SUGERINDO NOVOS RUMOS
Fernando Casimiro (Didinho)
02.03.2010
Um ano depois das matanças de 1 e 2 de Março de 2009, o Governo, através do Primeiro-ministro Carlos Gomes Jr., e as Forças Armadas, através do Chefe do Estado-Maior General, José Zamora Induta, continuam a mostrar sinais de envolvimento/conivência nesses actos bárbaros. Como se explica a falta de sensibilidade, a indiferença, ao longo de 12 meses, destas figuras do Estado para com os crimes que vitimaram Nino Vieira e Tagme Na Waie?
Como aceitar que, figuras do Estado, assassinadas no exercício das suas funções, independentemente dos seus reprováveis comportamentos no passado, não sejam recordadas, numa perspectiva pedagógica, tendo em vista, aprendermos todos com os erros do passado, para que se acabe com as matanças, para que se valorize a vida humana, para que os guineenses se entendam, mesmo divergindo, mas dialogando e sabendo cada um tolerar o outro.
Compreender esta falta de sensibilidade do Primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior e do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, José Zamora Induta está ao alcance de qualquer um, face a tudo o que se assistiu ao longo de 12 meses, porém, contrariamente a estas 2 figuras, deve-se questionar a sensibilidade do actual Presidente da República, Malam Bacai Sanhá, bem como dos restantes órgãos de soberania.
Os guineenses precisam de desabafar, soltar o que lhes vai corroendo a alma, ao ponto de se transformar em ódio e que, atingindo valores insuportáveis de encaixe interior, transborda para actos de vingança.
É preciso libertar as pessoas do ódio e da vingança, permitindo que desabafem, que denunciem os males de que foram ou têm sido vítimas, assim como, que denunciem, estando na posse de factos, os autores materiais ou morais desses males.
É importante que se promovam conferências e debates específicos sobre as relações humanas: Causas e efeitos da barbárie na Guiné-Bissau entre 1974 aos dias de hoje, para que se façam diagnósticos e se encontrem respostas que permitam apontar novas formas de relacionamento entre as estruturas do poder e os cidadãos.
Toda a sociedade deveria participar nesses debates, que poderiam ser descentralizados, criando-se comissões regionais e sectoriais para que de facto, todo o país tenha oportunidade de participar.
Não menos importante seria a sensibilização de toda a sociedade, no sentido de se cultivar o bem na Guiné-Bissau e neste particular, os ensinamentos religiosos, independentemente da religião, são valores que contrariam o ódio, a vingança, a violência, a mentira, a injustiça etc., oferecendo o Amor, a Fraternidade, a Verdade, a Justiça e a Paz como guias de boa conduta para todo aquele que quer seguir o caminho do bem.
Os guineenses, como seres humanos, precisam de se (re) educar espiritualmente. É do nosso interior que partem todas as nossas boas ou más acções!
Tendo em conta as datas marcantes de 1 e 2 de Março de 2009, importa colocarmo-nos todos na situação de vítimas ou familiares das vítimas dos diversos regimes que dirigiram a Guiné-Bissau, para assim podermos avaliar a relação causa/efeito dos crimes de sangue ocorridos no país. Não é fácil ultrapassar a perda natural de um ente querido, e muito menos, quando essa perda é motivada pela demonstração de força de quem detém o poder e que deveria ser símbolo do respeito pela dignidade e garantia da vida humana.
O passado da Guiné-Bissau não se resume contudo a 1 e 2 de Março de 2009, nem tão pouco, aos momentos de glória, enquanto guerrilheiros, do ex- Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas guineenses, Major-General Baptista Tagme Na Waie, assassinado a 1 de Março de 2009 e do ex-Presidente da República da Guiné-Bissau, General João Bernardo "Nino" Vieira, assassinado a 2 de Março de 2009.
Todos conhecemos o percurso de valente guerrilheiro que foi o ex-Presidente da República, General João Bernardo Vieira e o contributo que deu para a libertação da Guiné-Bissau e Cabo Verde. Há que reconhecer esse pormenor, que merece ficar registado nas páginas de ouro da nossa História.
No entanto, todos conhecemos igualmente, o percurso desastroso do General João Bernardo Vieira, desde o Golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980, até ao seu assassinato, em prejuízo da Guiné-Bissau e dos guineenses. Não se trata de guardar rancor ao ex-Presidente, mas sim, de também registar nas páginas negras da nossa história, o mal que representou para o país quando se tornou dono e senhor do poder absoluto na Guiné-Bissau.
Apesar de todos os males causados, os guineenses devem ter a capacidade espiritual de tomar a iniciativa de perdoar postumamente, quer o ex-Presidente da República, General João Bernardo "Nino" Vieira, quer o ex-Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Major-General Baptista Tagme Na Waie.
Os guineenses, aliás, devem perdoar-se mutuamente no dia-a-dia, todos os dias, durante todo o ano, ao longo de toda a vida!
Os guineenses devem continuar a exigir que se apurem todas as verdades sobre os assassinatos de 1 e 2 de Março de 2009, bem como os de 4 e 5 de Junho do mesmo ano, para que se faça Justiça; uma Justiça que não devolve as vidas perdidas, mas que pode impedir que mais mortes do género aconteçam no país.
Devemos continuar a insistir no diagnóstico das causas que impedem a reconciliação entre os guineenses.
Devemos continuar a insistir no diagnóstico das causas que têm entravado o desenvolvimento da Guiné-Bissau.
Devemos continuar a insistir para que os direitos, liberdades, garantias e deveres fundamentais sejam para a Guiné-Bissau como que os fusíveis de um quadro eléctrico!
Devemos ser sérios na abordagem dos nossos problemas, tomar partido pelo país e pelo nosso povo, com quem temos compromisso!
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
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