos de ter havido sempre maus conselheiros na Presidência da República. Gente que para agradar ao Presidente, nunca souberam mostrar e aconselhar sobre outras formas de leitura e interpretação dos acontecimentos.

Muitos guineenses concordam hoje que o ex-Presidente João Bernardo Vieira foi transformado em "monstro", pelos seus próprios conselheiros, amigos do palácio etc., isto porque, diziam sempre ao Presidente o que ele queria ouvir, o que lhe agradava, idolatrando-o, incentivando-o ao absolutismo etc., sem lhe serem úteis no que realmente importava, já que havia mais cabeças para mais e melhor análise; mais olhos e ouvidos para mais e melhor visão e auscultação em relação aos problemas do país.

Os conselheiros não decidem pelo Presidente, mas devem fazer a diferença, procurando explorar inclusive, o inimaginário, o invisível, o inaudível, afim de melhor ajudarem o Presidente da República a tomar decisões, quiçá, a representar melhor o próprio país!

Sr. Presidente Malam Bacai Sanhá, sei que apesar de estar a chamá-lo à responsabilidade, de o criticar sempre que acho que o devo fazer, o Sr. Presidente não tem levado a mal e  por isso, esta minha chamada de atenção, mais uma, vai no sentido de ajudá-lo a melhorar a sua postura.

Que me desculpem os que acharem que esta minha atitude é um gesto de arrogância e  de desrespeito para com o Sr. Presidente e os seus Ministros de Estado/Conselheiros.

Não importa estar a fazer uma abordagem pública, aliás, não tenho nenhum contacto do Sr. Presidente da República, por isso, é através do site www.didinho.org que lhe tenho dirigido as minhas preocupações, as minhas críticas e incentivos, para que, pare e pense na melhor forma de servir e representar a Guiné-Bissau e todos os guineenses.

O Sr. Presidente da República sabe que o apoiei nas eleições Presidenciais de 2005, tendo explicado as razões, mas também sabe que não o apoiei nas presidenciais antecipadas de 2009, tendo igualmente explicado as razões. Contudo, reconheço a sua legitimidade como Presidente da República da Guiné-Bissau e de todos os guineenses, por isso, tenho todo o interesse em que trabalhe bem, para melhor servir o país e o nosso povo!

Considerando que todos cometemos erros e que todos podemos e devemos corrigir os nossos erros; que todos temos sempre a possibilidade de recomeçar, de mudar de rumo e de atitude, insisto em criticar, sensibilizar, elucidar os governantes e militares guineenses que, por estarem a representar o Estado, devem fazê-lo condignamente.

Uns reagem com insultos, outros com ameaças de morte, ao invés de reflectirem sobre os seus comportamentos, as suas atitudes e desempenhos na governação, ou em representação do Estado. Que falta de cultura democrática e de cidadania!

Não sou e jamais serei de incentivar o uso da força para derrubar qualquer Presidente ou Primeiro-ministro. Não quero que a Guiné-Bissau continue a retroceder, mas sei que o país precisa de mudanças profundas e a primeira de todas, é a mudança de mentalidade, de atitude, de comportamento. É preciso que cada guineense assuma o seu compromisso para com o país. Que cada guineense ajude a criar mecanismos de mudança para o país!

Não se pode mudar mentalidades impedindo ou condicionando a liberdade de pensamento e de acção, bem como a liberdade de expressão dos cidadãos. Escrevi uma vez que no Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO - www.didinho.org Cultivamos e incentivamos o exercício da mente, desafiamos e exigimos a liberdade de expressão, pois é através da manifestação e divulgação do pensamento (ideias e opiniões), que qualquer ser humano começa por ser útil à sociedade!

Para mudarmos o país, devemos permitir que os cidadãos manifestem suas ideias e opiniões sobre o país em geral e sobre a governação em particular, pois sem governados não há governantes, sendo que é o povo quem dá poder aos governantes. Então, por que impedir ou condicionar a opinião do povo?

Critico, denuncio, alerto, sensibilizo e também elogio quando há razões para tal, qualquer pessoa com responsabilidades acrescidas e fazendo parte do poder do Estado. Faço-o como cidadão, porque não sou nem posso ficar indiferente aos problemas do país e do povo a que pertenço.

Faço-o, porque estou convicto de que criticando, alertando para os problemas, denunciando o que está mal, alguma vez alguém reflectirá sobre essa crítica, alerta ou denúncia e, pode ser que mude de atitude, para o bem colectivo.

Critico, alerto e denuncio, porque já basta de tanto atraso, tanta miséria, tanta destruição, tanta matança, tanta mentira, tanta impunidade e injustiça, em suma, BASTA DE TANTO SOFRIMENTO!

Acredite, Sr. Presidente Malam Bacai Sanhá, que nada me move contra a sua pessoa.

Da mesma forma, nada me move pessoalmente contra o Sr. Primeiro-ministro Carlos Gomes Jr.

É o país que nos une e como a Guiné-Bissau é o meu maior compromisso, o meu PARTIDO, tenho que exigir sempre a prestação de contas aos que dirigem a nossa Pátria e se alguém prejudicou, está a prejudicar ou vier a prejudicar a nossa Guiné-Bissau e os meus irmãos, estarei sempre na linha da frente para defender quer o país, quer os meus irmãos, utilizando como arma o pensamento, manifestando-o através da escrita ou da voz.

Também sou um combatente, tal como o Sr. Presidente decidiu ser há muitos anos,  quando um dia optou por lutar pela libertação do nosso povo. O Sr. Presidente sabe que um combatente luta até ser derrotado. No meu caso, apenas a morte me pode derrotar...

Lutarei até morrer, em defesa da Guiné-Bissau e dos meus irmãos guineenses! Convido-o, Sr. Presidente, a continuar a lutar também, pelo bem da Guiné-Bissau, pelo bem-estar dos seus irmãos...

Sr. Presidente Malam Bacai Sanhá, depois da análise sobre as ocorrências de 01 de Abril de 2010, em que mostrei diversos pontos de interrogação do posicionamento que o Sr. Presidente da República deu a conhecer/mostrar, hoje, vou apresentar mais alguns pontos questionáveis e que continuam a não lhe ser abonatórios, precisamente porque o Sr. Presidente ainda não percebeu, ou teima em não perceber que há outras interpretações e, por isso, deve evitar o ridículo.

Deixo-lhe as minhas observações, para que reflicta, reconsidere e tente mudar o que está mal. Se lá chegar, continuarei a acreditar que o Sr. Presidente é uma pessoa de coragem e de bom senso e, por conseguinte, merece continuar a ser ajudado por todos os guineenses.

Ponto 1- Se voltou tudo à normalidade, como se explica que o ainda Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, José Zamora Induta continue detido, se não houve nenhuma acção judicial nesse sentido; se nem sequer foi exonerado das suas funções?

O Sr. Presidente Malam Bacai Sanhá não consegue ver a contradição que existe nos seus posicionamentos tentando mostrar a autoridade constitucional que representa como Chefe do Estado e o desrespeito por essa mesma autoridade, à vista de todos, manifestado pela ordem de detenção de José Zamora Induta, por parte dos militares revoltosos?

Afinal, é o poder eleito quem detém o poder, ou são os militares revoltosos, Sr. Presidente Malam Bacai Sanhá?

Ponto 2- Se tudo voltou à normalidade, por que esperam as autoridades competentes para suspender de funções o ainda Vice-Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, António Indjai, quando há várias matérias de âmbito criminal relacionadas com ele?

Ponto 3- Deixando de estar refugiado nas instalações das Nações Unidas em Bissau e se tudo voltou à normalidade, por que esperam as autoridades competentes para agir contra o Almirante Bubo Na Tchuto, que participou na sublevação do dia 01 de Abril, tendo ameaçado publicamente cometer barbaridades contra a população que se manifestava a favor do Sr. Primeiro-ministro Carlos Gomes Jr.?

Ponto 4- (...) Através da Inteligência militar, o Presidente, primeiro-ministro e o Procurador-Geral da Republica, são informados do sucedido, mas Malam Bacai Sanha opta por desmentir o ocorrido em Cufar a fim de continuar a preservar a «boa imagem da Guiné-Bissau» face aos seus parceiros internacionais.

Sr. Presidente Malam Bacai Sanhá, não tenho a sua versão sobre a notícia, mas se realmente for verdade que o Sr. Presidente decidiu desmentir o ocorrido no aeroporto de Cufar, afim de continuar a preservar a boa imagem da Guiné-Bissau face aos seus parceiros internacionais, digo-lhe que agiu muito mal e pôs em causa toda a sua credibilidade e, por assim dizer, a credibilidade do próprio Estado!

Se o Sr. Presidente realmente desmentiu o ocorrido, alegando preservar a boa imagem do país, ninguém voltará a acreditar que o Sr. Presidente está determinado a combater o narcotráfico... É caso para perguntar: quem aconselhou o Sr. Presidente a preferir a mentira, quando a verdade nunca esteve tão perto na Guiné-Bissau? 

O Sr. Presidente Malam Bacai Sanhá pelos vistos esqueceu-se da velha máxima: "quem mente uma vez mente sempre" e aí, mesmo aceitando os seus argumentos, jamais alguém acreditará nas suas palavras ou gestos.

A Guiné-Bissau não precisa sustentar-se na mentira para encobrir os seus males, Sr. Presidente. Não é escondendo o lixo que se fica com a casa limpa...

Ponto 5- Como vai conseguir convencer-nos e aos parceiros da Guiné-Bissau, Sr. Presidente, de não ser parte de tudo o que aconteceu no dia 01 de Abril na Guiné-Bissau, quando os revoltosos continuam impunes e as detenções mandadas efectuar por eles mantêm-se válidas?

Afinal, Sr. Presidente da República, quem manda na Guiné-Bissau?!

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

A GUINÉ-BISSAU DE 01 DE MARÇO DE 2009 A 01 DE ABRIL DE 2010 02.04.2010

PR e PM não convencem comunidade internacional
Guiné-Bissau: O regresso ao paraíso do narcotráfico
2010-04-03 14:44:06

Bissau – As declarações do Presidente guineense e as garantias do Chefe do Executivo não convenceram a comunidade internacional. Com o golpe militar desta quinta-feira a Guiné-Bissau reabriu as portas ao narcotráfico.

Solenemente, perante uma amálgama de jornalistas, o antigo fiel de Zamora Induta, Dahaba Na Walna, porta-voz do Estado-maior General das Forças Armadas, justificou as razões que levaram à detenção do deposto CEMGFA Induta.

Argumentos que não convenceram a comunidade internacional. Samba Djaló foi acusado de ter difundido através da internet uma carta que revelaria as já conhecidas clivagens no interior do PAIGC. Dahaba Na Walna realçou também o papel de «vítima» de Bubo Na Tchuto o qual é qualificado na edição de hoje, 03 de Abril, do prestigiado jornal «Le Fígaro» como o «Almirante da Coca». Paradoxalmente, enquanto realçou a presumível inocência de Bubo Na Tchuto, não se esquivou de acusar Zamora Induta de «tentativa de assassinato do vice CEMG Antonio Indjai, coronel Carlitos Cunda e do tenente-coronel Tcham Naman».

Por fim dá, também, um veredicto final quando alegou que foi encontrado, supostamente na residência de Induta, «um depósito de armas (...), com mais de 30 espingardas automáticas AKM e lança granadas». Um argumento pouco credível quando as armas proliferam na Guiné-Bissau, e muitos reputados civis possuem pequenos «depósitos de armas», devido aos receios de a todo o momento disparar uma revolta militar ou Golpe de Estado, cada vez mais frequentes no país.

Para sustentar as teses das culpabilidades de Zamora Induta e Samba Djaló começaram já a circular nas ruas da capital guineense rumores que indicam que estes dois seriam os responsáveis dos assassinatos de «Nino» Vieira e Tagmé Na Waie.

Apesar da insistência do Presidente guineense, Malam Bacai Sanha, a comunidade internacional não está convicta que a Guiné-Bissau regressou a um «Estado de Direito». O Presidente, que contrariamente ao primeiro-ministro, não foi incomodado pelos fiéis de Antonio Indjai durante o Golpe militar, escuda-se num comprometedor documento assinado a 05 de Março onde Indjai confessou a sua implicação directa numa operação de tráfico ocorrida na noite de 28 de Fevereiro para 01 de Março no aeródromo de Cufar, sul da Guiné, no município de Catió.

Na manhã de 28 de Fevereiro vários indivíduos «brancos e negros» foram vistos a transportarem combustível para o aquartelamento de Cufar, próximo do aeródromo. Por volta das 20h00 foram acesas fogueiras e militares garantiram um perímetro de «segurança» em torno da pista. Por volta das 00h30, 01 de Março, aterrou um avião, de maior porte que os precedentes em operações semelhantes, e durante uma hora foi efectuada a transferência da droga entre os veículos estacionados na pista e o avião. Por volta das 01h30 o avião descolou. A operação estava terminada. No mesmo dia, às 09:00 horas o Comissário da Polícia de Catió decidiu deslocar-se a Cufar para tentar apurar alguns pormenores do ocorrido.

Através da Inteligência militar, o Presidente, primeiro-ministro e o Procurador-Geral da Republica, são informados do sucedido, mas Malam Bacai Sanha opta por desmentir o ocorrido em Cufar a fim de continuar a preservar a «boa imagem da Guiné-Bissau» face aos seus parceiros internacionais. Mesmo assim, a 03 de Março, é constituída uma comissão pelos Serviços de Informações de Estado com a missão apurar os pormenores da questão do «avião em Cufar» e apurarem o envolvimento de «altas hierarquias militares», entre os quais António Indjai que acabou por reconhecer a sua responsabilidade directa da operação de narcotráfico em Cufar.

Logo após a assinatura da confissão de António Indjai, de etnia balanta tal como Bubo Na Tchuto, foi detectada uma grande agitação no seio das forças armadas que indicavam a eventualidade de um «levantamento dos balantas no seio das FA», também acólitos do ex presidente Kumba Ialá. Uma situação que o então CEMGFA Zamora Induta tentou controlar, procurando deter e estancar a participação das hierarquias militares no narcotráfico. Mas no domingo, 07 de Março, António Indjai, apesar de estar «sob estreita vigilância» deslocara-se ao destacamento de São Domingos. A preparação do Golpe militar estava em curso, e o circulo próximo do Presidente da República estava ao corrente.

As ligações da «entourage» presidencial com o narcotráfico não são virgens. Por exemplo, o seu chefe de Gabinete defendeu na barra de tribunal guineense vários narcotraficantes sul americanos detidos no pasado em Bissau.

«Estes acontecimentos têm uma ligação directa com a droga, afirma o investigador Vincent Foucher nas páginas do Fígaro, uma vez que o primeiro-ministro e o ex chefe de Estado Maior tinham o general Indjai em linha de mira por negócios de tráfico de cocaína».

Passou despercebido a muitos correspondentes europeus em Bissau, mas a população da cidade ficou surpreendida quando esta sexta-feira quando viram, nas ruas da capital, pequenos e grandes traficantes, que estavam na sombra e mantinham uma discrição absoluta, manifestarem-se eufórica e alegremente nas suas viaturas, comemorando o regresso a um «estado» que lhes convém. Guiné-Bissau regressa ao paraíso do narcotráfico.

Rodrigo Nunes


(c) PNN Portuguese News Network

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