Quando
em 30 de Janeiro de 1973 Titina Sila, mãe, irmã e combatente, fechou os
olhos pela última vez, provavelmente a Guiné-Bissau conheceu das suas
maiores dores. Por um lado por ter perdido das suas melhores filhas, por
outro, o facto de dez dias antes ter perdido o seu mais bem preparado filho,
Amílcar Cabral.
Decorria o ano de 1973 e a
luta nos matos da Guiné fervia de intensidade, com vantagem para os
combatentes do PAIGC. Isso na medida em que, ao contrário das outras guerras
que decorriam nas colónias, a guerra na Guiné já se encontrava perdida para
os portugueses. A chama da independência cozinhava o sentido de liberdade e
de justiça que se encontravam no pensamento da Titina, temperados pelo amor
ao povo que ela carregava ao colo na figura do filho. Quanta rebeldia e
determinação haviam na figura duma só mulher, dissipadas por um grupo de
fanáticos que se consideravam superiores. Quão gélido deve ter sido a
notícia da sua morte no seio dos combatentes da liberdade da pátria, aqueles
que por momentos esqueceram dos inimigos e desejaram como ninguém a
ressurreição carnal dos mortos.
Contudo, foi naquele
clima de absoluta mágoa que alguém encarnou a força da Titina, hoje
patenteada nas mulheres Guineenses, para declarar que todo aquele desgosto
tinha sido uma preparação para a chegada da tão ambicionada independência,
que traria consigo a paz, o desenvolvimento e a concórdia entre todos os
Guineenses. Era esta a forma que a entranhada figura levantava a moral dos
combatentes, banhando o seu discurso com as lágrimas de veneração pela mãe,
irmã e combatente chamada Titina Sila.
Foram tempos conturbados,
aqueles em que Titina Sila viveu e se imortalizou.
Teve a necessidade
de, como mulher, ser igual aos homens, para ser respeitada e recordada como
combatente.
Hoje, passados 37 anos após
a sua morte, o respeito permanece mas não a merecida recordação! É
Incomodativo constatar a falta de consideração para com a memória de Titina
Sila, não só dentro do PAIGC, não só dentro dos órgãos governamentais, mas
também entre a sociedade em geral. Alguns preferem deixar o nome na história
pelas piores razões do que prestarem tributo aos melhores filhos da
Guiné-Bissau que deixaram o nome na história pelas melhores razões. Outros
insistem em ignorar completamente o facto inspirador que o nome dos bons
filhos representa para a recuperação da fé harmónica entre os Guineenses.
Persistem em não constatar que recordar figuras como Titina Sila é extrair
ensinamentos na vida e na morte das mesmas figuras.
Os indícios que nos revelam
que a memória da Titina Sila é completamente ignorada foram reforçados com a
presença do Primeiro-ministro Guineense e presidente do PAIGC, Carlos Gomes
Jr., em Portugal, no passado dia 30 de Janeiro. O mesmo esteve presente num
encontro com a diáspora Guineense em Portugal no auditório da Universidade
Lusófona. No dito encontro, o nome da Titina Sila não foi referido uma única
vez, isso num dia tão importante para toda a mulher Guineense e em
particular para a família Sila. Tal referência era esperada na medida em que
entre nós se encontrava a irmã de Titina Sila, conhecida do
Primeiro-ministro e também porque foram exibidas imagens relacionadas com
antigos combatentes. No entanto, limitou-se a fazer alusão a Amílcar Lopes
Cabral, esquecendo que o dia era de recordar Titina Sila. O facto do Sr.
Carlos Gomes Jr. ocupar o cargo de Presidente do PAIGC torna sem dúvida essa
falha ainda mais grave. Não vou abordar os assuntos situados no referido
encontro, porque as linhas de hoje são dedicados à grandiosa Titina Sila.
Enfim… a todos tenho a
dizer que a força espiritual que hoje sabemos que existiu em Titina Sila,
tem de estar na nossa consciência, principalmente na consciência
dos nossos
governantes, para que assim
revivamos em nós um
bem profundo, que por mais pequeno que seja, não se desvaneça e nos deixe
uma sensação de satisfação e paz. Caso contrário meus irmãos, continuaremos
a sofrer os efeitos do esquecimento e ignorando completamente as suas
causas. Por outro lado, a grande revolução que se deseja dentro da mente dos
nossos jovens necessita de referências como Titina Sila. Só com essa
revolução de mentalidade teremos uma Guiné-Bissau renovada sob todos os
aspectos. Ou seja meus irmãos, nunca mais teremos Titina Sila, mas podemos
ter pessoas que se inspiram nela no seu dia-a-dia. Os tempos são outros, mas
podemos fazer voltar o bom tempo em que as crianças eram ensinadas à cantar
tão sentida canção: “Titina na riu di Farim, Titina
nada i tchiga na metadi i fasi força pa iangasa kanua tuga odjale i kunsa
lança bumba…”
Entre factos e
constatações, uma pequena e devida homenagem a Titina Sila.
Estamos juntos!