TRAUMA DE DIPLOMA
Em Angola, João Carlos Gomes na companhia do malogrado Alioune Blondin Beye, Representante Especial do Secretário-geral das Nações Unidas, e Durão Barroso.
Por: João Carlos Gomes
02.05.2007
Caro Didinho,
1. Conforme te tinha dito, não tenho por princípio, nem paciência, nem tempo para me imiscuir na vida pessoal de ninguém, sobretudo nas minhas actividades profissionais. Não tenho problemas em receber críticas, particularmente quando baseadas em análises maduras e capazes de contribuir para o meu melhoramento em todos os aspectos da minha vida, uma preocupação constante que é a única coisa que explica o facto de ter chegado aonde cheguei. No entanto, porque não gosto de desprezar ninguém, é também minha filosofia de vida que, de vez em quando, é preciso lidar com compinchas, falando-lhes na única linguagem que entendem – a sua própria.
2. Numa das tuas comunicações recentes, recebi o recado de um tal de 'Beto Sa' que infelizmente não conheço, e incidentalmente, ele não teve a cortesia de se apresentar. Lamento o facto de que, por causa das minhas modestas capacidades de comunicação, ainda não aprendi a falar com fantasmas. Assim sendo, como o Sr. Beto perguntou, 'quem é o João Carlos?', gostaria que pedisses ao Sr. Beto Sá que, se pretende conhecer-me ainda melhor, que tenha a cortesia de se identificar devidamente, se possível com foto, de forma a permitir-me oferecer-lhe um estudo comparativo entre eu e ele, se eu entender valer a pena, mas só depois de saber quem é o tratante em questão. Só que, de antemão, lhe aviso: não gosto muito de me engajar em gabarolices. Mas brincadeira tem hora!
3. Até ultrapassarmos o síndroma conhecido na Guiné por 'mandjuandadi di cacri' (não pode, não deixa fazer) vamos continuar a desferir golpes duríssimos contra o nosso próprio desenvolvimento.
4. A verdade é que, um dos grandes problemas que nós os guineenses temos ainda hoje é o facto de não sabermos respeitar uns aos outros, preferindo tudo fazer para destruir aquilo que é nosso, enquanto batemos palmas àquilo que é dos outros, mesmo nos casos em que os nossos conterrâneos são muito melhores. É devido à prevalência deste fenómeno, também conhecido por, 'complexo de inferioridade', que muitos grandes quadros nacionais têm decidido abandonar o país, depois de serem obrigados a trabalhar debaixo de ordens de estrangeiros que, em alguns casos, foram seus colegas de carteira na faculdade, alunos medíocres a quem ofereciam os seus próprios exames para lhes ajudar a terminar a sua formação.
Sr. Beto Sá, apenas para sua consolação, aqui vai uma prenda avançada:
5. Como jornalista, João Carlos Gomes foi o primeiro Guineense a atingir metas tão importantes que incluem passar testes dos maiores órgãos de comunicação social do mundo como é o caso da 'Voz da America', após o que se tornou no primeiro guineense a ganhar um concurso internacional e a ser contratado como funcionário da maior Organização do mundo (baseado na sede), as Nações Unidas. Aqui, entre outras coisas, e para além de ter estado à frente do Serviço em Português da Radiotelevisão, tornou-se igualmente no primeiro Africano a ter o seu próprio programa de televisão em: Inglês, Português, Francês e Espanhol, no maior mercado do mundo, Nova Iorque.
6. João Carlos Gomes é o guineense que, ou foi testemunha, ou participou em quase todas as grandes negociações internacionais que tiveram lugar nas últimas décadas. Participações directas incluem posições como: Coordenador das primeiras eleições que puseram termo ao odioso regime do Apartheid, na África do Sul; Líder de Equipa das primeiras eleições multipartidárias em Moçambique; membro da Equipa Negocial de Alto Nível das Nações Unidas para a resolução do conflito do então Zaire (República Democrática do Congo); Porta-Voz das Nações Unidas para o Processo de Paz em Angola (então a maior operação da ONU no mundo); o privilégio de ter conhecido pessoalmente todos os presidentes Americanos desde Gerald Ford a Bill Clinton; ter cumprimentado o Rei e a Rainha de Espanha.
7. João Carlos Gomes é também o individuo que nas horas dos maiores desafios nacionais, sempre acudiu ao seu país tentando aliviar o sofrimento do seu povo, como foi o caso quando, nas vésperas das primeiras eleições multipartidárias, em Março de 1993, sugeriu, negociou, organizou, mediou e moderou o primeiro face-a-face com vista a uma reconciliação nacional genuína, agrupando representantes de todos os partidos políticos, num debate televisivo, sem precedentes, que ajudou a acalmar o clima de tensão bastante volátil que então prevalecia no seu país, a Guine-Bissau, nas vésperas das suas primeiras eleições multipartidárias.
Este foi o princípio da verdadeira abertura política, assente em democracia, na Guiné-Bissau. João Carlos Gomes foi o indivíduo que durante a infeliz 'Guerra Civil de 1998-1999', conseguiu provar que mesmo com todas as instituições fechadas, foi possível mobilizar esforços e recursos e, produzir um livro num período de menos de seis meses, quando, mesmo em condições normais, afirmaram-lhe vários colegas, não ser possível produzir um livro em menos de três anos. O 'Polon di Bra' é o único trabalho, produzido nas circunstancias em que foi, que é hoje referência mesmo por parte de grandes instituições internacionais.
Outras contribuições ainda mais importantes serão conhecidas no devido momento.
8. João Carlos Gomes é o guineense que ao longo dos seus anos de permanência no exterior e, através do seu trabalho, já contribuiu com mais de $100,000.00 (cem mil dólares) para a quota da Guiné-Bissau nas Nações Unidas, sem o qual o seu país perde a capacidade de negociar em benefício do seu povo. Houve um ano em que só a sua contribuição individual correspondeu a 1/3 (um terço) do total que a Guiné-Bissau precisava para manter o seu, ‘Direito de Voto. Com tudo isto, nunca beneficiou de nada da Guiné-Bissau, nem nomeações, nem sequer uma medalha.
9. Hoje, porque não é egoísta, João Carlos Gomes está seriamente engajado num processo que está a contribuir para a remodelação total do sistema das Nações Unidas, com vista a pôr fim às injustiças e à discriminação racial que têm afectado seriamente, sobretudo os funcionários de origem Africana (incluindo das Caraíbas e outras partes do mundo). João Carlos Gomes foi o primeiro Funcionário Internacional que teve a coragem de levantar a questão publicamente, tendo desafiado o então Secretário-geral Kofi Annan a pôr fim a estas práticas durante um mandato que lhe foi atribuído graças ao Continente Africano.
Essa luta continua, não só, sem apoios, mas também com sabotagens dos sucessivos representantes dos próprios governos do seu país, a Guiné-Bissau. Tais diplomatas incluem o então Encarregado de Negócios, João Soares (conhecido seu, Sr. Beto Sá?) que não compareceu a uma reunião sobre o assunto porque, às três da tarde, estava bêbado, e o Embaixador Alfredo Cabral que odeia profundamente os guineenses, sobretudo a família Cabral cujo nome ostenta, sem dela ser membro, e da qual se sente rejeitado.
10. Se, nesta indulgência a que fui forçado - não esperarei que a história me absolva – e feri a sensibilidade de alguém, as minha maiores e mais sinceras desculpas. E você, quem é, Sr. Beto Sá? Se na verdade, ainda precisa do meu diploma (para o ajudar com o seu trauma), aconselho-o a procurar um psiquiatra!
Um grande abraço,
João Carlos Gomes
Escritor/Jornalista
Meu caro João Carlos Gomes,
Agradeço a resposta que se impunha, em defesa do teu nome.
Quero dizer-te que graças ao site CONTRIBUTO, um espaço de todos nós, vamo-nos conhecendo cada vez mais e melhor.
Fico contente em actualizar os meus dados sobre ti, nós que não nos vemos há já largos anos.
O site CONTRIBUTO tem aproximado guineenses e amigos da Guiné-Bissau e, mesmo para os que não se identificam com ele, por razões óbvias, tornou-se numa ferramenta de consulta obrigatória.
Tu que tens acompanhado este trabalho, mas que só recentemente resolveste participar directamente, pudeste comprovar, pois foste vítima, tal como eu, de ataques mesquinhos, de alguém que não te conhecendo, não sabendo o teu percurso, quis denegrir a tua imagem, num trabalho encomendado, como não podia deixar de ser.
Como vês, há já alguns anos que lido com este tipo de situações que demonstram a pretensão dos donos do poder em silenciar todos os que têm estado a sensibilizar o nosso povo.
É claro que podem ameaçar, insultar, caluniar etc. mas jamais conseguirão impedir a formação de uma NOVA CONSCIÊNCIA na Guiné-Bissau!
A Mudança é irreversível, como tenho dito, mas depende sobretudo da acção do nosso povo.
Cabe, porém, aos mais lúcidos sensibilizarem os menos lúcidos, ajudando-os a perceber melhor quais os seus deveres e direitos como cidadãos, ponto de partida para a formação da NOVA CONSCIÊNCIA que se impõe nesta fase de Mudança necessária e urgente para a Guiné-Bissau.
Meu caro João Carlos,
Aceita os meus parabéns por tudo o que tens feito pela nossa Guiné-Bissau.
Vamos continuar a trabalhar!
Fernando Casimiro (Didinho)
02.05.2007
Comentário de Óscar Barbosa (Cancan)
03.05.2007