Sociedade Mista: Drogas, Assassinos & Companhia

 (Ponto de Vista)

“Para justificar uma mentira precisa-se inventar outras mil”.

Sabedoria popular

 

Rui Jorge  da Conceição Gomes Semedo

rjogos18@yahoo.com.br

08.04.2010

Rui Jorge SemedoMais uma vez a Guiné-Bissau aos olhares do mundo! Mais uma vez os militares a protagonizarem a violência institucional de caráter incomensurável! Mais uma vez mil mentiras para enganar a quem? Mais uma vez homens despreparados e sem noção dos atos que cometem, à frente dos nossos destinos. Mais uma vez, e, apesar de persistir a negligência dos céticos em relação ao envio de uma Força Multinacional de Paz, se confirma o quão frágeis são as instituições do país.

Pois, no dia 1º de Abril a democracia foi novamente traída e violentada por um golpe de Estado que o presidente da República, Bacai Sanha, infelizmente, escusou reconhecer e condenar publicamente. Para ele a situação é apenas um problema militar! Realmente a ação foi militar, mas o acontecimento precisa ser observado sob várias perspectivas, a começar pela política, étnica, militar, social, do tráfico de droga, etc.

Não podemos condenar a atitude do presidente da República Bacai Sanhá, talvez seja uma posição estratégica para apaziguar os ânimos, mas, no entanto, seria mais sensato a condenação pública em solidariedade à democracia e à ordem constitucional.   

Se o golpe de Estado é uma ação violenta e rápida que altera a ordem constitucional, como se caracteriza o sucedido?

O que significa sequestrar e humilhar o primeiro-ministro eleito? O que significa sequestrar e usurpar o poder de um CEMGFA nomeado por um decreto presidencial (embora se saiba que é também um golpista)?

Como se caracteriza a violação da sede da ONU por militares que retiraram à força o contra-almirante Bubo Na Tchuto?

Por que houve interrupção do normal funcionamento das instituições?

Por que o próprio presidente saiu do seu gabinete de trabalho para negociar com os militares no seu quartel general?

Que ousadia, que força, que confiança tem o Major-General António Indjai para pronunciar publicamente que se a população não parasse de manifestar mandaria matar o chefe de Executivo eleito democraticamente pelo povo?

Que autoridade tem o contra-almirante Bubo Na Tchuto para cometer barbárie contra a população que exige a legitimidade da ordem democrática?

A farda que ele(s) usa(m) é do povo e as armas que estão na(s) sua(s) posse(s) são também do povo. Eles são parte do povo e têm que se submeter de forma incondicional às normas que o povo estabeleceu como regras que garantam um convívio harmônico.

É importante dizer que, apesar de inadmissível e inaceitável o que aconteceu, o governo e o gabinete da ONU no país não deixam de ter uma enorme responsabilidade no ocorrido, pois geriram muitíssimo mal o caso do contra-almirante Bubo Na Tchuto. O primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior ao longo de todo o processo foi inflexível, prepotente e sem capacidade para encontrar uma saída viável que salvaguardasse os superiores interesses deste povo.

Enganou-se pela proteção que achava ter do Chefe do Estado-Maior deposto, José Zamora Induta, que na verdade não tinha domínio sobre os homens que comandava.

Era nítido que uma parte considerável do círculo do poder civil e militar não observava com bons olhos a aproximação de Cadogo a Zamora Induta (e vice-versa), sendo que se veiculava que o Chefe do Estado-Maior escutava mais o primeiro-ministro do que o presidente da República, Bacai Sanhá, que constitucional e hierarquicamente é o Comandante-em-Chefe das FARP. Isso sem esquecer do papel que o Partido da Renovação Social (PRS) historicamente tem desempenhado: ora de uma oposição comprometida com a legitimidade e, quase sempre, como pivot da instabilidade que a todo o custo quer assumir o poder à margem dos preceitos legais.

O que se pode constatar é que existe um enorme problema de reconhecimento da ordem institucional por parte dos atores políticos e militares, e esse problema se traduz tanto nas dificuldades que os políticos têm de se afastarem dos militares, que tradicionalmente são usados como escudos e guarda-chuvas, principalmente, por parte do PRS e do PAIGC, quanto da posição dos militares que equivocamente se acham serem guias do funcionamento do Estado, ou seja, quem tem que ditar as regras do jogo.

É óbvio que, tem que existir uma rigorosa parceria institucional que impreterivelmente respeite a funcionalidade e as atribuições a que constitucionalmente estão reservadas a cada instituição.

Temos que admitir e responsabilizar as nossas Forças Armadas pelos violentos erros que estão a cometer. A situação é grave e se não for enfrentada com determinação, pode vir a ser de proporções inimagináveis. O Governo e a Presidência da República têm que ousar colocar um fim na premiação dos militares após seus atos bárbaros e violentos: de 7 de junho aos acontecimentos de 1 e 2 de março de 2009 todos os líderes golpistas e seus séquitos foram promovidos a CEMGFA e a outros cargos de chefias.

Será que os promotores do ato de 1º de Abril serão também premiados? Que situação justifica o levantar das armas para importunar a democracia? Rigorosamente nenhuma! Ainda mais quando o motivo evocado se identifica com o real sentido do 1º de Abril, ou seja, de pura e simples mentira.

Se é verdade que não se pode negar que a política deve ser feita com diplomacia, igualmente, não é menos verdade aceitar que ela se edifica e se credibiliza com a lisura de princípios e, sobretudo, sem mentiras vestidas de verdade. O que aconteceu no dia 1º de Abril foi um golpe de Estado premeditado, talvez, com falhas na execução e não um incidente conforme se queira mostrar.

É preciso ter muito cuidado em não chamar lobo pelo cão. Mas, se assim o queremos, consideraremos também de incidentes outros atos que inclusive ceifaram vidas de inúmeras figuras políticas, militares e civis indefesos que todos sabemos. Aliás, se olharmos para o passado recente, perguntamos que confiança teremos para acreditar nas garantias de que tudo está ultrapassado, conforme as declarações proferidas pelo presidente da República, pelo primeiro-ministro e pelo Major-General Antonio Injai?

Quem confia no pedido de desculpa feito pelo Major-General Antonio Injai?

Que garantia temos de que os lobos não vão atacar?

Que garantia temos de que o presidente da República vai conseguir quebrar a inglória tradição da violência e terminar o seu mandato?

 Entre essas dúvidas sem respostas, a certeza que persiste é que os militares guineenses não temem as normas da Comunidade Internacional sobre o respeito pela ordem democrática e sempre estão dispostos a alterá-la a favor de benefícios particulares.  Pior é que, eles ainda não repararam que entram pela porta da violência do golpe e saem sem honra e nem gloria pela mesma porta.   

 Entretanto, se da parte de quem de direito existe o medo de reconhecer a violência e a ilegalidade da ação dos militares, não se pode esperar desses quem de direito o apelo à vinda de uma Força da ONU que ajude a reformar e a disciplinar o efetivo militar nacional, pelo mesmo motivo, que é o medo. Medo que a população de Bissau deixou de ter no dia das mentiras e exigiu a verdade da reposição do seu direito constitucional. E essa certeza tenho, o Povo na rua sempre que preciso é o único caminho que nos pode levar à liberdade efetiva.  


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