RESPONSABILIDADE E RESPONSABILIZAÇÃO
Dizer
que o FMI deu nota positiva ao Governa redunda numa falsa e cínica
interpretação do "aide-memoire" ou em desonestidade intelectual
Óscar Barbosa (Cancan)*
29.10.2006
Chamou-me a atenção o título em grandes
parangonas da “nota positiva” dada pela última Missão do Fundo Monetário
Internacional à Guiné-Bissau, com o objectivo de avaliar o cumprimento do que
foi acordado cumprir pelo Governo guineense.
Depois de ler atenta e objectivamente o
MEMORANDO SOBRE POLÍTICAS ECONÓMICAS E
FINANCEIRAS PARA O RESTANTE DE
2006 não posso deixar de discordar com os títulos em primeira página
utilizados por alguns jornais nacionais e neste particular, o Gazeta de
Notícias que até aqui vinha sendo um jornal com opinião, esclarecido e
independente. Estou em crer, que as informações de que dispunha à data ou
horas da saída do semanário em questão conduziram em erro a sua redacção.
Decidi escrever
algumas linhas, numa tentativa de defender um posicionamento que, enquanto
jornalista, devo manter: verdade e objectividade.
Vamos aos factos que
importam, numa tentativa de dar aos guineenses a informação que não lhes foi
correcta nem claramente transmitida.
O panorama sobre a situação económica do país
que acaba de ser feito pelas instituições de Bretton Woods é desassossegador e
vem confirmar os receios de alguns analistas económicos. Os sinais eram de si
evidentes, descontrolo ao nível das despesas públicas e toda uma bateria de
medidas de índole administrativa e fiscal que acabariam por se tornar
infrutíferas e nocivas à economia.
Segundo os dados extraídos do "aide-memoire"
do FMI estima-se que a taxa de crescimento se situe em 1,8% contra os 4%
inicialmente projectados. Na base desta má performance (de Janeiro a Outubro
2006) está a deterioração das finanças públicas resultante por um lado da
queda das receitas e da fraca execução das despesas de investimento.
O insucesso da campanha de cajú foi sem
margem para dúvidas um dos factores determinantes para a baixa das receitas e
do consequente mau desempenho económico. Sendo o cajú o principal produto de
exportação do país, as exportações ficaram muito aquém dos níveis projectados.
Se em Outubro de 2005, já se tinham exportado 116 000 mil toneladas, este ano
na mesma data as exportações realizadas atingem apenas 62 000 toneladas.
Convém notar que estes resultados negativos
derivam não tanto da oscilação dos preços no mercado internacional (baixa do
preço da castanha), como se quer fazer supor, mas sim das medidas de índole
político-administrativa e vejamos como: foi lançado com pompa e circunstância,
um preço indicativo para a compra da castanha de cajú e não se teve em conta
os mecanismos do mercado, (houve um político que até lançou uma proposta para
a compra do produto ao produtor na base de 500 FCFA/Quilo).
Outro grave erro foi o agravamento da base de
taxação das exportações, passando o FOB de USD 650 para USD 750. E como um mal
nunca vem só, surgiu a brilhante ideia de criação de uma sociedade de objecto
ambíguo para intervir no mercado, referimo-nos ao “Guiné-Bissau: Marketing e
Gestão S.A.” que tinha como sócios a Primatura representada pelo próprio
Primeiro-Ministro que detinha salvo erro ou omissão 40% do capital, e os
Ministérios da Economia, Finanças, Turismo e Ordenamento do Território e do
Comércio, etc... todas estas medidas do governo acabariam por inibir a
confiança dos investidores e exportadores afectando o curso da campanha.
Agora vejamos em pormenor como o actual
Governo se comportou e as razões do seu falhanço na presente campanha de
comercialização da castanha de cajú.
A produção da castanha de cajú era estimada
em 2004 em cerca de 97.900 toneladas, tendo sido exportada nesse ano cerca de
93.200 toneladas, comprada ao produtor na base do preço mínimo de 250 FCFA ao
quilo, o que fez entrar nos cofres do tesouro público guineense cerca de XOF
41.700.000.000 (quarenta e um bilhões e setecentos milhões de francos CFA).
Neste ano o valor FOB da castanha de cajú exportada fixada nos USD 650 por
tonelada.
No ano de 2005, a produção nacional estimada
situava-se nas 100.000 (cem mil toneladas), sendo então exportada 106.200
toneladas (cem mil e 200 toneladas) que fizeram entrar nos cofres do Estado
cerca de XOF 43.200.000.000 (quarenta e três bilhões e duzentos milhões de
francos CFA), tendo a castanha sido comprada ao produtor na base do preço
mínimo de 250 FCFA o quilo. O valor FOB manteve-se inalterado em relação ao
praticado no ano de 2004, ou seja USD 650 por tonelada.
Na presente campanha de comercialização da
castanha de cajú, as estimativas de produção nacional situavam-se em cerca de
120.000 toneladas (cento e vinte mil toneladas). Contudo, pelas razões por
todos conhecidos até ao presente momento o país só conseguiu exportar cerca de
62.000 toneladas (sessenta e duas mil toneladas) que fizeram entrar nos cofres
do tesouro público XOF 19.100.000.000 (dezanove bilhões e cem milhões de
francos CFA). O que comparadas as anteriores campanhas, se pode considerar que
a deste ano foi um grande fracasso.
Quais as razões deste
fracasso?
Medidas administrativas tomadas pelo Governo
e que contribuíram para afectar a campanha de comercialização da castanha de
caju em 2006:
-
aumento do preço de compra ao produtor,
tendo o preço sido fixado a 350 FCFA/KG, quando no mercado internacional se
verifica uma baixa de preços; Aparentemente a fixação do preço deveu-se a
critérios essencialmente políticos (promessas eleitoralistas) sem se atender
a critérios económicos (comportamento dos preços no mercado internacional,
praticas anteriores)
-
obrigatoriedade para o exportador de dispor
de uma autorização a conceder pelo MC contra o pagamento de 500 000 FCFA;
Esta medida que aparentemente visa trazer mais ingressos para o tesouro
publico pode ter efeito contrário e ser um factor inibidor (+ burocracia, +
luvas)
-
fixação do valor FOB a 750 USD por
tonelada. Valor de referencia que serve de base às taxas a aplicar aos
exportadores
Estas duas últimas medidas administrativas
agravaram os custos de exportação reduzindo a margem financeira dos
exportadores , porquanto o exportador além de ter que obter uma autorização,
as taxas de incidência fiscal (9,6%) recaem sobre o valor FOB de 750 USD
contra 650 USD dos anos precedentes. .
Que consequências
nefastas esta situação trouxe para o país?:
·
baixa do volume de exportações
e consequentemente das receitas de exportação
·
aumento da pobreza da camada
social (mais produtiva) os camponeses. A venda da castanha a um preço muito
inferior ao praticado nos últimos anos (250 FCFA) implicou uma quebra no
rendimento do camponês de mais de 60%
·
deterioração do saldo da
balança de pagamentos devido à redução da receita de exportação e aumento das
importações agravado pela redução das receitas aduaneiras.
Há ainda outros erros a
apontar e que também ajudaram no descalabro:
-
a destituição do Presidente da Comissão
Nacional do Cajú, em vésperas do início da campanha e a sua substituição por
um outro, que não tinha acompanhado o desenhar das estratégias, nem tão
pouco ter tempo para desenhar e implementar uma política;
-
envolvimento do Presidente da Comissão
Nacional de Cajú com uma empresa, sendo igualmente árbitro e jogador,
levando ao seu afastamento e a chamada para o seu lugar, do ex-Presidente;
Sabe-se que actualmente, a Guiné-Bissau é o
quinto maior produtor mundial da castanha de cajú, depois da Índia, Brasil,
Vietname e Costa do Marfim.
Entre os grandes produtores, o nosso País é o
maior exportador. Praticamente 100% das cerca de 100 mil toneladas de castanha
de cajú produzida é exportada para a Índia, onde é transformada em amêndoa e
reexportada para o mercado de consumo.
Os maiores consumidores mundiais da amêndoa
de cajú são os Estados Unidos da América, onde se consome cerca de 60% desse
produto, seguidos dos países europeus, que consomem cerca de 30%.
Apesar da produção mundial da castanha de
cajú se concentrar em meia dúzia de países do chamado "terceiro mundo", o
preço desse produto é determinado nos mercados e nas bolsas de valor dos
países consumidores.
A determinação do preço é fortemente
condicionada pelo grau de consumo da amêndoa.
Acontece que em 2005 os Estados Unidos da
América diminuíram drasticamente o seu consumo da amêndoa de cajú. Essa
situação teve as suas repercussões negativas na determinação do preço da
amêndoa de cajú, pois baixou o nível da procura e aumentou o da oferta.
Em finais de 2005 e princípios de 2006, o
preço da amêndoa de cajú baixou em torno dos 20%.
Em consequência, as empresas transformadoras
da castanha de cajú na Índia tiveram que ajustar os seus custos de produção ao
preço do produto final que é a amêndoa, o que implica a compra da
matériaprima a preços mais baixos.
Os fornecedores da matéria-prima foram
obrigados a baixar o preço, pelo que a castanha de cajú bruta que era
comprada, nos últimos dois anos, a 1.200 - 1.400 US$ por tonelada, passou a
750 - 850 dólares americanos, em 2006.
Os fornecedores da matéria-prima são, em
grande parte, os empresários indianos que viajam para a África à procura da
castanha de cajú bruta. Os países africanos que mais se destacam na produção
da castanha de cajú são: Costa do Marfim, Guiné-Bissau, Tanzânia, Benin, etc.
As campanhas de comercialização da castanha
nesses países africanos antecedem a nossa. Por exemplo, a campanha no Benin
encerra em Fevereiro, a da Costa do Marfim em Março e a nossa em Junho/Julho.
À semelhança de outros países produtores e
exportadores da castanha de cajú, em que este ano o preço oscilou entre 180 e
250 FCFA por Quilograma, a Guiné-Bissau devia proceder a uma prospecção do
mercado antes de fixar o preço.
Os empresários indianos que se encontram na
Guiné-Bissau decidiram comprar a castanha nos seus armazéns em Bissau a 210
FCFA/Kg. Por conseguinte, não se trata de falta de patriotismo dos
comerciantes e dos exportadores nacionais. Trata-se, pois, do preço a que o
comprador da castanha estará disposto a oferecer por cada quilograma desse
produto.
Foi precisamente aqui que o Governo
claudicou, criando com a sua falta de experiência para lidar com este assunto
que veio a colocar sérios e graves problemas ao nosso país e cujas
consequências terão um peso importante ao nível das receitas previstas no
quadro do próximo Orçamento - Geral do Estado para 2007 e cujas consequências
imediatas e catastróficas vão se reflectir imediatamente num maior
empobrecimento dos guineenses.
Voltando ao "aide-memoire" do FMI, ela é
taxativa quando diz que o actual stock existente deve (caso venha a) ser
exportado até ao final deste ano, é indubitável que a campanha deste ano se
encontra comprometida, porquanto a redução do preço da exportação para níveis
irrisórios (US$ 250/tonelada) irá obviamente ter repercussões negativas sobre
o nível das receitas que o Estado arrecada com a exportação da castanha de
cajú.
Fica, pois, o alerta para os políticos sobre
os perversos efeitos que medidas demagógicas podem suscitar e numa atitude
inédita, vem o Senhor Ministro das Finanças pedir mais sacrifícios ao povo e
prometendo que, se tudo correr bem, no próximo ano, logo no mês de Janeiro, o
Governo poderá assinar com o FMI e doadores internacionais, um programa
Pós-conflito que permitirá ao país dispor de fundos adicionais para o
financiamento de acções de desenvolvimento. Na nossa terra há um ditado que
convém relembrar “ovo na bunda da galinha não é ainda ovo...”.
Convém recordar que sendo a comercialização
do cajú uma das poucas actividades que tem impacto favorável na luta contra a
pobreza tendo sido desastrosa a campanha deste ano, era previsível o
agravamento do deficit orçamental (devido à quebra acentuada das receitas de
exportação) e consequentemente o acentuar da pobreza, principalmente nas
camadas mais vulneráveis (os camponeses) que representam 90% da força
produtiva.
Quanto às receitas provenientes de outros
sectores, que contribuíram para reduzir as tensões de tesouraria, importa
realçar aquelas resultantes das multas provenientes do apresamento de navios
(embora o montante cobrado esteja aquém do projectado) e as decorrentes das
taxas das empresas de telecomunicações. Contudo, em relação às primeiras
parece não estar a política de fiscalização marítima a dar os resultados
almejados, pois o efeito indutor seria o aumento das licenças e não o
contrário.
Apesar dos donativos recebidos, sob a forma
de projectos ou ajudas orçamentais recebidas da Comunidade Internacional no
decurso deste ano (cerca de 17 mil milhões de FCFA), e do endividamento
incontrolado do Tesouro Público, registaram-se dificuldades acrescidas no
pagamento dos salários dos servidores do Estado.
As derrapagens na rubrica das viagens e o
pagamento de atrasados internos de exercícios anteriores viriam a pôr em causa
as metas assumidas. De notar, ainda um decréscimo nas despesas com a saúde e
educação a favor das despesas de representação, do combustível, das viagens e
"perdiens".
Em suma, dizer que o FMI deu nota positiva ao
Governo redunda numa falsa e cínica interpretação do "aide-memoire" ou em
desonestidade intelectual. Com efeito, se a taxa de crescimento do PIB baixou
significativamente em 2006 para níveis históricos (apenas superior à taxa de
0,6 % registada em 2003 ) isto significa que o país perdeu ritmo em termos de
dinâmica económica e que, per capita, cada guineense está mais pobre. Para se
ter uma ideia mais clara basta dizer que, para atingirmos as metas traçadas
nos Objectivos do Milénio no que respeita à redução da pobreza, precisamos, no
mínimo, de crescer 7% ao ano.
Bem se pode entender que o Ministro das
Finanças tenha-se apressado a se auto atribuir uma nota positiva “12” valores,
alimentando o mito de que para se ser um bom ministro das finanças tem que se
ter o” satisficit”do FMI/BM.
Mas se ele passou no exame, porque razão não
anunciou o FMI, como se esperava, a sua intenção de estabelecer um programa
pós-conflito sustentado pelos seus recursos?
Se de facto o FMI lhe deu
nota positiva, como explicar as medidas draconianas por ele impostas,
designadamente:
-
corte na despesa primária corrente no
montante 0,7 mil milhões de FCFA, nomeadamente na rubrica de viagens;
-
Anunciar publicamente uma estratégia de comercialização do cajú para a
próxima campanha de 2007 que
será um retorno a condições de
comercialização normais e
transparentes, livres de intervenção do governo no
circuito de exportação.
-
desmantelamento da empresa criada por
alguns membros do Governo para intervir no negócio do cajú, com a
obrigatoriedade de ser através de um anúncio público, como, aliás, o próprio
Ministro das Finanças fez;
-
reforço do Comité de Tesouraria (estrutura
independente de controlo das finanças públicas).
Fica igualmente por explicar, a criação de um
Conselho (diplomaticamente designado) Consultivo onde terão assento o BCEAO, o
PNUD e a UE para vigiar a gestão do Sr. Ministro das Finanças.
Quer-nos antes parecer que o FMI colocou o
Sr. Ministro num verdadeiro colete-de-forças de que muito dificilmente
conseguirá libertar-se.
MEMORANDO SOBRE POLÍTICAS ECONÓMICAS E FINANCEIRAS PARA O
RESTANTE DE 2006
Bissau, [ ]
de Outubro, 2006
I. INTRODUÇÃO
-
Em um ambiente de maior
consolidação da paz e estabilidade política, o governo da
Guiné-Bissau implementou um programa económico e financeiro para
2006, monitorado pelo
corpo técnico do Fundo (SMP). O SMP para o período de
2006 teve por objectivo a
estabilização da posição fiscal, a restauração da confiança
na administração
macroeconómica, a aceleração das reformas estruturais e uma
melhoria nas relações
financeiras com os credores.
-
O presente memorando descreve os desenvolvimentos económicos de
Abril a Outubro de 2006 e traça
as políticas e medidas planeadas para o restante do período
do SMP.
II.
DESENVOLVIMENTOS RECENTES E
DESEMPENHO SOB O SMP DE
ABRIL A OUTUBRO DE 2006
-
Durante o ano de 2006, as
autoridades atingiram significativos progressos no
sentido da melhoria da situação
fiscal e do fortalecimento da capacidade
administrativa e executiva do
governo. Porém, a situação económica e fiscal ficou
abaixo do esperado em 2006,
devido a diversos factores. Metas chave estipuladas pelo
SMP, a saber receitas, massa
salarial, saldo primário e financiamento interno do
orçamento (quatro de sete metas
quantitativas) não foram atingidas em Julho e
Outubro, ao mesmo tempo em que
o desempenho em indicadores estruturais de referência foi variado.
Especificamente, em Outubro de 2006, três de oito dos indicadores
estruturais não foram atingidos ou foram parcialmente atingidos
(lançamento de concurso para contratação de funcionários públicos,
eliminação de isenções taxas aduaneiras discricionárias e
ratificação do projecto de lei para o sector de energia). As
autoridades tomaram várias medidas importantes para melhorar o
desempenho pelos restantes meses de 2006 e anos subsequentes.
-
Apesar da inflação esperada
permanecer baixa, cerca de 2% em 2006, espera-se que o crescimento
real do PIB fique um pouco abaixo de 1,8% para o ano, representando
uma queda em relação aos 3,5% de 2005 e menos que os 4% inicialmente
projectados para 2006. Em primeiro lugar, o investimento público
ficou bem abaixo dos
níveis orçados, devido a restrições orçamentais (ver abaixo), o que
trouxe impactos negativos no desempenho do PIB. Em segundo lugar, as
exportações de castanha de caju, um dos principais produtos de
exportação, ficaram bem abaixo dos níveis esperados e dos anos
anteriores, devido a uma queda nos preços mundiais
conjugada com uma decisão
governamental de estabelecer o preço de referência ao
produtor deste ano acima dos
níveis que intermediários e exportadores estavam
dispostos a pagar, dado os
preços internacionais. Apesar do preço de referência ser
apenas indicativo, ele é uma
importante orientação para os produtores que não têm acesso a outras
informações relativas a preços. Esse problema foi agravado pelo
aumento no preço de
referência aplicado para fins fiscais na exportação do caju,
apesar da queda dos preços nos
mercados internacionais, o que reduziu ainda mais os incentivos para
exportadores. No início da campanha do caju deste ano, os produtores
inicialmente retiveram a mercadoria, aguardando melhores preços.
Porém, à medida que a necessidade de obter recursos aumentou, foram
forçados a vender a preços significativamente abaixo da média
histórica, uma vez que havia excesso de oferta no mercado. Nessas
circunstâncias, o governo criou uma agência administrada pelo estado
para comprar caju directamente dos produtores a preços mais próximos
do preço de referência,
usando arroz doado pelo Senegal e pela Gâmbia para cobrir parte
do pagamento aos
produtores. Em finais de Outubro, estima-se que 12.000 a 15.000
toneladas de caju (13 a 16 porcento da produção deste ano) ainda se
encontrem nas zonas rurais. A precária capacidade de armazenagem do
país pode bem ter arruinado parte dessa produção (a campanha de caju
normalmente vai de Maio a Agosto).
-
A situação fiscal também
está abaixo do esperado em 2006.
Apesar dos esforços
empreendidos durante o ano para melhorar o desempenho das receitas,
conter despesas, especialmente da massa salarial, e reduzir o défice
fiscal, o programa fiscal para 2006 não alcançou as metas do SMP
para Julho e Outubro. As receitas aumentaram de 17,6% do PIB em 2005
para [19,5] % do PIB estimados em 2006, mas ficaram em cerca de 2%
abaixo da meta estabelecida pelo SMP para todo o ano. Para o final
de Outubro, as receitas estão estimadas em [22] bilhões de FCFA,
comparadas à meta de [27]
bilhões de FOFA. A arrecadação abaixo do esperado dos impostos
sobre a exportação de
caju e de proveitos de licenças de pesca explicam em boa parte o
fraco desempenho das receitas. Da mesma forma, os proveitos com
licenças de telecomunicações ficaram abaixo do esperado até Outubro.
Atrasos nas negociações dum novo acordo de pesca com a UE trouxeram
alguma incerteza entre os armadores
dessa União e consequente
redução na taxa de utilização das potencialidades
pesqueiras. O declínio das
receitas de licenças para pesca, a maior fonte de rendimento
não-tributário, foi compensado em parte por um desempenho acima do
esperado nas outras
fontes não-tributárias, incluindo multas por pesca ilegal e licenças
de prospecção de
petróleo. No tocante a receitas fiscais, apesar do aumento de 15% do
preço de referência para a exportação de caju (de um preço de 650
USD por tonelada em 2005 para 750 USD por tonelada em 2006), a
receita fiscal da exportação de caju está muito abaixo do esperado,
como resultado da queda do volume das exportações de caju. Por outro
lado, houve uma melhoria na contribuição industrial em 2006.
-
As despesas primárias
correntes caíram cerca de 1,4% do PIB em 2006,
quando comparadas a 2005 e
ficaram alinhadas com o que foi programado no quadro
do SMP para todo o ano. Porém,
a massa salarial (um indicador quantitativo do SMP)
ultrapassará a meta em quase 1
% do PIB para todo o ano. Não obstante os esforços
das autoridades para a redução
da massa salarial -
de 13,4% do PIB em 2005
para os estimados 12,6%
em 2006 - estima-se que
a mesma excedeu a meta quantitativa do
SMP em 1,3 bilhão de FOFA.
Porém, se o governo prosseguir com os planos de
aposentar cerca de [500]
funcionários públicos que atingiram em 2006 a idade de reforma
obrigatória e dispensar, antes do final do ano, cerca de
[1000]
funcionários que já foram identificados (vide abaixo), uma redução
de aproximadamente [0,07]
bilhão de FCFA, ou
(0,04) % do PIB poderá ser esperada até o final do ano. Outras
despesas correntes
não-salariais (p.ex. bens e serviços e transferências) estão acima
em quase 1 % do PIB em
2006 quando comparadas às de 2005 e excederam os níveis
programados no SMP. Por sua
vez, as derrapagens em salários e outras despesas correntes,
incluindo viagens e despesas de representação, foram compensadas por
uma redução do investimento público, muito mais necessário e
premente. O saldo
primário foi reduzido de (6,9) % do PIB em 2005 para os estimados
5,7% em 2006, mas está
acima da meta estabelecida pelo SMP em estimados 1,7% do PIB para
todo o ano. Estima-se que
o saldo primário exceda a meta quantitativa de Outubro do SMP
em [6] bilhões de FCFA. O saldo deficitário global (incluindo
donativos) deverá alcançar
[8,1 ] bilhões de FCFA para todo o ano de 2006. Este défice,
combinado com a necessidade de
se efectuar pagamentos do serviço da dívida externa, originará uma
necessidade de financiamento de [7,7 ]
bilhões de FCFA ([4,7]%
do PIB) no final de 2006.
-
Dado o resultado fiscal abaixo
do esperado e a necessidade de se cobrir o défice financeiro,
o financiamento interno provavelmente ultrapassará a meta do SMP
para 2006 na sua totalidade. Tendo em vista as receitas fiscais
abaixo do esperado, o governo
contraiu nova dívida interna comercial na ordem de 4% do PIB, de
forma a pagar salários
de Maio a Julho de 2006.
O programa prevê este tipo de
endividamento, mas conta que
seja pago integralmente até o final de 2006 (apesar dos
Títulos vencerem apenas em Fevereiro de 2007), na expectativa que os
fundos da UE e do Banco Mundial sejam desembolsados até lá. Porém,
devido ao desempenho abaixo do
esperado em receitas, é pouco provável que os Títulos sejam pagos na
íntegra em 2006.
Portanto o financiamento interno irá exceder o limite do SMP para
final de Dezembro de
2006.
Ao mesmo tempo, o restante do
défice financeiro será
provavelmente coberto com nova emissão de Títulos do Tesouro,
garantidos por engajamentos de apoio orçamental a obter durante a
próxima reunião de doadores (vide abaixo), aumentando ainda mais o
financiamento interno. O financiamento interno líquido foi
incrementado através de uma redução nos pagamentos da dívida com o
BCEAO. O Ministério das Finanças decidiu afectar 10% das entradas na
conta corrente do Tesouro para o pagamento da dívida junto a esta
instituição. Para 2006, isso implica em um pagamento ao BCEAO
inferior ao originalmente programado.
-
Em 2006 continuaram a
registar-se progressos na área de reformas estruturais,
no entanto, a agenda de reforma
ainda não foi concluída. O recenseamento militar
baseado na emissão de bilhetes
de identidade biométricos está praticamente concluído. O
recenseamento servirá para confirmar o número exacto de efectivos
militares e para identificar os que serão integrados no programa de
desmobilização. No
tocante à área de reforma da função pública, o governo aprovou as
leis orgânicas de todos
os ministérios e está actualmente em curso o processo de definição
das estruturas organizacionais internas de cada ministério. Com
vista a garantir maior transparência e melhor gestão de despesas com
salários, o governo iniciou em Setembro um sistema por pagamento
electrónico de salários aos funcionários públicos através de contas
abertas em bancos locais. Em Setembro, o Governo pagou
electronicamente um total de 1,2 bilhão de FCFA referentes aos
salários do mês de Agosto (75% do total de salários pagos neste
mês). Para além disso, a instalação de um sistema integrado de
identificação para os servidores públicos se encontra em estado bem
avançado. No fim desse processo, as despesas com a folha de
pagamento para servidores serão feitas com base no número nacional
de identificação ao invés de nomes, como ocorre actualmente. Em
outras áreas do funcionalismo, as autoridades identificaram mais de
1.000 funcionários que serão desvinculados da função pública em
2006. Numa primeira fase e a partir de Outubro, os funcionários
públicos acima referidos serão removidos de suas funções e receberão
uma compensação, visto que o pagamento dos seus salários será
eliminado da folha de pagamentos do governo para
serem pagos na recém criada
Secretaria de Estado da Reforma. Durante o ano de
2007, com apoio financeiro de
doadores, esses funcionários serão completamente desvinculados do
governo e reintegrados no sector privado através de formação para
reconversão profissional e/ou programas de micro-crédito. Outras
medidas estruturais tomadas pelo governo incluem a implementação de
selagem de bebidas alcoólicas e cigarros; a aprovação pelo Conselho
de Ministros do novo projecto de lei de electricidade para o sector
de energia; e a eliminação de isenções aduaneiras que não estejam em
harmonia com o quadro legal vigente. No entanto, em relação a este
último aspecto, sao necessárias medidas adicionais para eliminar na
totalidade todas as isenções arbitrárias, visto que algumas, apesar
de legais, permanecem arbitrárias (p.ex: isenções que não estão de
acordo com convenções internacionais, como evidenciadas pelas
concedidas aos militares). Além disso, um dos decretos que
regulamenta o sector energético
ainda precisa ser aprovado pela Assembleia.
electronicamente um total de 1,2 bilhão de FCFA referentes aos
salários do mês de Agosto (75% do total de salários pagos neste
mês). Para além disso, a instalação de um sistema integrado de
identificação para os servidores públicos se encontra em estado bem
avançado. No fim desse processo, as despesas com a folha de
pagamento para servidores serão feitas com base no número nacional
de identificação ao invés de nomes, como ocorre actualmente. Em
outras áreas do funcionalismo, as autoridades identificaram mais de
1.000 funcionários que serão desvinculados da função pública em
2006. Numa primeira fase e a partir de Outubro, os funcionários
públicos acima referidos serão removidos de suas funções e receberão
uma compensação, visto que o pagamento dos seus salários será
eliminado da folha de pagamentos do governo para
serem pagos na recém criada
Secretaria de Estado da Reforma. Durante o ano de
2007, com apoio financeiro de
doadores, esses funcionários serão completamente desvinculados do
governo e reintegrados no sector privado através de formação para
reconversão profissional e/ou programas de micro-crédito. Outras
medidas estruturais tomadas pelo governo incluem a implementação de
selagem de bebidas alcoólicas e cigarros; a aprovação pelo Conselho
de Ministros do novo projecto de lei de electricidade para o sector
de energia; e a eliminação de isenções aduaneiras que não estejam em
harmonia com o quadro legal vigente. No entanto, em relação a este
último aspecto, são necessárias medidas adicionais para eliminar na
totalidade todas as isenções arbitrárias, visto que algumas, apesar
de legais, permanecem arbitrárias (p.ex: isenções que não estão de
acordo com convenções internacionais, como evidenciadas pelas
concedidas aos militares). Além disso, um dos decretos que
regulamenta o sector energético
ainda precisa ser aprovado pela Assembleia.
-
Por um lado, a empresa de
pesca "Semapesca" foi privatizada em Março de
2006 (uma das três que deveriam
ser privatizadas de acordo com o SMP). Por outro lado, a
privatização do Hotel 24 de Setembro foi protelada visto que o
governo aguarda uma
melhor oferta para avançar com o processo. De outra forma, houve
atrasos na
implementação de algumas reformas estruturais. Na área da reforma da
função pública, o
lançamento do programa de recrutamento de técnicos superiores por
concurso público também
está atrasado. O governo prevê iniciar o programa somente após a
conclusão do processo de organização estrutural de todos os
ministérios, que está programado para Janeiro de 2007. Em relação
aos efectivos militares, houve atrasos na sua identificação para o
programa de desmobilização, devido à não
conclusão do sistema de
identificação biométrico.
III. OBJECTIVOS E
POLÍTICAS PARA O RESTANTE DO ANO 2006
-
Considerando a situação fiscal
abaixo do esperado, ao pouco tempo que falta
para terminar o programa
financeiro de 2006 e as limitadas medidas políticas
disponíveis, será difícil
cumprir as metas quantitativas do SMP para o ano. Tendo em vista o
grande défice financeiro estimado para o final de 2006, o governo
pretende tomar uma série
de medidas imediatas para colmatar tal défice:
i.
fazer cortes na
despesa primária corrente no montante de 0,7 bilhão de
FCFA (0,4% do PIB), incluindo
estipular limites máximos para as
rubricas de viagens, despesas de
representação e outros bens e
serviços;
ii.
solicitar
financiamento adicional dos doadores para cobrir o défice
remanescente de 2006; e
iii.
emissão de novos
Títulos de Tesouro até o final do ano, que serão garantidos por
engajamentos de financiamentos a obter na Conferência
de Doadores de Novembro.
-
As autoridades também estão
empenhadas na resolução dos problemas críticos
relacionados com a
insuficiência de receitas e derrapagens em despesas. Medidas
tomadas agora nessas áreas têm
um impacto quantitativo limitado no resultado fiscal de 2006, porém
têm importantes implicações a médio prazo e indicam o engajamento
das autoridades em reverter a situação macroeconómica em 2007 e nos
próximos anos. As medidas incluem:
i.
Anunciar publicamente uma estratégia de comercialização do caju
para a próxima campanha de
2007 que será um retorno a condições de
comercialização
normais e transparentes, livres
de intervenção do governo no
circuito de exportação.
ii.
Anunciar publicamente a sua decisão de desmantelar a recém
criada agência de comercialização de caju administrada pelo Estado,
liquidar com efeitos imediatos o seu stock de castanha e regularizar
as suas responsabilidades com
camponeses e credores. Isso
também será um sinal importante para os
camponeses de que o governo não
pretende intervir nos sistemas de comercialização da castanha.
iii.
Por forma a incentivar os comerciantes a drenarem todos stocks
de castanha ainda
existentes nas zonas rurais, para o restante do ano 2006, o governo
vai baixar o preço de referência usado para calcular os impostos de
exportação do caju para
cerca de 250 USD por tonelada, para o compatibilizar mais com os
preços externos
realizados.
iv.
O Governo venderá
imediatamente cerca de 6.000 toneladas de caju
confiscado em 2006 como
pagamento por contribuição industrial atrasada de uma empresa de
exportação.
v.
Para resolver a
questão de excessos de despesas, particularmente na área de
despesas variadas em bens e
serviços, as autoridades comprometem-se a
reforçar o funcionamento do
Comité de Tesouraria. Isso implica a revogação
dos despachos vigentes
relacionados com o Comité de Tesouraria. O Comité
Técnico do Comité de Tesouraria,
bem como o Comité de Tesouraria em si,
continuarão a reunir-se uma vez
por semana para acompanhar o plano semanal de fluxo de caixa e aprovar
despesas ex-ante,
com excepção de despesas
correntes inadiáveis. Uma vez por tnês, o Comité de Tesouraria
debaterá as previsões de fluxo de caixa anual, semestral e mensal e
preparará um relatório
mensal sobre as previsões revisadas dos fluxos de caixa. De forma a
evitar que responsáveis de alto nível tenham que se reunir e aprovar
despesas individuais, o
Ministério das Finanças abrirá uma conta especial no BCEAO,
para a realização de despesas
urgentes inadiáveis, administradas pelo
Ministro. A conta terá um teto
máximo rigoroso que não poderá ser
ultrapassado. Este teto está
estabelecido em 10 porcento dos montantes
mensais programados para as
seguintes rubricas de despesas: viagens
exteriores (transporte e ajuda de
custo), representações, transferências para a Assembleia e
combustível. Um novo Conselho Consultivo, mais restrito,
composto pelo Ministro das
Finanças e representantes do BCEAO, da UE e do
PNUD reunir-se-á uma vez por mês
para analisar o relatório mensal do Comité de Tesouraria e as despesas
da conta especial. O Governo irá
promulgar um novo despacho,
criando o enquadramento legal destes novos
arranjos.
vi.
O governo compromete-se a não efectuar pagamentos de atrasados
de anos anteriores pelo
restante de 2006, a não ser que financiamento externo
específico para esse fim seja
obtido, e a evitar o acúmulo de novos atrasados. No tocante ao total
de atrasados para o período de 2000-2005, o Governo
cancelou todas as dívidas
pendentes que não foram contraídas de acordo com os procedimentos
administrativos legais. Para o total de atrasados
remanescente de 2000-2005, o
Governo pretende iniciar, com a ajuda de
doadores, uma ampla auditoria das
dívidas e buscar financiamento externo
para sua regularização. O
Governo também buscará financiamento externo
para liquidar atrasados
correspondentes ao período anterior ao ano 2000, que
já foi auditado.
Embora se espere que o sistema de controlo de caixa ajude a evitar a
acumulação de novos
atrasados nas rubricas de despesas variáveis, dívidas
temporárias em rubricas certas
poderão surgir ao longo do último trimestre do
ano. A grande proporção de
despesas salariais e outros gastos certos, a
concentração de receitas fiscais
em meados do ano e a concentração do
financiamento do Banco Mundial no
fim do ano, implicam que, sem
financiamento adicional, novos
atrasados poderão surgir nessas rubricas de
despesas (base engajamento) no
fim do ano. A regularização destas dívidas
terá a mais alta prioridade
quando novos financiamentos forem obtidos.
vii.
O governo concorda
em vender o Hotel 24 de Setembro, em linha com os
indicadores de referência
estruturais do SMP.
-
De forma a demonstrar o seu
engajamento para com as reformas, as autoridades comprometem-se a
iniciar a implementação das medidas acima indicadas
antes da Conferência de
Doadores prevista para 7 de Novembro de 2006.
IV. CONJUNTURA
MACROECONÓMICA E POLÍTICAS PARA 2007
-
Espera-se que a actividade
económica se recupere em 2007,
presumindo-se
que haja normalização dos
acordos comerciais no sector do caju, assim como um
aumento na produção devido à
maturação e à ampliação moderada das plantações.
Estima-se um crescimento real
do PIB de [5]% para 2007, acima da taxa de
crescimento populacional.
Quanto à taxa de inflação, calcula-se que permaneça
alinhada com o critério de
convergência da UEMOA em cerca de 2%. Calcula-se que
o défice em conta corrente
(excluindo-se donativos) aumente para cerca de [14,9]%
do PIB em 2007, reflectindo
maiores importações referentes ao programa de
investimento público (Tabela
[ ]). Além de alcançar
um ganho real em renda per capita, a conjuntura macroeconómica de
2007 visa dar apoio à redução da pobreza ao
acelerar o ritmo de gastos
prioritários no âmbito do orçamento existente, em linha
com o Plano Estratégico para a
Redução da Pobreza (PERP) acordado pelo Governo.
Políticas Fiscais
-
O Governo está comprometido
com o seguimento de uma política fiscal
prudente.
A conjuntura fiscal, assim
como foi em 2006, tem por objectivo evitar a acumulação de dívidas
internas ao longo de todo o ano. A conjuntura
macroeconómica de 2007
pressupõe uma postura fiscal similar (medida pelo défice
primário) como em 2006.
Estima-se que receita percentual em relação ao PIB
permaneça em cerca de [19]%,
já que qualquer melhoria na receita tributária no sector
de exportação de caju será
neutralizada parcialmente por quedas em receitas não-presumindo-se
que haja normalização
dos acordos comerciais no sector do caju, assim como um
aumento na produção devido à
maturação e à ampliação moderada das plantações.
Estima-se um crescimento real
do PIB de [5]% para 2007, acima da taxa de
crescimento populacional.
Quanto à taxa de inflação, calcula-se que permaneça
alinhada com o critério de
convergência da UEMOA em cerca de 2%. Calcula-se que
o défice em conta corrente
(excluindo-se donativos) aumente para cerca de [14,9]%
do PIB em 2007, reflectindo
maiores importações referentes ao programa de
investimento público (Tabela
[ ]). Além de alcançar
um ganho real em renda per capita, a conjuntura macroeconómica de
2007 visa dar apoio à redução da pobreza ao
acelerar o ritmo de gastos
prioritários no âmbito do orçamento existente, em linha
com o Plano Estratégico para a
Redução da Pobreza (PERP) acordado pelo Governo.
-
No tocante às despesas, a
política do Governo continua a ter como meta o controle de despesas
variáveis para poder disponibilizar recursos necessários para
lidar com as camadas mais
pobres da população nos sectores de saúde e educação,
assim como para a manutenção e
melhoria de infra-estruturas básicas. 0 Governo
também pretende continuar a
diminuir a massa salarial excessiva, sendo esta uma forma importante
de melhorar a alocação de recursos. Por forma a obter uma redução
duradoira da massa salarial excessiva, o governo pretende
implementar reformas há muito devidas na função pública e na
segurança, para as quais espera angariar financiamento suficiente na
Conferência de Doadores em Novembro. Em 2007, o governo
continuará apagar o pacote de indemnizações por mais 10 meses para
cerca de 1000 funcionários
públicos das categorias salariais mais baixas que deverão ser
dispensados nos últimos dois meses de 2006. Em 2007, o governo
continuará a pagar o pacote de indemnizações por mais 10 meses para
cerca de 1000 funcionários públicos das categorias salariais mais
baixas que serão dispensados nos últimos dois meses de 2006. O
pagamento dessas indemnizações terminará quando se materializar o
programa de protecção apoiado por doadores através de micro empresas
e programas de formação. Para além disso, mais 110 funcionários que
atingiram a idade de reforma obrigatória mas que ainda estão
arrolados na folha de salários serão aposentados. A curto prazo, o
impacto fiscal da reforma será neutro uma vez que a projectada
redução da massa salarial referente aos funcionários dispensados e
que representa 195
milhões de FCFA (ou 0,1 % do PIB) será contrabalançada por
pagamento de indemnizações. No
caso dos aposentados, a economia de 69 milhões
de FCFA (ou cerca de 0,04 do
PIB) será compensada pelo pagamento das pensões, mesmo que a uma
percentagem abaixo dos salários actuais. De outra forma, o pagamento
de salários através de contas bancárias também ajudará a evitar
duplicações.
-
Assim como em 2006, o Governo
compromete-se a não efectuar pagamentos
de atrasados de anos
anteriores, a não ser que financiamento externo específico para
esse fim seja obtido, e
a evitar o acumulo de novos atrasados.
-
Apenas o apoio orçamental da
UE no montante de 2,1 % do PIB (o montante
originalmente projectado para
desembolso em 2006 e adiado até 2007) foi
identificado. O restante terá
que ser coberto por compromissos na Conferência dos
Doadores de Novembro. Na
eventualidade de o financiamento por parte de doadores
ser insuficiente para cobrir o
gap, as autoridades identificaram cortes de contingência em despesas
não-salariais variáveis, incluindo compras de bens e serviços e
transferências
governamentais.
Administração de despesas
públicas
-
Comité de Tesouraria: o Governo
compromete-se a assegurar que haverá
continuidade dos trabalhos
regulares do Comité de Tesouraria e do Conselho
Consultivo Especial ao longo
de 2007.
-
A partir de Abril de 2007, em
linha com a prática em outros países da
UEMOA, todos os Ministérios
fecharão suas contas individuais actualmente
existentes no BCEAO e abrirão
contas no Tesouro. O Tesouro administrará as contas
dos Ministérios por meio de uma
única conta no BCEAO.
-
Apesar
das receitas projectadas serem conservadoras e pressuporem apenas um
ligeiro aumento em relação ao PIB, as autoridades continuarão a
tomar medidas para melhorar o desempenho de receitas em 2007,
incluindo medidas para expandir a base tributária, fortalecer a
administração fiscal e melhorar o cumprimento e controle das
licenças para a pesca.
Com este
propósito, as autoridades irão
reforçar a recém criada a Direcção de Serviços de Grandes Empresas
através, entre outros, da aplicação do Sistema de Contabilidade do
Oeste de África (SYSCOA)
assim como do uso dos recém adquiridos computadores e
da assistência técnica para
melhorar as habilidades em tecnologias de informação por forma a
automatizar a monitoria de grandes e médias empresas. As autoridades
pretendem reduzir a actual taxa de não pagamento na Direcção
de Serviços de Grandes
Empresas através de um melhor seguimento de contribuintes faltosos,
e da aplicação de multas quando for o caso. Para além disso a
administração das alfândegas será reforçada ainda mais por meio da
aquisição de um software
informático (SYDONIA++). Esta
ferramenta permitirá que as alfândegas melhorem o
controlo e a avaliação de
importações mediante acesso a informação
online
da
Direcção Geral de
Contribuições e Impostos (DGCI) e dos bancos comerciais. Finalmente,
as autoridades deverão fazer progressos na monitoria e controlo
pesqueiro e cumprimento das licenças de pesca através da aquisição
de equipamento como
parte de projectos em curso com o BAD.
V. REFORMAS ESTRTURAIS
EM 2007
Reforma da Função Pública
-
O governo permanece
comprometido com a implementação da reforma da
administração pública (civil e
militar). As reformas nesta área são essenciais para garantir a
sustentabilidade fiscal a médio prazo, dado que o tamanho excessivo
da função pública e da alta estrutura salarial militar resultar em
um grande ónus salarial sobre as finanças públicas (absorve cerca de
65% das receitas). Também deve ser enfatizada a formação e a
capacitação dos funcionários remanescentes, ao mesmo tempo que se
fortalece a estrutura da administração pública.
-
As medidas propostas para 2007
incluem:
·
Reintegrar no
sector privado funcionários públicos dispensados, de acordo com a
disponibilidade dos doadores.
·
Preencher todas as
vagas (de técnicos superiores) em pelo menos quatro
ministérios, usando um programa
de contratação por concurso.
·
Instalar um sistema
integrado de dados para funcionários públicos e basear a folha de
pagamento de pessoal em seus bilhetes nacionais de identidade.
·
Identificar e
retirar da folha de pagamento todos os funcionários e militares que
atingiram a idade obrigatória de reforma.
Essas
pessoas passarão a receber
suas devidas pensões ao invés de
salários.
·
Completar o
processo de definição da estrutura organizacional interna de todos os
ministérios e secretarias de estado.
Outras reformas estruturais e
iniciativas para o desenvolvimento do sector privado
-
Para além disso, o Governo vai
implementar algumas outras reformas estruturais e iniciativas para o
desenvolvimento do sector privado:
·
Privatizar ou
liquidar pelos menos três outras empresas estatais dos sectores de
produção e comércio. O Governo indicará antes do final de 2006 os
nomes das empresas a serem privatizadas ou liquidadas.
·
Dispensar todos os
funcionários envolvidos em empresas estatais que serão objecto de
privatização ou liquidação. Essa medida irá limitar o montante do
pacote de indemnização que o Governo teria que pagar a esses
trabalhadores.
·
Reduzir o número de leis que permitem ao Governo
conceder isenções de taxas
aduaneiras que não estejam em linha com as normas estabelecidas no
quadro de convenções internacionais.
Para estar de
acordo com o tecto de financiamento interno de acordo com o
programa, quaisquer Títulos de Tesouro lançados durante o ano devem
ser pagos antes do final de 2006. Um ajuste no programa permite que
este tecto seja aumentado por valor correspondente a qualquer
insuficiência de apoio orçamental externo. Uma
quantia de 4,1
bilhões de FCFA em apoio orçamental da UE foi, por enquanto, adiada
para o ano que vem.
Portanto, os
2,6 bilhões de FCFA remanescentes dos Títulos recém-lançados deverão
ser pagos antes de Dezembro de 2006 para não exceder a meta de
financiamento interno.
|
*Jornalista
VAMOS CONTINUAR A
TRABALHAR!
Projecto
Guiné-Bissau:
CONTRIBUTO
www.didinho.org