Ter sentido de responsabilidade
Sargento
Natche *
sargentonatche@hotmail.com
08.07.2009
Todos
nós devemos ser responsáveis pelos actos que praticamos, de uma forma individual
ou em grupo e assim, assumir as consequências, sejam quais forem.
Na Guiné-Bissau houve um tempo em que
os gestores públicos (Ministros, Secretários de Estado e Directores-gerais),
prestavam contas, porque eram fiscalizados, quando apareciam com... ou
apresentavam sinais de aparente riqueza de uma forma duvidosa que pelo sim ou
pelo não, ultrapassavam os seus rendimentos e, se houvesse indícios fortes de
prática ilícita, eram chamados para esclarecimento perante o Secretário-Geral do
Comissariado do Interior, António Alcântara Buscardini, quem não se lembra dele?
Não me lembro de grandes golpadas
como às que assistimos nestas últimas décadas!
Tinha um
cunhado (já falecido), trabalhava nos “Armazéns do Povo”, que juntamente com
colegas do serviço circulavam por tudo quanto é canto da Guiné para fazerem
“balanço”, inventários e controlos de tudo quanto era necessário dessa empresa
que era propriedade do Estado (bem público).
Mas de há
um certo tempo para cá, esta prática deixou de existir, não sei o porquê, nem
como, talvez porque as pessoas tornaram-se honestas e não era mais preciso pedir
a ninguém para justificar a parte da “fatia de bolo” que recebeu do Orçamento do
Estado.
Fomos
sempre educados para justificar um serviço prestado, quando os mais velhos,
amigos ou até colegas nos pediam um favor (por exemplo para comprar uma coisa),
quando chegávamos apresentávamos o recibo ou, não havendo isso, dizíamos
verbalmente quanto tinha custado o produto e se havia troco ou não; por vezes os
mandantes perguntavam-nos de forma desinteressada como quem não queria saber de
nada, dizendo que não era preciso ou já sabiam do valor.
Porque é
que esta prática desapareceu? Principalmente dos nossos governantes? Eles são
gestores públicos que gerem o que é de todos nós!
O
aparecimento dos funcionários fantasmas, “salve-se quem puder”, porque a única
entidade empregadora é o Estado, também é fonte de enriquecimento num piscar de
olho (sapo ta cumé si labur, ma cu sintido...).
Concordo
com decisão do actual Ministro das Finanças, José Mário Vaz, de implementar o
pagamento de ordenados através de transferência bancária.
No entanto,
como enquadrar os indivíduos (por exemplo os professores e outros funcionários)
que se encontram de serviço na ilha de Komo, ilha de Uno e outros (Bubaque),
Geta, Sedengal, Pirada? O Senhor Ministro tem que arranjar solução para eles,
senão, o dinheiro acaba no transporte (damos as condições e pedimos a
responsabilidade a posteriori).
A questão
da responsabilidade, ninguém responde por nada, podem prevaricar porque ficam
sempre impunes…
A cultura
da impunidade é de tal maneira grave, que levou a que órgãos de supervisão do
Estado perdessem autoridade.
A
proliferação dos governantes comerciantes, donos das quintas (Pontas),
privatizações e os que compravam as mesmas empresas em que eram responsáveis,
isto tudo com liberalização do comércio; quais são os resultados?
A ideia da
liberalização foi boa, mas o Estado não estava preparado e nem tinha plano de
emergência. Os mercados devem ser regulados para que a criação da riqueza social
não se transforme em motor de injustiça social.
Cabe ao
Estado garantir a coesão social, accionando mecanismos de regulação e de
investimento para que a competitividade económica cresça com a protecção social,
por isso, o Estado tem de ser democrático e dotado de uma Justiça mais eficaz na
luta contra a corrupção.
O reputado
corrector Senhor Bernard Madoff foi condenado a 150 anos de cadeia (EUA).
Também
temos os nossos Madoff e damos sinais de que não queremos continuar a conviver
como se nada fosse, com determinados comportamentos menos aceitáveis na gestão
do bem público. Quando é que alguém tem que ser demitido e levado à vara do
tribunal, por má gestão pública?
A Justiça
tem de voltar a distanciar-se da política, perseguindo e castigando a quem deve
castigar, mas recusando entrar na lógica da vingança colectiva da caça ao homem.
Ao povo,
resta esperar que estes senhores que um dia venham a ser tratados de forma
igualmente expedita e não só na área financeira, porque existem outros tipos de
crimes ainda mais intoleráveis para uma sociedade que se quer para um estado de
Direito e democrático.
Instigando
qualquer presidente (Malam Bacai Sanhá e Mohamed Ialá Embaló) que venha a ser
eleito, a instar o governo a responsabilizar os seus elementos e pedir-lhes
contas antes do novo Orçamento de Estado de cada ano e no final da legislatura.
É também
nesta altura de ruptura social que se deve recusar o radicalismo.
O problema
da Guiné-Bissau não se resume só às eleições, que é também um acto importante,
mas a questão fundamental é estrutural, a coesão social, combate à
marginalidade, colocar o Estado no seu devido lugar como pessoa de bem, a
reforma política, militar (subordinado ao poder político e não ingerências nos
assuntos de Estado), a função pública, ensino, em toda a esfera nacional até na
mudança da nossa mentalidade como cidadãos e, por último, a solidariedade entre
gerações.
Senão qual
é o futuro que queremos para os nossos filhos e netos?
Que tipo de
país é que vão herdar?
Quais são
os valores que lhes vamos transmitir?
A natureza
secular do Estado é de serviço, a igualdade de oportunidade.
Questões de imposto
Imposto de
Reconstrução Nacional. Será que estas palavras ainda têm sentido neste contexto
social do país? Deve-se pagar? Tenho duas respostas, porque a pergunta é
ambígua:
Primeiro,
sim faz sentido e deve-se pagar porque no estado em que se encontra, o país
precisa da ajuda de todos, mais ainda, numa terra que não produz quase nada para
exportar. Também é nosso dever apoiar o Estado para criar os bens de serviço de
primeira necessidade.
Segunda
resposta, para quê pagar impostos? Para pagar os salários dos que já recebem? A
maioria que não recebe os seus vencimentos como vão pagar? Nem para comer têm,
quanto mais…?
O Estado
recebe milhões e milhões de dinheiro em forma de apoio dos países amigos, onde é
que estão os projectos concretos desses fundos de apoio?
Onde é que
estão os bens de serviço público? Hospitais, escolas, estrada, energia, água
potável…? Os que existem em que condições é que estão (se não herdadas)?
Aliás
alguns têm bons hospitais, escolas no Senegal ou na Europa, boas estradas para
hummer’s, geradores de alta potência que incomodam os vizinhos mas que não lhes
dá direito à luz em compensação do barulho.
Que lindo
serviço prestado ao país! Em trinta e cinco anos de (in) dependência, não fomos
capazes de fazer algo de bom para o país; destruímos aquilo que tínhamos,
fábricas de roupa Bambi, leite “Blufo”, sumos Titina Silá, montagens de Volvo,
“Nhaye”, energia (luz) para aulas nocturnas...etc.
Que nome é
que podem (os) chamar os nossos governantes/ gestores)?
Por falar
em gestores; soube através do diz que diz (jornal di tabanca), mas ainda preciso
de confirmar se é verdade ou mentira.
Se for
mentira fico mais tranquilo, mas se for verdade, então somos submissos.
Disseram-me
de que a maioria dos altos quadros do BCEAO (Guiné) são Senegaleses, e não só
mais de metade de funcionários são deste país e se confirmar essa realidade,
porque não entregar outros serviços essenciais, assim poupavam a viagem e o
dinheiro de passagem para Dakar (ir fazer tratamentos médicos e os filhos dos
senhores “djintões” para ir estudar).
E também
podemos recorrer aos cabo-verdianos, o Primeiro-ministro José Maria Neves já
está no fim do seu mandato e podia bem servir como nosso Primeiro-ministro já
que é o governo do PAIGC.
Pedimos
socorro,...socorro! PAICV.
*
Licenciado em Biotecnologia
*
Mestrando em Ciências Médico Legais e Ciências Forenses – Biomédica Univ. Porto
VAMOS CONTINUAR A
TRABALHAR!
Associação
Guiné-Bissau
CONTRIBUTO
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www.didinho.org