UM APELO AO POVO GUINEENSE

Após o virar de mais uma triste e vergonhosa página na nossa história, resta-nos a oportunidade de desenvolver uma forte corrente para enfrentarmos os próximos desafios com inteligência, determinação e, sobretudo, com a vontade de construir uma verdadeira nação guineense. Como se sabe, a actual situação política no país forçou a antecipação da realização da eleição presidencial. A escolha da pessoa que deverá assumir esse cargo é crucial, pois o destino do nosso futuro próximo (de mudar positivamente ou de permanecer na grosseria) vai depender da nossa capacidade de escolher uma pessoa comprometida em ajudar a tirar o país dos escombros e devolver aos guineenses a esperança de sonhar com um dia melhor. Perante a urgência da situação, e, preocupado com o cenário que dela possa surgir como, aliás, é óbvio o interesse de pessoas cujas competências e dignidades não servem para atrelar a carroça de um jumento, urge a necessidade de apelar o comprometimento e patriotismo dos guineenses.

No momento, o actual governo do PAIGC goza de um elevado índice de popularidade. E, a possibilidade do partido fazer eleger o seu candidato é considerável, mas, essa condição por si só não é suficiente para garantir a vitória, precisa-se de um candidato forte e carismático, que desperte o interesse dos eleitores. Quem será esse candidato no PAIGC: Raimundo Pereira? Carlos Gomes Jr.? Malam Bacai Sanhá? Ou Francisco Benante? Realmente, existe a possibilidade de um desses quatros militantes (que são personalidades influentes no partido) vir a ser indicado pelo Bureau Político como candidato à presidência do País. Quais são as possibilidades de cada um? O ex-Presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP) e actual Presidente da República interino, Raimundo Pereira, deve apenas aproveitar a oportunidade do PR interino para construir a imagem e se preparar melhor para ser o potencial candidato do partido nos futuros pleitos. Acho inoportuno ele ser agora o candidato do partido, aliás, dele vai depender o equilíbrio desse processo transitório, por isso, é aconselhável não entrar em disputa. O Cadogo Jr. poderia ser uma excepção entre os quatro, dado o carisma e o sinal positivo que tem demonstrado em construir uma Guiné próspera. Mas, sua entrada agora nessa corrida significa literalmente o abandono do barco no meio da tempestade e pode comprometer a execução dos projectos e promessas eleitorais. Isso sem falar da possível incompatibilidade jurídica e outros problemas que a atitude de ser o candidato à Presidência da República pode causar ao partido, ao País e à própria “precoce boa imagem” de Cadogo Jr. Em relação ao Malam Bacai Sanhá, existem dois factores pouco favoráveis: primeiro dificilmente terá o apoio do partido para ser o candidato, pois a sua rotura com o líder após a infantil decisão de concorrer ao cargo de presidente da legenda no VII Congresso fragilizou sua base interna de apoio e; segundo, o facto de ter somado sucessivas derrotas pode também ser outro motivo para não ter a confiança do partido, além do mais, nota-se a queda da sua popularidade junto ao eleitorado. Francisco Benante é outro que também não terá o suficiente apoio do partido, não faz parte de pessoas de confiança do líder e mesmo com o currículo de ex-presidente da ANP, entre o eleitorado não é uma personalidade carismática.

Conforme podemos observar, apesar de ser o maior partido guineense, o PAIGC no momento não apresenta militantes com condições necessárias para disputar a Presidência da República. Obviamente que, existem técnicas para trabalhar a imagem de um possível candidato e contribuir para o seu bom desempenho. Mas, o tempo é escasso além de outros factores desfavoráveis de ordem interna na própria legenda, que comprometem essa possibilidade.

Agora vamos dar um tour e observar como é a situação na oposição. Se tiver coisa que nunca faltou no histórico das corridas à Presidência do País são os candidatos. No entanto, o que sempre o povo guineense precisa “e nunca conseguiu” é de um homem ou de uma mulher com dignidade e competência para resolver seus crônicos problemas de fragilidade institucional. No País temos, salvo erro, trinta e três partidos políticos legalizados, sendo que nenhum deles apresenta uma estrutura credível visto que são organizações cujo funcionamento depende da vontade do líder, que faz dele uma empresa para projectar a imagem, ganhar dinheiro e outros benefícios que o status oferece. Com efeito, podemos afirmar que dos velhos conhecidos candidatos não existe um com qualidade necessária para tirar o País da situação caótica em que se encontra. Não estamos a passar certificado de incompetência aos políticos guineenses (se bem que como cidadãos teríamos motivos). Sabemos que partidos como MDG liderado pelo Dr. Silvestre Alves (desde sua criação tem feito uma oposição séria e comprometida), o CD liderado por Paulino Impossa Ié (mesmo sem conquistar nada tem investido no social) e a UPG liderada por Zinha Vaz (está a lutar para recuperar o prestígio como nos bons tempos da RGB/MB) que têm demonstrado um sinal positivo, muito embora, não conseguissem eleger um único deputado. São partidos pequenos com possibilidades de crescer e assumir o papel a que os partidos modernos são atribuídos, que é de ser o principal canalizador das demandas da sociedade às estruturas do poder.

O segundo maior partido, o PRS, apesar de ainda continuar na arena, seu possível candidato Koumba Ialá por demonstrar ser um político autoritário e sem senso de nação, não terá a segunda chance “via eleitoral” de assumir a Presidência. Aliás, o PRS tem militantes que podem fazer a diferença como candidato à Presidência, mas, como o partido é “uma propriedade de Koumba Ialá”, ele será sempre candidato. Pior é que jamais entenderá que o seu tempo acabou para a maioria de eleitorado guineense. E é bom que os guineenses fiquem de olho no Koumba, porque ele quer assumir o poder de qualquer jeito. Pois, de acordo com o Correio da Manhã ele disse não reconhecer o actual Presidente interino, Raimundo Pereira, e afirma ser ele o ocupante legitimo do cargo. Coisa de louco no mínimo.

Não obstante, parece que nenhum guineense reúne condições para assumir o cargo de PR, mas, não é verdade. Existem muitos e muitos guineenses no anonimato com competência e suficiente dignidade para assumir o cargo. Entre esses muitos, tem um que todos nós conhecemos que é o cidadão Henrique Pereira Rosa. Uma figura de “consenso nacional” e com um reconhecimento internacional de peso. A delicadeza do momento que estamos a enfrentar exige e reclama por uma personalidade especial e madura, e o cidadão Henrique Pereira Rosa é um homem que tem esse perfil. Partindo do pressuposto da necessidade que os partidos têm de maximizar suas chances de manter ou conquistar o poder, torna-se necessário chamar a atenção dos partidos e, particularmente, do PAIGC (porque necessita de garantir o equilíbrio ao seu Executivo) para contratar os serviços do cidadão Henrique Pereira Rosa.

E como nesse barco todos nós estamos condenados a sofrer e morrer se não conseguirmos escolher um bom piloto, queremos fazer um vibrante apelo ao povo guineense, nomeadamente, às igrejas católica, muçulmana, evangélica, às ONG`s, Sindicatos, Organizações juvenis e cidadãos de bem, a formarem uma corrente pela candidatura do homem que pode garantir a nossa segurança e bem-estar. Por que estamos a fazer esse apelo? Acreditamos que os concidadãos durante os últimos dias prestaram muita atenção nas declarações proferidas por diferentes personalidades em relação ao desaparecimento físico do Presidente Nino Vieira. Pois, eles não lamentaram profundamente o seu desaparecimento (talvez porque souberam quem ele era), apenas demonstraram preocupação em relação ao nosso futuro. Muitos falaram que esta é a oportunidade para Guiné-Bissau sair da instabilidade, caso contrário permanecerá no caos. E a oportunidade de que se fala não depende da comunidade internacional, mas da nossa capacidade de saber separar o joio do trigo.

*Mestrando em Ciência Política na Universidade Federal de São Carlos, SP, Brasil

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

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