Carta aberta a Sua Excelência o Senhor Primeiro Ministro do Reino da Suécia
Exmo. Senhor Primeiro-Ministro
Antes de mais, gostaria de lhe dizer que esta carta a si dirigida é também extensiva ao povo amigo da Suécia.
Sem rodeios de apresentação, porque o propósito desta carta não é a minha pessoa, Fernando Casimiro (Didinho), mas sim o meu país, a Guiné-Bissau, peço-lhe, Excelência, a sua especial atenção e consideração para esta minha reflexão que se segue: "Três razões para que a Suécia não suspenda as ajudas à Guiné-Bissau".
1 - Pela Vida
" A vida só tem sentido se, para além de nós, outros também puderem viver..." Fernando Casimiro (Didinho)
Com esta minha pequena, mas abrangente meditação, quero sensibilizá-lo, Senhor Primeiro Ministro, para a importância que a ajuda sueca representa no sustento das condições de vida das populações da Guiné-Bissau.
O anúncio oficial do termo da cooperação bilateral entre a Suécia e a Guiné-Bissau, foi feito em Bissau, tendo como justificação, a necessidade de, após mais de 30 anos de assistência técnica e financeira, ter chegado a hora de a Guiné-Bissau "começar a andar pelos seus próprios meios".
Esta decisão não pode deixar indiferente nenhum cidadão guineense! A Suécia, sempre foi e continua a ser uma referência no modelo de ajuda aos povos e países menos desenvolvidos. A Guiné-Bissau e os guineenses reconhecem-no e agradecem.
Esta decisão, Senhor Primeiro Ministro, ainda que se possa aceitar e, tendo em conta a forma lacónica como foi comunicada, por um lado penaliza o povo da Guiné-Bissau, que continua carente de ajuda externa, mas por outro, vem demonstrar o quão urgente a Suécia em particular e o Mundo em geral, devem reformular todo o processo de ajudas aos países carenciados, de forma a que não se continue a alimentar fracassos, não se continue a enviar ajudas que depois são canalizadas para outros fins que não os apoios específicos previamente determinados.
Entre a Suécia e a Guiné-Bissau e nas pessoas de Olof Palme e Amilcar Cabral, nasceu uma relação de amizade digna do simbolismo caracterizador do que é suposto ser a convivência entre povos.
A Suécia, que tive a oportunidade de visitar por 2 vezes: 1984 e 1986, sempre me marcou pela imagem de um modelo a que chamo: "Pelo Social, Pelas Pessoas".
Os inúmeros e avultados apoios concedidos à Guiné-Bissau até aos dias de hoje, não conseguiram atingir, na verdade, os resultados esperados. Mas, e precisamente porque importa analisar os fracassos para se arranjar soluções, é que a Suécia e a Guiné-Bissau se devem sentar à mesma mesa e dialogar.
Dialogar no sentido de possibilitar que as ajudas a disponibilizar sejam efectivamente úteis através de um novo modelo de ajuda e de cooperação baseado nas realidades concretas da Guiné-Bissau e na disponibilidade objectiva da Suécia.
Excelência, a relação de amizade que existe entre a Suécia e a Guiné-Bissau, entre o Lars e o Malam, entre a Ulla e a Binta, entre o Erik e o Pansau, por exemplo, aconselha a que se dê uma nova oportunidade aos mais desfavorecidos na Guiné-Bissau.
Sectores vitais como a Educação e a saúde, precisam continuamente da ajuda sueca.
Os projectos das ONG´s precisam continuamente da ajuda sueca, pois as ONG´s chegam onde o Estado não chega.
2 - Pela Democracia
Não se pode passar ao lado das constantes turbulências político-militares na Guiné-Bissau quando se faz o balanço das ajuda recebidas da Suécia no quadro da cooperação até aqui existente.
Conhecedora dos principais problemas sociais da Guiné-Bissau, a Suécia desde cedo compreendeu a necessidade de apoiar a reforma nas Forças Armadas, disponibilizando meios financeiros para o efeito no intuito de se prevenirem situações de instabilidade política, económica e social. Meios esses destinados à desmobilização e integração de militares na vida social activa.
A Suécia também disponibilizou ajudas consideráveis à Liga Guineense dos Direitos Humanos, contribuindo desta forma para o fortalecimento das estruturas democráticas na sociedade civil guineense.
Porque é preciso continuar a sensibilizar os guineenses para a necessidade de uma rápida assimilação dos conceitos da democracia, ainda que adaptada às realidades do país, a ajuda sueca continua a ser indispensável.
Indicar os mais de 30 anos de ajuda Sueca à Guiné-Bissau é positivo na transmissão de uma relação de amizade e de cooperação, mas não pode ser definido como um período que estabelece etapas de reconhecimento na continuação ou suspensão das ajudas e da cooperação entre os 2 países.
Porque no momento actual se estão a dar passos positivos no sentido do reencontro com a estabilidade e porque a execução de reformas necessárias para uma melhor implementação dos princípios democráticos e da sustentação de um Estado de Direito na Guiné-Bissau também necessitarem de apoios de países amigos como a Suécia, peço-lhe, Excelência, que reconsidere a suspensão das ajudas à Guiné-Bissau.
3 - Pelo desenvolvimento
A mudança geracional, aliada ao crescendo de quadros formados, tem contribuído positivamente para a diversidade da mentalidade dos guineenses, numa visão futurista rumo ao desenvolvimento.
Nesta perspectiva, Senhor Primeiro Ministro, estamos perante a necessidade de se continuar a apoiar a Guiné-Bissau na busca de pontos de referência que possibilitem o fortalecimento do espírito de iniciativa bem como a capacidade de inovação dos seus recursos humanos.
Esta talvez seja a melhor altura não para suspender as ajudas à Guiné-Bissau, mas sim para reforçar essas ajudas.
A Guiné-Bissau precisa de voltar a conquistar a confiança dos seus amigos e parceiros estratégicos, é certo, mas o momento é de viragem e se os amigos e parceiros estratégicos não tiverem em linha de conta que as mudanças que estão em curso precisam de motivação, de apoios, então estarão todos a contribuir, não para a recuperação de um país, mas sim para o afundanço desse mesmo país.
Excelência, por Olof Palme e Amilcar Cabral, pela Suécia e pela Guiné-Bissau, faz sentido criar um novo modelo de ajuda e cooperação.
Termino a minha carta desejando-lhe óptimo desempenho no exercício das suas funções.
Com os melhores cumprimentos,
Fernando Casimiro (Didinho)
07.03.2005
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