TROMBOSE VENOSA DOS MEMBROS E EMBOLIA PULMONAR

DEEP VENOUS THROMBOSIS (DVT) AND PULMONARY EMBOLISM (PE)

 

 

Prof. Joaquim Tavares

J.TAVARES, MD, FCCP, FAASM

joaquim.tavares15@gmail.com

13.12.2008

Devido a muitas questões dirigidas ao site Contributo, penso ser pertinente escrever alguns parágrafos relacionados com o título acima mencionado;

Um choque cultural que teve um impacto tremendo na minha atitude em função do papel do médico na relação médico-paciente, foi um caso que ocorreu ainda no meu primeiro ano de internato geral: assisti a uma reunião (family meeting: em que um dos médicos atendendo a qualquer paciente informa a família do estado do paciente e responde a todas as questões postas pelos familiares), em que os familiares “encurralaram” o médico com muitas questões do porque é que o paciente não tinha recebido profilaxia com este ou aquele medicamento, porque é que o paciente estava a ser tratado com o antibiótico A e não o antibiótico C que era mais potente contra o organismo identificado nas culturas, etc.

Mas, é assim a prática da medicina nos Estados Unidos e penso que é a maneira correcta de praticar medicina: no fim de tudo, é a vida do paciente que está em jogo, a saúde física/mental/financeira da família que também está em jogo e o sucesso no tratamento do paciente, vai depender da colaboração e da HONESTIDADE entre as duas partes. Se um médico falta a uma reunião (family meeting), pode ficar sujeito a sanção disciplinar e por vezes, pior do que isso.

Aqui, nós que viemos de outras culturas e práticas, aprendemos depressa: o médico não é um DEUS ou mandatário de deuses, mas um indivíduo com treino e conhecimento na área da medicina, cujo papel é colaborar com outros provedores de saúde e com o doente/familiares para tratar dos problemas que surgem.

Nas minhas 3 viagens a Portugal desde 2001, ainda tenho a impressão de que os Guineenses aí radicados não se envolvem muito, quando os familiares estão internados: pedir reuniões com os médicos, fazer perguntas sobre os planos de tratamento, prognósticos; consultar a internet se necessário e pedir uma segunda opinião (second opinion) quando não estão satisfeitos com as respostas dadas pelos médicos/enfermeiros; só assim é que se pode evitar que coisas más aconteçam aos nossos entes queridos.

Até há alguns anos atrás, a embolia pulmonar (coágulo de sangue bloqueando artérias nos pulmões) era vista em muitos casos de autópsia; geralmente, a embolia pulmonar resulta de um coágulo numa das veias dos membros inferiores (femoral, safena etc.); por vezes, partes desse coágulo podem-se despegar e caminhar na circulação venosa, passam pela auricular direita, ventrículo direito, artéria pulmonar, até se encravarem nas pequenas artérias pulmonares (se são muito pequenas) ou nas grandes artérias (se são muito grandes).

Na maioria dos casos, formamos trombos (coágulos) nos membros inferiores devido à inactividade (doentes acamados: AVC, cirurgia ortopédica, trauma, obesidade etc.); alguns casos são devido à combinação de inactividade e factores predisponentes (deficiência de proteínas C, S, factor Leiden, antitrombina 3 etc.)

Quando a embolia é massiva, o doente pode ter morte instantânea; quando não é massiva, o doente pode-se apresentar com dispneia, dores de peito, tonturas, dores nas pernas etc.

Devido ao reconhecimento dos perigos da embolia pulmonar, como consequência da trombose venosa, muitas medidas foram tomadas precisamente para prevenir estas ocorrências:

A maior seguradora de saúde incluiu agora na sua lista o DVT/embolia pulmonar como doença que pode ser prevenida: se alguém morre ou a sua estadia no hospital for prolongada devido ao DVT/embolia, o hospital corre o risco de não ser pago e o médico corre o risco de ser disciplinado ou ser levado a tribunal pelos familiares por negligência ou por falta de tratamento estandardizado.

Todos os hospitais nos Estados Unidos têm uma página de protocolo preventivo que é da responsabilidade da enfermeira/o, médico/a fazer implementar, sob o risco de serem sujeitos a um processo disciplinar se o não fizerem. Para vosso conhecimento apresento uma cópia do protocolo de um dos hospitais: o protocolo é dividido em 3 partes:

1)     Cada doente é avaliado em pontos, dependendo dos riscos: como podem ler, pacientes com cirurgia ortopédica têm 3 pontos (máximo 4) que é considerado de alto risco para DVT/embolia: não fazer profilaxia como indicado na parte 3do protocolo, é um convite ao desastre.

2)     Contra-indicações para tratar com medicamentos (heparin ou enoxiparina)

3)     Tipo de profilaxia, dependendo do nível de risco estratificado.

Se um dos nossos familiares está hospitalizado e pertence aos grupos: Moderado, Alto ou Muito Alto risco e morre, ou tem embolia pulmonar/DVT, então os médicos têm muita explicação a dar!!!!

Obrigado pela atenção

 


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