Para a melhoria do nosso trabalho político
Amilcar Cabral
Vamos dizer alguma coisa sobre o que temos de fazer neste momento, para tornarmos mais
rápida a vitória do nosso povo nas várias frentes de resistência.
Que devemos fazer?
Devemos melhorar o nosso trabalho político. Devemos organizar cada vez melhor as nossas
Forças Armadas, e fazê-las agir cada vez mais intensivamente; reforçar e consolidar cada dia
mais as nossas regiões libertadas; orientar cada vez melhor a nossa gente em todos os planos das
suas actividades e orientar bem os nossos estudantes, os nossos quadros em formação; agir cada
vez com mais eficácia, com mais consciência e melhores resultados no plano exterior, nas nossas
relações com a África e com o mundo em geral.
Devemos melhorar cada dia mais as nossas cabeças e o nosso comportamento, para servir melhor
o nosso grande Partido ao serviço do nosso povo na Guiné e Cabo Verde.
Nunca é demais dizer que o trabalho político é um trabalho fundamental da nossa luta, tão
fundamental que, como vos disse há pouco, cada tiro é um acto político também. Tão
fundamental que, para o nosso Partido, os dirigentes na luta armada são dirigentes políticos. O
camarada Nino neste momento está a fazer esforços para cumprir um plano que eu elaborei de
ponta a ponta, depois de discutir com eles todos, para desenvolver um novo tipo de acção na
nossa luta, através duma operação. Ele é que é comandante-chefe dessa operação e é membro do
Bureau Político do nosso Partido. Qualquer dirigente da nossa luta armada, como o Tchutchu ou
o Bobô, que estão aqui sentados, ou o Lúcio ou o Nandigna, ou outros que aqui estão, também
são dirigentes do Partido, da sua Direcção Política, e até alguns deles já foram membros dos
Comités do Partido em certa altura. Cabeças dos Comités do Partido, ou simples membros do
Comité Regional. Portanto, nós sentimos que não fazemos distinção entre política e outras coisas,
porque tratar da saúde da nossa gente, ensinar, fornecer à nossa população tecidos e outras coisas
para poderem melhorar a sua vida, é política. Dar tiros, trabalhar no plano internacional, é
política. Mas dado que a nossa vida é complexa, com várias funções, há pessoas que têm um
trabalho concreto, que é dedicarem-se ao trabalho político. Dirigidos pela Direcção Superior do
Partido, por diversos escalões da Direcção do Partido, os nossos comissários políticos têm
funções de trabalho político, seja ao nível Inter-Regional ou de Zona, ajudados pelas brigadas
políticas. Mas os Comités do Partido os comités de tabanca, também devem fazer trabalho
político. Este é um órgão fundamentalmente político também.
O trabalho político dos nossos comissários políticos, como o de todos aqueles que trabalham em
política ajudados por todos os outros responsáveis do Partido, de qualquer nível, é um trabalho
que é decisivo para a nossa luta. Podemos derrotar os tugas em Buba ou em Bula podemos entrar
e tomar Bissau, mas se a nossa população não estiver politicamente bem formada, agarrada à luta
como deve ser, perdemos a guerra, não a ganhamos. Por isso é fundamental que os nossos
comissários políticos entendam isso claro, entendem a importância do seu trabalho, mas que
todos os Comités Inter-Regionais ou de Zonas entendam a importância do seu trabalho, porque
eles é que são os órgãos políticos do Partido, para trabalhar com a nossa gente. Seja membro de
segurança, comissário político, responsável de saúde instrução, abastecimento, eles é que são a
força política para agir cada dia, para melhorar o nosso trabalho.
É evidente que as vitórias das nossas Forças Armadas têm que forçar o trabalho político. Por
exemplo, alguns camaradas nossos procuram conquistar a população fula das áreas entre Quirafo
e Bangacia, mas quando essa gente ouve dizer que os tugas saíram de Madina Xaquili, mais fácil
é fazê-la acreditarem nós. Portanto, vemos como é que as coisas se conjugam para ajudar sempre
o trabalho político.
O que é preciso é que nós, membros do Comité Inter-Regional ou de Zona, sejamos capazes e
dedicados ao nosso Partido. É preciso identificar-se totalmente com os interesses do nosso
Partido. A primeira condição para melhorarmos o nosso trabalho político é melhorar os nossos
trabalhadores políticos. É fundamental que os nossos comissários políticos, os nossos
responsáveis da Milícia, da Segurança, da Saúde, da Instrução, tenham uma consciência bem
elevada do seu trabalho. Devem ser aqueles que mais querem o nosso Partido, que mais amor têm
pelo nosso povo e que estão mais decididos a aplicar na prática as palavras de ordem do Partido.
Têm que ser pessoas capazes de gritar bem alto o nome do Partido, da Direcção do Partido,
devem ter confiança na Direcção do Partido. Têm que ser pessoas que, para corresponderem ao
seu desejo consciente de morrer pelo nosso Partido, têm que trabalhar cada dia, de manhã à noite,
para o nosso Partido, o que é bem mais fácil do que morrer, dar a sua vida. Têm que ser pessoas
que devem estar vigilantes, sejam ou não dos Serviços de Segurança, vigilantes diante de toda a
tentativa de estragar o nosso Partido, de trair o nosso Partido. Têm que ser pessoas capazes de ser
amigas só dos amigos do nosso Partido, inimigos fortes de todos os inimigos do nosso Partido.
Têm que ser pessoas capazes de não aceitarem nenhum acto contra os interesses do nosso Partido,
e que, quando tiverem que falar diante do nosso povo, diante dos dirigentes, em qualquer meio,
sobre problemas do nosso Partido, eles são aqueles que devem gritar mais, que levantam mais
alto a bandeira do nosso Partido, o nome do nosso Partido. Eles é que têm que levar as massas
atrás deles. Têm que ser capazes de estar atrás das massas, no meio das nossas massas, à frente
das nossas massas, para as arrastarem elevando sempre mais do que toda a gente a bandeira do
nosso Partido. Não podemos dizer, até hoje, que têm estado no nossos Comités só os melhores
militantes do nosso Partido. Alguns não são nada os melhores, outros até têm medo de falar no
Partido a sério. De ora em diante, vocês todos têm que trabalhar para pormos à frente dos nossos
Comités do Partido gente que é de facto Partido e que, abrindo-lhes o coração, só
encontramos a bandeira do Partido, abrindo-lhes a cabeça, só encontramos ideias do Partido, se
lhes dermos a palavra, gritam alto, bem alto, o nome do Partido, para levantarem toda a gente
para lutar pelo nosso Partido. E de noite ou de dia, a qualquer hora que for necessário trabalhar,
eles estão pegados teso no trabalho do nosso Partido. Esta é a primeira condição para
melhorarmos o nosso trabalho político, melhorar o trabalho da nossa gente, melhorar a nossa
gente que está ligada ao trabalho directo, exclusivo do Partido, do ponto de vista civil e político.
Temos que melhorar o trabalho no seio do nosso povo, temos que fazer reuniões com o nosso
povo, o máximo que pudermos. Os comissários políticos de zona, têm que estar em contacto
permanente com as tabancas, dentro da sua zona, em permanente contacto, reunidos com a sua
gente, reunindo-se sempre com ela, com os Comités do Partido, fazendo reuniões de tabanca,
discutindo os problemas das pessoas, procurando saber o que se passa, para ajudar a resolver os
problemas. A Segurança deve estar com eles, fazendo também esse trabalho. A Saúde, a
Instrução, fiscalizando, ajudando, resolvendo problemas. Tem que ser assim, temos que estar
permanentemente mobilizando, organizando o nosso povo, ajudando os nossos comités de
tabanca a fazerem as suas reuniões para discutirem os seus problemas, ajudando a nossa gente a
mandar em si mesma, a resolver os seus próprios problemas. Só assim é que podemos de facto
corresponder às exigências da nossa luta, hoje. E esse trabalho tem de ser feito na vigilância, em
relação a todos os actos do inimigo, quer infiltração do inimigo no nosso seio, —aí está a
segurança para ver isso —a propaganda do inimigo na sua Rádio ou de qualquer outra maneira;
temos de o neutralizar imediatamente. Temos de esclarecer as nossas massas, a nossa população
sobre os problemas, os enganos que os tugas querem meter-lhe na cabeça. O trabalho político tem
de ser um trabalho permanente no seio do nosso povo. Todos sabemos bem o que devemos fazer.
Devemos também melhorar cada dia o trabalho político no seio das Forças Armadas. Toda a
nossa gente ligada ao trabalho político, incluindo os comandantes e os comissários políticos das
nossas Forças Armadas, devem trabalhar para melhorar as condições políticas das nossas Forças
Armadas. Não pode haver uma distância grande entre o comissário político de zona ou da
Inter-Região e as Forças Armadas. Não. O comissário político da Inter-Região, o membro de
Segurança da Inter-Região, a Milícia Popular da Inter-Região ou de Zona, tudo isso também é
Força Armada, basta termos dado ordens para que todos tenham armas nas mãos. Essas são as
Forças Armadas destacadas no trabalho político. Os das Forças Armadas são políticos destacados
no trabalho da luta armada. Portanto, não deve haver distâncias grandes, eles devem estar sempre
em harmonia, vivendo mãos nas mãos, trabalhando politicamente juntos.
E os comissários políticos de zona devem fazer de vez em quando reuniões com as Forças Armadas que estão
nessa zona, ligados ao comissário político das Forças Armadas. Devem falar das relações com a
população, discutir problemas sobre a população, sobre as Forças Armadas, que agiram mal ou
bem, para elogiar os que agiram bem, para combinarem a maneira de reforçarem mais a ajuda à
população, para a população ajudar as Forças Armadas, para coordenar o seu trabalho, entre as
Forças Armadas e a população, para fazerem um só corpo. Não é que o comissário político e o
Comité sejam uma coisa e o comissário político do comando seja outra, e que cada um trabalhe
do seu lado, virando as costas ao outro. Não pode ser assim. Devemos dizer claro que hoje, nas
nossas Forças Armadas, alguns comissários políticos não são comissários políticos nada, nunca
souberam fazer uma reunião política, nunca fazem reuniões políticas com os camaradas do
Partido que estão nas Forças Armadas. Em geral, noutras terras, as Forças Armadas têm gente do
Partido e gente que não é do Partido. Nós aceitamos que todos os camaradas das Forças Armadas
sejam do Partido, temos que os trabalhar, explicar-lhes.
Há camaradas que morrem nas frentes de combate sem saberem o que é o Partido. Porquê?
Às vezes só porque os nossos comissários políticos não sabem o que é o Partido. Temos que acabar com isso. Há os que sabem bem, mesmo
sem instrução às vezes, mas sabem bem. Há os que fazem trabalho político a sério, mas grande
parte não faz trabalho político no seio das Forças Armadas, e às vezes o próprio comandante não
deixa o comissário político fazer nada, porque ele, comandante, é que manda em tudo.
Esquece-se de que o primeiro comissário político é ele mesmo. Ele é comissário político e é
comandante, o outro é comissário político. Devem trabalhar juntos, fazer política juntos, junto
das nossas Forças Armadas, porque, quanto mais politizadas forem as nossas Forças Armadas,
maior é a certeza na segurança da nossa terra e na vitória da nossa luta. Há também palavras de
ordem claras, relativas ao trabalho político nas nossas Forças Armadas, e não é preciso repetir
tudo aqui; vou lembrar apenas certos aspectos fundamentais.
Devemos cada dia seleccionar melhor os nossos dirigentes, os nossos responsáveis, os nossos
militantes. Como vos disse, até hoje, para ser do nosso Partido, basta querer correr com os tugas
da nossa terra, os tugas colonialistas, e querer o PAIGC. Há mesmo um juramento para o PAIGC.
Fizemo-lo durante bastante tempo, mas depois parámos de o fazer. No começo, no tempo difícil,
quando se entrava no Partido era preciso jurar e quem acreditava na cola, tinha que comer cola.
Acabámos com isso, depois, porque a luta cresceu muito, havia muita gente para comer cola, e
até me lembro que o camarada Tiago, que punha as pessoas no Partido a fazer juramento, passou
depois a sofrer um bocado porque comia muita cola. Acabámos um pouco com isso, mas no
fundo, na consciência de cada um, quando entra no PAIGC, jura, mesmo que não fale, mesmo
que não assine carta nenhuma. Mas a pouco e pouco, para ser militante do nosso Partido, é
preciso dar provas concretas. Hoje ainda não; amanhã, para ser militante de facto do nosso
Partido, é preciso dar provas concretas de que satisfaz certas condições, é preciso conhecer bem o
Programa do Partido, é preciso saber o que é que o Partido quer, para o tomarmos em
consciência, para não vir entrar e depois não saber o que era afinal. E cada dia devemos ser mais
rigorosos com os nossos responsáveis e os nossos dirigentes; a cabeça tem que dar exemplo.
A autoridade tem que ser baseada no trabalho sério, no bom cumprimento do dever, e na conduta
ou comportamento exemplar para toda a gente. Cada dia temos que exigir mais dos nossos
responsáveis. Através da luta difícil que tivemos, formaram-se alguns responsáveis bastante
razoáveis, mas devemos reconhecer que não tivemos tempo nem possibilidades de agir mais
rigorosamente com outros responsáveis. Não vou repetir aqui todos os elogios que podemos fazer
a alguns responsáveis do nosso Partido, sejam eles comissários políticos, membros de segurança,
chefes de forças armadas, que têm trabalhado com bastante coragem, com bastante acerto,
embora cometendo um ou outro erro de vez em quando. Não vou repetir também (já o disse
através da minha conversa)os erros que os nossos responsáveis têm cometido. A crítica disso
ainda é válida—fizemo-la já naquele documento que chamámos «Sobre a reorganização das
Forças Armadas», e os nossos camaradas devem lê-lo, porque lá está escrito tudo claramente,
abertamente, explicando até porque é que a maior parte dos nossos responsáveis que cometem
mais erros, são aqueles que saíram das cidades.
Hoje, neste seminário, chamo a atenção dos camaradas para tudo quanto já criticámos através de
outras conversas, e chamo a atenção dos camaradas para o facto de que chegou a hora de
acabarmos com os erros dos responsáveis.
Chegou o momento de acabarmos com os responsáveis que quando recebem as palavras de ordem do Partido as deitam para o lado,
guardam-nas para não se perderem, mas não lêem. Chegou o momento de acabarmos com responsáveis ou
dirigentes que nunca fazem um relatório sobre a situação do seu trabalho. Chegou a hora de acabarmos com os responsáveis de qualquer nível, mesmo dirigentes do
Partido, que preferem a paródia à vida séria, de trabalho e estudo. Chegou o momento de
acabarmos com responsáveis e dirigentes que têm mais do que uma mulher e que, na luta, têm
feito mais filhos que trabalho. Chegou o momento de acabarmos com os responsáveis e dirigentes que não são capazes de
estudar para melhorarem os seus conhecimentos, mesmo no meio do mato, para serem cada dia
mais responsáveis, mais dirigentes a sério. Chegou o momento de acabarmos com os
responsáveis ou dirigentes que, quando se lhes pergunta qualquer coisa sobre o seu trabalho,
dizem mentiras. Chegou o momento de acabarmos com responsáveis e dirigentes que são capazes
de prejudicar os outros para não os deixarem avançar, com medo que lhes tirem o lugar. Chegou
o momento de acabarmos com responsáveis e dirigentes que, quando são transferidos para outro
lado, pensam que vão para morrer, porque perderam o lugar, porque lá onde estavam já tinham
formado o seu regulado.
Chegou o momento de acabarmos com responsáveis ou dirigentes que não são capazes de se
entender com os seus camaradas numa Frente ou num Comité Inter-Regional. Chegou o
momento de acabarmos com responsáveis ou dirigentes que não querem que as nossas mulheres
avancem também, para serem responsáveis ou dirigentes. Chegou o momento de acabarmos com
responsáveis e dirigentes que são capazes de não respeitar os dirigentes ou responsáveis que estão
acima deles. Chegou o momento de acabarmos com responsáveis e dirigentes que não mostram
em cada acto seu, amor pelo nosso Partido, respeito pela Direcção do nosso Partido, tendo em
consideração que a coisa mais importante da sua vida é o trabalho do Partido.
Mas somos nós todos que temos de acabar com isso. Chegou o momento de acabarmos completamente com o
medo dos responsáveis ou dirigentes do Partido. Não é necessário o medo pela autoridade. E
quem abusa da autoridade está a cometer um crime pior do que os dos colonialistas portugueses.
Chegou a hora também de levantarmos bem alto o nome daqueles militantes, responsáveis e
dirigentes que têm sabido cumprir o trabalho do Partido, dando exemplo a outros, mostrando o
caminho recto que devemos seguir no nosso trabalho. Cada responsável, cada dirigente, deve ter
sempre bem presente que nós somos uma organização, por isso devemos estar organizados. Há
camaradas que preferem coisas que não estão organizadas para escaparem ao controle. Há
camaradas nossos que, se mandarmos alguém para ir ver o que eles estão a fazer, pensam que vai
para os espiar. Chegou o momento de estabelecermos todo um serviço de controle como deve ser,
para cada um sentir claramente se ele é dirigente ou responsável, que o controle e inspecção é
para o servir, para o ajudar a andar cada vez melhor.
Chegou o momento de considerarmos como verdadeiros Comités do Partido, aqueles que são capazes de se reunir de facto, periodicamente,
como o Partido manda, de estudar os problemas, como o Partido manda, de fazer relatórios, como
o Partido manda. Quem não é capaz disso, não é dirigente nem responsável do Partido, não é
Comité nenhum . É mentira, ele engana-se e está a enganar-nos. Chegou o momento de fazermos
os nossos Comités de tabanca reunirem a sério, periodicamente, para discutirem os seus
problemas, dar satisfação, e receberem também satisfação dos dirigentes dos Comités de Zona ou
Inter-Região, para apalparem, tomaram pulso, para saberem o que se passa na nossa terra a sério ,
para resolverem os problemas antes que se tornem piores. E neste quadro, para garantirmos o
futuro do nosso Partido, devemos fazer tudo, para fazermos avançar os camaradas novos que têm
mostrado capacidade para serem responsáveis, para dirigirem.
E no quadro dessa necessidade, uma necessidade grande que se nos depara hoje é a de reforçar o
nosso serviço de Segurança. Podemos trabalhar muito, morrer na luta, cansarmo-nos,
apoquentarmo-nos, envelhecer, adoecer, etc., mas se deixarmos a «baga-baga» comer o nosso
pau por dentro, qualquer dia encostamo-nos ao pau e ele cai porque já está todo podre.
Baga-baga, tanto podem ser os agentes dos tugas no nosso meio, como nós mesmos, cada um de
nós.
Por exemplo: é mais perigoso para nós um responsável ou um dirigente que se embebeda do que
um agente dos tugas, porque ele, além de não cumprir o seu dever como deve ser, dá mau
exemplo e, além disso, mata-se com bebidas. Ora o que querem os tugas é que ele morra mesmo,
que ele não trabalhe bem. Um responsável ou dirigente do Partido cuja preocupação é, em
qualquer lado que chegue, procurar as raparigas mais bonitas para conquistá-las, esse está a agir
pior do que um agente dos tugas. Porque, primeiro, está a cortar-nos a possibilidade de dignificar,
de levantar as mulheres da nossa terra; segundo, está a dar mau exemplo para toda a gente, tanto
aos outros responsáveis como aos militantes e combatentes e, além disso, desmobiliza o nosso
povo; terceiro, estraga a sua cabeça como dirigente, como responsável.
Um bom responsável do nosso Partido hoje, um bom dirigente, que cumpre o seu dever como deve ser e que tem
consciência da nossa luta, tem que ser capaz, como um homem que tem necessidade de uma
mulher, ou como uma mulher que tem necessidade de um homem —porque é normal
ter-se uma companhia —de escolher seriamente a sua companhia, para dar exemplo como deve ser. Nas
condições da nossa terra, qualquer pessoa que manda pode ter, em geral, tantas mulheres quantas
quer. Essa é que é a África de hoje ainda. Vejamos os ministros da África em geral: quantas
mulheres têm? Mas não avançam nada com a sua terra. Temos que cortar isso na nossa terra
completamente. Cada responsável ou dirigente nosso tem que dar exemplo, bons exemplos, para
todos seguirem e para terem autoridade para castigar os outros quando chegar o momento de
castigar.
Mas no quadro da nossa segurança temos que ver tudo isso, temos que ser vigilantes em relação a
isso. Segurança não é só apanhar agentes dos tugas, evitar que o nosso povo vá vender arroz aos
tugas. Esse é um problema, por exemplo, o de vender arroz; se nós trabalhássemos bem,
controlássemos, podíamos até mandar a nossa gente ir vender arroz aos tugas para obter
informações, para fazer espionagem e até também para obter certas coisas que nós não podemos
ter ainda. Infelizmente, cremos que é um tanto difícil nas nossas condições. Mas a segurança
também é o seguinte: « eu estou ao teu lado, tu és dirigente, ages mal, digo-te claro:
queixo-me de ti».
Por exemplo; não é proibido beber, toda a gente pode beber, se não for muçulmano, mas na
medida. Mas na medida é difícil, porque cada um tem a sua barriga. Devemos evitar a bebida ao
máximo e um agente de segurança deve estar sempre pronto para condenar abertamente, seja
comandante, dirigente do Partido, mesmo o Secretário Geral, com todo o respeito que tenha por
eles; mas se se embebeda, prende-o. Isto é que é segurança. «Pára, porque estás a estragar o nosso
trabalho,» isso é que é segurança de facto. Não aquela segurança que, para agradar ao
responsável, arranja-lhe bebida e ainda faz paródia com ele. Esse não é segurança, esse é
cúmplice na destruição da nossa luta.
Mas temos que reforçar a segurança da nossa luta, em relação ao inimigo. O inimigo está a
trabalhar muito. Temos que reforçar a nossa segurança, com base nos nossos serviços de
segurança, que temos que desenvolver cada vez mais, mais a sério. O Partido tem preparado
muitos quadros no ramo da segurança. Infelizmente, vários não têm mostrado que aprenderam de
facto, de verdade, esse trabalho, porque têm tido muita falta de iniciativa.
Temos que basear a nossa segurança no trabalho da nossa milícia popular, que é um instrumento
de segurança nas nossas áreas libertadas. Temos feito esforço para organizar a nossa milícia
popular, alguns responsáveis têm feito esforços, seja individualmente, seja no quadro dos nossos
comités de milícia popular, ligados ao Comité Inter-Regional. Mas temos que fazer muito mais.
Temos que organizar a milícia popular, não como bigrupos, como alguns têm tendência para
organizar, até para criar bases de milícia popular, não. A milícia popular é no meio do povo que
deve estar, nas tabancas ou no meio do povo no mato. Os melhores filhos da nossa terra que
estão nas tabancas e que ainda não entraram no Exército, esses é que devem ser a nossa milícia
popular, bons militantes, que deram provas, jovens: segundo definimos, entre os 15 e os 30 anos
de idade, para desempenharem um papel concreto, que é o reforço da nossa segurança e o
trabalho de auto-defesa em relação tanto a ladrões que o inimigo manda, como em relação a
invasões da parte do inimigo. A vanguarda da nossa população nas tabancas, nas áreas libertadas,
deve ser a nossa Milícia Popular, ligada ao Comité Inter-Regional ao Comissário Político do
Partido. Devemos formar dentro de cada área, grupos de milícia popular nas tabancas, e, entre
diversas tabancas, podemos também formar grupos de milícia popular. Milícia Popular é gente
que trabalha na sua casa, na lavoura, etc., mas quando for preciso, imediatamente, deve
reunir-se, quando for preciso para um trabalho deve vir. Devemos treinar a nossa milícia popular na arte da
guerra, na arte da vigilância, de fazer patrulhas, etc..
E devemos levar para diante aquela palavra de ordem do Partido que já foi dada, de armar a nossa
milícia popular. Já se começou, mas ainda não se acabou até agora. Algumas armas enferrujaram,
algumas estão na fronteira, à espera para serem entregues á milícia popular.
Outras armas chegaram às áreas da milícia popular, não foram distribuídas como deve ser e os tugas vieram e
apanharam-nas ainda recentemente, na área de Fifioli, no sector 2 da Frente Leste. Há armas para
a milícia popular tanto «Ricos», que pusemos à disposição da milícia popular, como carabinas de
vários tipos, à disposição da milícia popular, que até hoje ainda não distribuímos como deve
ser
.
Devemos reforçar a nossa segurança, tanto armada como civil, pondo a trabalhar também
elementos da população com armas nas mãos. Demos a palavra de ordem para armar a
população. Nós mesmos começámos a armar a população na área de Quitáfine; a primeira
distribuição de armas, fizemo-la nós mesmos. Esse trabalho não tem avançado como deve ser.
Devemos, portanto, fazer força para melhorar isso, porque isso é melhorar o nosso trabalho
político.
Outro trabalho importante que devemos fazer é reforçar a nossa organização, a nossa ligação com
os centros urbanos onde o inimigo ainda está, melhorar a organização do Partido escondida nos
centros urbanos. Mas quem está no mato como comissário político, como Comité Inter-Regional,
como Comité de Zona, deve, na sua área, manter ligação estreita com os nossos camaradas e os
nossos irmãos dentro das cidades que querem de facto lutar pelo nosso Partido. Temos que ser
capazes de enviar agentes para as cidades para preparar a nossa gente, para trabalhar com a nossa
gente. Raro, infelizmente, é o responsável do Partido que tenha feito isso a sério. Têm-se
esquecido que a nossa terra também é nas cidades, seja Bissau, Bafatá, Bambadinca, Mansoa,
Bissorã, Catió, etc. A verdade é que há alguns, tanto da segurança como políticos, que têm de
facto desenvolvido o seu trabalho. Mas o que nós fizemos ainda não chega, temos que fazer
muito mais. Temos que reforçar, e isso é um serviço da nossa segurança, principalmente, mas
todos os nossos políticos, trabalhadores de política, devem reforçar a organização clandestina do
nosso Partido dentro dos centros urbanos. Se não há em qualquer centro urbano, devemos ser
capazes de mandar um ou dois destacados para lá, disfarçados, para organizarem como deve ser.
Isso é fundamental. Não podemos, de maneira nenhuma, preparar dezenas e dezenas de quadros
para os serviços de segurança, aos quais se ensina o trabalho clandestino, espionagem,
organização clandestina, trabalho com explosivos, etc., etc., contra-espionagem, observação, etc.,
para depois chegarem à nossa terra, sentarem-se e não fazerem nada. Um fulano não é da
segurança porque é capaz de apanhar alguém que vai vender arroz aos tugas. Isso não chega.
Chegou o momento de pormos essa gente da segurança a trabalhar mesmo nos centros urbanos,
para estabelecerem novas organizações, para avançarem com o nosso Partido nesses lugares. Isso
é fundamental.
Devemos, para melhorar o nosso trabalho, reforçar e consolidar cada dia mais as nossas regiões
libertadas. A nossa luta atingiu um grande avanço, um rápido avanço, e talvez até, no começo,
um avanço demasiado rápido e, em pouco tempo, encontrámo-nos diante duma grande
responsabilidade que é a de ter áreas libertadas. Isso é muito bom, porque as áreas libertadas são
a base, a retaguarda das nossas forças armadas para avançarmos com a luta, e
permitem-nos, além disso, fazer uma grande experiência da direcção do nosso povo. Mas é uma grande canseira,
porque temos que dirigir o povo, temos que satisfazer o desejos da população, temos que
melhorar a vida da população, organizar melhor a vida da população, temos que trabalhar muito
mais. Mas não há dúvida nenhuma que temos trabalhado um bocado nisso, a ponto dos tugas
reconhecerem que, na maioria das nossas áreas libertadas, é impossível já o nosso povo voltar a
aceitar a dominação colonialista.
Isso já é um bom trabalho, mas nós temos que fazer ainda mais e melhor trabalho, para
acabarmos completamente com a saída da nossa gente das áreas libertadas, para convencer a
nossa gente a voltar às áreas libertadas da nossa terra, tanto os que foram para as cidades, como
aqueles que saíram para fora da nossa terra. Para consolidarmos mais a organização do Partido
nas áreas libertadas devemos fazer mais ainda. Desenvolver mais o nosso trabalho na instrução,
embora tenhamos diminuído o número de escolas, mas para darem mais rendimento; nos nossos
hospitais, nos nossos postos sanitários, mesmo que sejam poucos, mas devemos trabalhar bem,
para mostrarmos que servem; os nossos armazéns do povo devem funcionar como deve ser. Os
nossos militantes que trabalham nos armazéns do povo não devem furtar. Isso é muito
importante. Devemos fazer tudo para o nosso povo, nas áreas libertadas, ter a capacidade de
controlar os nossos armazéns do povo.
Para construirmos as nossas áreas libertadas, a primeira condição é aquela que já dissemos:
melhorar o nosso trabalho político. Para isso é preciso que os dirigentes do Partido, do Comité
Inter-Regional ou de Zona, vivam de facto no meio da população, com a população. Infelizmente,
a tendência é para criar bases centrais. O Comité Inter-Regional tem a sua base, o Comité de
Zona está na sua base, a população está na sua barraca ou na sua tabanca, e o dirigente está longe,
criando um abismo entre ele e a população que dirige. Há muito tempo que demos a palavra de
ordem: os dirigentes dos Comités de Zona e Inter-Regionais devem estar junto do povo; não há
barracas, não há bases, a sua base, se é de zona, deve ser cada barraca do povo, cada tabanca do
povo. Um dia está numa, outro dia noutra, movimentando-se sempre, porque, como dirigente de
Zona, não deve estar parado nunca num mesmo lugar. Isso não só aumenta o rendimento do seu
trabalho, faz-lhe cumprir melhor o seu dever, como aumenta também a sua própria segurança.
Os comissários políticos de Zona, a segurança, os chefes da instrução, os chefes de saúde, os chefes
de abastecimento, nunca devem estar parados, devem estar sempre em ligação do, povo, seguindo
todos os problemas do povo, procurando resolver todos os seus problemas com o povo. O
comissário político da Inter-Região, a segurança, o responsável da instrução, o responsável da
saúde, do abastecimento, da milícia devem estar sempre em movimento através das zonas e até,
se puder ser também, nas barracas e nas tabancas, vivendo sempre com a população. Em cada
lugar que chegar deve reunir-se com os Comités de Zona desses lugares, dando ordens, tomando
pulso para saber como é que as coisas estão, fazendo reuniões com a população, esclarecendo e
ajudando a resolver os problemas que os Comités de Zona não são capazes de resolver, em
ligação íntima com os dirigentes de Zona e, através deles e directamente também, com as nossas
massas populares das zonas libertadas. Assim é que devemos de facto trabalhar muito para dirigir
e aumentar a consolidação das nossas áreas libertadas.
Mas também os nossos comandantes das Forças Armadas, tanto comandantes principais como
comandantes de Corpos do Exército, devem estar em ligação com os combatentes por todo o
lado, não fechados no comando, enquanto as forças agem. Tanto do lado Norte como do lado Sul
do país fecham-se no comando e não têm contactos com as suas forças. Devemos ter forças por
todo o lado. Se há bigrupos no entroncamento de Buba, o comandante deve ir lá vê-los; se estão
para os lados de Nhala, deve ir lá vê-los, ou em Gangénia, ou em Madina de Baixo, na área de
Jabadá, metido entre os tugas; nas imediações de Gantongó, em Sambuia, N'Goré, ou em
qualquer outra base do Norte da nossa terra, na área de Mansabá ou na área de Maqué; um
comandante ou comissário político deve estar junto das Forças Armadas, sempre, sempre em
movimento, marcando um sítio, ou vários sítios, para fazer reuniões com outros responsáveis,
mas sempre em movimento. Além disso, como em geral os nossos comandantes, os nossos responsáveis principais das Forças
Armadas são também dirigentes políticos, eles têm obrigação de reunir com o Comité
Inter-Regional para discutir problemas, para fazerem coordenação de trabalho com os Comités de
Zona, para fazerem coordenação do trabalho até com a população, para ajudarem os comissários
políticos, segurança, etc., a trabalharem. Esta é a melhor maneira para consolidarmos a nossa
situação nas áreas libertadas, na nossa luta em geral.
Devemos estar convencidos de que o lugar dos dirigentes do Partido é no meio da população, não
é sentados em nenhuma base; o lugar dos dirigentes das Forças Armadas, é no meio dos
combatentes, não é sentados em nenhum comando. Pode ter um comando ou um ponto bem
seguro, onde tem, por exemplo, a sua rádio, uma ou duas pessoas de confiança, a sua guarda,
onde pode ir de vez em quando, mas deve estar sempre em movimento, até para a sua própria
segurança. Há responsáveis das nossas Forças Armadas que morreram já porque se sentaram
demasiado nas bases.
Para consolidarmos as nossas regiões libertadas temos que trabalhar mais junto da nossa
população, para aumentar a produção. Temos que ser capazes de fazer o nosso povo lavrar mais
terra, produzir mais arroz; preparar o nosso povo para novas produções mesmo. Porque, mais dia
menos dia, temos que começar a produzir mancarra nas nossas áreas libertadas, para podermos
vendê-la fora da nossa terra, como outros produtos ainda. Temos que levar como palavra de
ordem do Partido, nas áreas libertadas, a diversificação, quer dizer, variar os produtos agrícolas,
para o nosso povo poder comer melhor, para os nossos combatentes também comerem melhor.
Nas áreas libertadas onde há combatentes, temos de fazer os combatentes trabalharem também,
como já dissemos.
Avançar com a nossa agricultura, passo a passo, sem grandes manias, avançar com o trabalho do
nosso artesanato, ajudar a nossa população a fazer panos, esteiras e balaios, potes, moringos e
sobretudo, também, fazer obras de arte, esculturas. Isso pode ser de alto valor para o nosso
Partido e para mostrar às pessoas a nossa capacidade. Devemos trabalhar muito para melhorar
cada dia mais o trabalho do nosso sistema de abastecimento das áreas libertadas em artigos de
primeira necessidade. Um artigo de primeira necessidade, por exemplo, é o sabão; o nosso povo
deve lavar a sua roupa, o seu corpo, etc.. Já começámos a fazer sabão nas nossas áreas libertadas,
mas até hoje não fomos capazes de fazer sabão como deve ser, quando é fácil e temos bastante
óleo de palma. Os nossos responsáveis da produção encarregados disso têm dado algum
resultado, mas muito longe do resultado que de facto podem obter.
Há outras coisas que podemos fazer nas nossas áreas libertadas. Temos que fazer força para ajudar o nosso povo a obter ferro para preparar coisas para a agricultura, para utensílios de lavoura, meios para os nossos ferreiros trabalharem.
Os nossos armazéns do povo têm que saber distribuir bem os produtos que o Partido consegue,
têm que saber guardar e distribuir bem os produtos comprados ao povo em troca por artigos de
primeira necessidade, como tecidos e outras coisas. Até hoje, temos feito um bocado, mas os
nossos armazéns do povo ainda não funcionam bem. Claro que a dificuldade grande é que às
vezes não temos nada para lhes mandar, mas eu falo de quando há. O Partido, no plano exterior,
está a fazer cada dia mais força para aumentar sempre a quantidade de mercadorias. E este ano,
felizmente, temos promessas grandes. Se a nossa luta se mantiver bem, se conseguirmos reter o
inimigo no terreno como deve ser, para não nos fazer mal nenhum, podemos dar ao nosso povo,
este ano, muitos artigos de primeira necessidade. Mas, para isso, temos que distribuir bem, a
horas, como deve ser, sem malandrices, sem procurar enganar o povo. E nós temos que, por outro
lado, rigorosamente, cobrar ao povo as coisas que ele tem que dar: arroz, rola, coconote, cera,
peles de animais, etc.. E os nossos responsáveis da produção devem guardar isso como deve ser,
conservar como deve ser, para ser usado ou vendido correctamente.
Temos que ter controle da produção. Não podemos aceitar a falta de controle. Não podemos
aceitar condições. Como aconteceu, por exemplo, quando pusemos um camarada a controlar a
nossa economia e os camaradas não gostaram; ficaram furiosos com ele, porque ele não os
deixava vender as vacas do Partido. Então apareceram uma série de intrigas contra o camarada,
fizeram que os próprios combatentes se aborrecessem, porque ele não deixava ninguém comer
vacas. Mas a ideia não era essa, era a de fazer com que se revoltassem contra ele para ser tirado de
lá, porque isso impedia alguns responsáveis de vender as vacas. Temos que acabar com isso,
temos que aceitar o controle, aceitar a inspecção. Não por desconfiança, é por causa da segurança.
Temos que melhorar cada dia o nosso ensino, os nossos internatos, a nossa Escola-Piloto. Isso
também é consolidação das nossas áreas libertadas; embora a nossa Escola-Piloto esteja fora, faz
parte das nossas áreas libertadas, porque recebe os melhores, alunos das nossas escolas das áreas
libertadas, está integrada no nosso sistema de ensino das áreas libertadas, e está fora, porque aí
temos melhores condições para podermos fazer nela aquele trabalho que queremos fazer nesta
fase da nossa luta.
Melhorar o nosso ensino, quer dizer, aumentar o número de escolas. Mas aumentar as nossas escolas não chega para melhorar o nosso ensino, às vezes ate pode prejudicar, porque se aumentarmos muito as escoas, depois não temos material suficiente para dar aos alunos, não temos bons professores para fazer os alunos aprender de facto. É melhor ter um certo número de escolas, mesmo poucas, garantindo um bom ensino aos nossos alunos, em todos os níveis que for preciso. E, a pouco e pouco então, à medida que o Partido vai tendo meios, podemos aumentar o número de escolas, sobretudo meios humanos, quer dizer, professores bons. Porque ter professores para não ensinarem nada, só para passar o tempo, isso não vale a pena. Temos que fazer as nossas escolas cumprirem o dever que o Partido lhes deu —ensino, mas também trabalho. Trabalho para manterem a escola como deve ser, trabalho de produzir na agricultura para o alimento dos alunos e dos nossos combatentes, para exercício dos nossos alunos, para ninguém pensar que ir à escola quer dizer não lavrar mais. Uma das desgraças da África, hoje em dia, é a seguinte: quem faz o segundo grau, já não quer pegar no arado ou na enxada para lavrar a terra.
Nós, na nossa terra, mesmo que levemos o nosso povo até ao sétimo ano do liceu, tem que pegar na enxada e no arado, hoje, amanhã em tractores também, para lavrarem a nossa terra como deve ser. Ter internato nas nossas áreas libertadas é bastante importante, mas antes de fazermos internatos temos que ver bem se de facto podemos manter os internatos, se há segurança bastante para os alunos não correrem o risco de serem mortos no internato, se há meios bastantes para podermos ter que comer no internato.
Não podemos criar um internato, na ideia de que o Partido vai mandar comida de fora: o Partido pode fazer esforço,
mandar roupa, sapatos, calções de ginástica, roupa de ginástica em geral, para o internato, livros,
cadernos, lápis, giz, tinta, canetas, etc., mas o internato tem que ter pelo menos a sua comida. A
nossa ordem é esta: o internato que não é capaz de ter a sua comida, fecha. Porque nas condições
da nossa luta, da nossa terra, não podemos pretender mandar comida para os internatos, de fora
da nossa terra. Isso é impossível. O internato deve ser sustentado, ou pelo nosso povo dentro da
nossa terra, que dá comida para os filhos, ou pelo próprio internato que lavra arroz e outros
produtos, para ter a sua comida, para guardar, para comer como deve ser.
A nossa Escola-Piloto, que é um dos elementos essenciais do nosso ensino, que está a abrir
caminho para preparar quadros, para servirem amanhã o futuro da nossa luta, quadros que podem
ser tanto militares como políticos, tanto electricistas como operários de qualquer ramo, como
doutores ou engenheiros ou enfermeiros ou radistas ou outra especialidade qualquer (que
ninguém pense que ir para a Escola-Piloto quer dizer que vai ser só doutor ou engenheiro, porque
engana-se). A Escola-Piloto tem que ser cada dia mais exigente em relação aos alunos que
recebe. Da nossa terra, devemos mandar para a Escola-Piloto os melhores alunos, que tirem as
melhores notas, dentro duma certa trabalhos para fazer. Mas na Escola-Piloto cada dia temos que
ser mais exigentes. No ano passado, por exemplo, só ficaram na Escola-Piloto aqueles que
tiveram pelo menos suficiente. Este ano só ficarão aqueles que tiverem bom, porque a nossa
Escola-Piloto é para a elite dos nossos alunos, quer dizer, para os melhores de todos os nossos
alunos. Porquê? Porque a nossa terra tem muitos meninos jovens, rapazes e raparigas, que
querem vir para a Escola-Piloto para aprender. Não podemos permitir que estejam na
Escola-Piloto rapazes ou raparigas que não aprendem nada, que passam anos reprovando,
guardando lugar, tirando o lugar a outros que querem e têm capacidade dentro da nossa
terra.
Não podemos permitir isso. Fizemos e devemos fazer apenas uma excepção, que é a seguinte:
exigirmos às raparigas um bocado menos que aos rapazes para entrarem na Escola-Piloto,
sobretudo na questão de idade e na questão de avanço nos estudos. Os rapazes só com a quarta
classe. As raparigas, considerando sobretudo que, quando uma rapariga chega à quarta classe, já
está formada e o pai em geral já anda à procura de maneira de a casar, temos que fazer o possível,
se ela tem cabeça, por pegar nela e pô-la logo na Escola-Piloto. Portanto, admiti-las com a
terceira classe e mesmo que tenham quinze ou dezasseis anos, devemos recebê-las, porque nós
queremos fazer a promoção, o avanço das nossas mulheres e o melhor avanço, um dos principais
avanços, é ensinar-lhes a ler e a escrever como deve ser. Essa é a razão por que fizemos diferença
entre rapazes e raparigas na questão de os admitir na Escola-Piloto.
Devemos melhorar cada dia mais, nas nossas regiões libertadas, a assistência sanitária. Durante
um certo tempo, no Norte e no Sul da nossa terra, houve camaradas que trabalharam muito para
avançar com os serviços de saúde e avançaram de facto bastante, e criaram boas raízes para os
nossos serviços de saúde. Fizeram-se hospitais na medida do possível, postos sanitários, foram
criadas brigadas sanitárias. Além da assistência aos nossos combatentes, que é o principal
objectivo da nossa assistência sanitária, porque estamos em guerra, começámos a dar assistência
à nossa população. E então uma grande surpresa surgiu para muitos dos nossos camaradas, que
diziam que o nosso povo não quer doutores, não quer «mézinho de branco», o nosso povo só quer
«mézinho de terra», só quer «djambacós» ou mouros. O nosso povo mostrou que isso é mentira,
o nosso povo aceitou os médicos, interessou-se pelos médicos e pelas enfermeiras.
Mostrou tanto interesse, amizade e estima pelos médicos, que o nosso povo começou a dar aos seus filhos os
nomes dos médicos, os nomes daqueles médicos estrangeiros que vieram ajudar-nos. Essa foi
uma grande revelação para aqueles camaradas que pensavam que o nosso povo quer atraso em
vez de progresso. Não, o nosso povo quer é avanço, como todo e qualquer povo do mundo. Isso
não quer dizer que não haja gente na nossa terra que quer o seu «djambacós», que quando se lhe
dá um medicamento por um lado, por outro lado vai fazer o seu tratamento da terra. Até alguns
responsáveis do Partido, que têm um grande hospital em Boké para se tratarem, que têm bons
enfermeiros e médicos, às vezes dizem-me: — «Cabral, eu quero ir fazer mézinho da terra».
Ainda estamos nessa situação, vamos fazer isso. Mas a verdade é que, cada dia mais, o nosso
povo está a entender que os médicos, os enfermeiros, têm grande importância para a sua vida e
têm salvo a vida a muitos filhos da nossa terra, sem serem combatentes. Mas temos que
melhorar o nosso trabalho de saúde, temos que fazer os nossos enfermeiros e enfermeiras
trabalhar mais, temos que dar exemplo, seja no hospital de Boké, seja nos hospitais dentro da
terra, em qualquer lado. Os nossos enfermeiros e médicos têm que trabalhar mais que os médicos
estrangeiros que nos ajudam. Temos que melhorar a distribuição de medicamentos, temos que
poupar os medicamentos e temos que ter carinho pelos doentes, pelos nossos feridos. Isso deve
ser vigiado, controlado pelos nossos Comités de Zona, pelos nossos Comités Inter-Regionais.
Devemos exercer um controle permanente, sobre o trabalho dos serviços de saúde e dos serviços
de instrução.
Para melhorarmos de facto as nossas áreas libertadas, temos que ser capazes, desde agora, de
estabelecer um princípio e uma prática que pode levantar muito o nosso povo e que é o seguinte:
vemos quem é capaz de fazer melhor, na amizade, na estima e na colaboração. Quer dizer,
devemos estabelecer no nosso meio aquilo a que se chama emulação construtiva, quer dizer,
concorrência, mas para o bem, não para a nossa barriga mas para servirmos o nosso Partido, o
nosso povo. Tu e eu, nós trabalhamos num ramo qualquer, que é de nós os dois. Eu
ajudo-te, tu ajudas-me, mas vamos procurar fazer cada um o mais que puder. E aquele que fizer mais,
devemos levantá-lo bem alto, mas sem inveja, sem puxa-puxa, sem dar com o cotovelo no outro.
Por exemplo, os nossos comissários políticos devem fazer o seguinte: —«Camaradas, entre a
população desta área, desta terra quem produzir mais arroz este ano, tem um prémio ou uma
medalha do Partido e, além disso, o Partido vai convidá-lo para ir para o estrangeiro, conhecer
outras terras», isso por exemplo. Quem produzir mais batatas, a mesma coisa, mais mandioca, a
mesma coisa. Isso é que se chama emulação construtiva. Mas, no quadro do nosso trabalho do
dia-a-dia, devemos pensar sempre o seguinte: que diabo, se o João ou o Bacar fazem muito,
porque é que eu não hei de fazer muito também? Vou fazer força para fazer ainda mais que o
Bacar, mais do que o João. Mas o Bacar vê-me e vê que eu avanço e então decide fazer ainda
mais. Estou contente por ele ter avançado, porque o nosso trabalho melhorou, mas vou continuar
a fazer mais ainda.
No plano da nossa luta armada, devemos estimular os nossos combatentes, empurrá-los para
fazerem cada dia melhor. A direcção do nosso Partido deve passar a apreciar os nossos
comandantes, os comissários políticos, pela sua acção, e levantar bem alto o seu nome, como
melhores valores do nosso trabalho porque eles, na emulação que estabelecemos, passam à frente.
Devemos, portanto, estabelecer a emulação construtiva, a concorrência positiva ao serviço do
nosso Partido e do nosso povo em todas as actividades.