TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO: UMA TEORIA INFUNDADA, DE CUMPLICIDADE E SUBSERVIÊNCIA DO ACTUAL GOVERNO AO DITADOR NINO VIEIRA
A Paz e a Estabilidade não se conseguem com a guerra e tão-pouco, com o silêncio e a indiferença...! Didinho
Por: Fernando Casimiro (Didinho)
30.11.2008
O governo guineense, reunido de emergência um dia após a encenação, sim, continuo a dizer que foi uma encenação orquestrada por Nino Vieira, que teve como palco a sua residência na Rua Angola em Bissau e que culminou com a morte de um dos membros da guarda presidencial e o ferimento do chefe da mesma guarda, classificou o acto como uma tentativa de golpe de Estado, aproveitando a oportunidade para utilizar todos os adjectivos da praxe para condenar o acto, sem contudo, avançar com argumentos consistentes, fundamentados e detalhados, para informar e esclarecer os guineenses e o mundo, sobre quem teria organizado e como, essa suposta tentativa de golpe de Estado, que o próprio Ministro da Administração Interna reconheceu publicamente, no próprio dia da ocorrência da encenação, ser algo que o governo já sabia que iria acontecer.
Entre a facilidade de uma conclusão, que só o é porquanto não se prestar a analisar o conceito prático do termo golpe de Estado mas sim, o rotineiro e gasto conceito teórico que sustenta, nos dias de hoje, o argumento de quem estando no poder e percebendo as suas fragilidades e a inconveniência de uma mudança institucional a nível da formação de um novo parlamento e de um novo governo, que lhe podem contrariar nas pretensões de controlo absoluto do Estado guineense, tenta, numa cartada de mestre, chamar a si, as prerrogativas constitucionais para em momento oportuno agir em conformidade, bem como, atrair a solidariedade e o apoio moral, através de uma vitimização pensada ao pormenor, no intuito de se refrescar, de se refortalecer, pois as pernas já tremiam de tantas acusações de que tem sido alvo...
O governo de Carlos Correia condenou e classificou a encenação como uma tentativa de golpe de Estado.
Respeito as opiniões divergentes dos meus pontos de vista sobre o acto que classifico de encenação, mas não posso deixar de dizer que os pontos de vista divergentes não têm nenhuma sustentação a não ser apontar para os estragos materiais da residência do presidente, incluindo as viaturas e, infelizmente, a morte de um membro da guarda presidencial e o ferimento do chefe da guarda.
Estaremos todos de acordo que a violência não deve ser utilizada para se chegar ao poder; a qualquer poder e que, a Guiné-Bissau e os guineenses precisam de Paz e de Estabilidade. Estaremos igualmente de acordo em como se deve denunciar e condenar o incentivo à instabilidade no país!
Quando se quer analisar um assunto tão delicado, há que reflectir muito bem e conjugar perguntas com possíveis respostas. É assim que faço as minhas análises, pois não basta escrever, para depois não poder, ou não saber justificar o que se escreve.
Temos que saber que para além da nossa cabeça, há mais cabeças que pensam; para além dos nossos olhos, há outros olhos que também vêem; para além dos nossos ouvidos há mais ouvidos que também ouvem...
Ou seja, não devemos pensar que todos têm que aceitar a nossa análise, declaração, comunicado, denúncia, acusação etc. sem que os nossos argumentos sejam suficientemente esclarecedores e por isso, convincentes para os que nos lêem, vêem ou ouvem.
O governo de Carlos Correia emitiu um parecer, que apelidou de tentativa de golpe de Estado, mas não se justificou, não esclareceu nenhum detalhe que sustentasse a tese de tentativa de golpe de Estado.
Afinal, num conceito geral, um golpe de Estado pressupõe a mudança pela força, a tomada do poder pela força. Quem pode provar que houve, para além da encenação na residência do presidente, tentativas de ocupação das instituições da República por parte de forças militares ou afins?
Algum grupo estava na Rádio Nacional, na Televisão Nacional, nos portos e aeroportos, nos ministérios etc.?
Há algo que pode sustentar uma mobilização e estruturação de forças, como um todo, para a efectivação da tomada do poder de Estado?
Que golpe de Estado é este que descuida a real tomada do poder e age simplesmente num suposto assassinato do presidente?
Será correcto classificarmos este acto como tentativa de golpe de Estado?
Quem fez alguma investigação preliminar para chegar a essa conclusão, tendo em conta que até hoje, uma semana depois, o presidente da República, por exemplo, não explicou por que razão contactou de imediato o presidente do Senegal e não as forças de defesa e segurança do país, na pessoa do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas?
Será correcto elevarmos ao extremo a instabilidade político-social no país, deixando insinuações sobre uma presumível participação ou cumplicidade militar nesta encenação, quando as Forças Armadas tiveram um papel preponderante para o sucesso das eleições do passado dia 16 de Novembro e sabendo que está em curso um programa de reformas nas Forças Armadas sustentado e acompanhado pela União Europeia?
Aproveito este artigo para perguntar ao primeiro-ministro Carlos Correia se ele próprio foi contactado pelo presidente da República e se foi, o que é que fez, como chefe do governo, para que, através dos Ministérios das Forças Armadas e da Administração Interna se pusesse em prática os planos de emergência para casos do género?
Caso não tenha sido contactado pelo presidente da República e, sabendo que este contactou o presidente do Senegal, pergunto ao primeiro-ministro Carlos Correia, qual o seu papel na chefia do governo?
Se o primeiro-ministro Carlos Correia não foi contactado pelo presidente e tendo em conta as declarações do Ministro da Administração Interna, em que este assegura que o governo já sabia que iria haver um acto desta natureza, pergunto ao primeiro-ministro se realmente todo o governo já sabia disso, ou se só o ministro da Administração Interna e o primeiro-ministro sabiam disso, ou ainda, se só o ministro da Administração Interna sabia o que afirmou?
O governo está em condições de responder a estas questões?
Mais do que divulgar a detenção de supostos implicados, ou do desmentido da captura do presumível estratega operacional do alegado golpe de Estado, urge esclarecer, de forma sustentada, o que realmente se passou na madrugada de 23 de Novembro, até para que não seja só mais um caso igual a tantos outros...
Aos que têm opiniões contrárias aos meus pontos de vista, repito, há respeito da minha parte pelas diferenças, mas não ficaria mal se alguém que defende a versão do que nos foi dado a conhecer tentasse dar resposta às inúmeras questões que tenho vindo a levantar sobre esta encenação.
Escrevam, que os vossos trabalhos serão publicados no nosso site!
Vamos continuar a trabalhar!
Governo qualifica de tentativa de
golpe de Estado ataques contra Nino O Governo da Guiné-Bissau qualificou hoje de tentativa de golpe de Estado os ataques à residência do Presidente guineense, João Bernardo "Nino" Vieira, e prometeu prender e julgar os implicados naquele "acto ignóbil". Em comunicado hoje divulgado, na sequência da reunião de emergência do Conselho de Ministros, realizada domingo, o Governo classifica de "bárbara e com contornos políticos" a tentativa de assassínio de "Nino" Vieira. Para o executivo guineense, os contornos políticos deste caso decorrem das eleições legislativas recentemente realizadas no país e consideradas "por todos livres, justas e transparentes". O Governo condena com "veemência" o acto, que classifica ainda de "criminoso e antipatriótico", sobretudo porque "acontece numa altura em que o país caminha para a estabilidade". Com o objectivo de pôr cobro a este tipo de situações, o executivo guineense promete utilizar todos os meios legais, políticos e diplomáticos para a salvaguarda das instituições democráticas, integridade e segurança da sociedade. Aos cidadãos guineenses, o executivo pede calma, serenidade e confiança nas instituições democráticas, e à comunidade internacional agradece a solidariedade pela forma como condenou "o acto hediondo que visava inverter o Estado de direito democrático" na Guiné-Bissau. 24-Nov-2008 -
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