Um Marciano na Terra

 

 

 

 

Por: Francelino Alfa

12.01.2008

 

Os “marcianos” são extra-terrestres. “Seres” que vivem em Marte. Marte, também é conhecido como “o Planeta Vermelho”, devido à sua cor avermelhada.

 

“ (...) Marte é o quarto planeta a contar do sol e é o último dos quatro no sistema solar, situando-se entre a Terra e a cintura de asteróides. De noite, aparece como uma estrela vermelha, razão porque os antigos romanos lhe deram o nome de Marte, o deus da fúria e da guerra. Os chineses, coreanos e japoneses chamam-lhe "Estrela de Fogo", baseando-se nos cinco elementos da filosofia tradicional oriental. Outras civilizações como os babilónios, Marte era “A Estrela da Morte”. (...)”.

Os térreos, são os que vivem na terra, os humanos. Os que vivem neste mundo. Somos todos nós: guineenses, africanos, europeus, americanos, asiáticos. Ora, no espaço térreo guineense vive um marciano que curiosamente, tem comportamentos e atitudes semelhantes senão iguais a qualquer homem térreo guineense. E não seria de estranhar! Na terra onde fores viver, faz como vires fazer, diz o povo. Só que este marciano tem uma particularidade muito especial: não sabe de nada do que se passa nem no seu planeta nem no planeta Terra. Quando lhe é questionado sobre o que se passa no planeta Marte, responde que não é marciano mas sim térreo. Quando os jornalistas lhe questionam sobre a realidade do planeta Terra ele simplesmente responde que não sabe de nada e que estes perguntassem aos homens que fazem as leis, aos militares, aos políticos, ao cidadão comum.

Bem, é assim que este marciano com personalidade muito especial, com tiques especiais, vive no reino especial chamado país maravilha. Este marciano – térreo ou térreo – marciano, não é nada mais, nada menos do que o rei desse reino, onde habitam guineenses térreos. O rei controla (?) aparentemente tudo, todavia, não sabe de nada (?) do que se passa no seu próprio reino.

 

Quando os jornalistas lhe interpelam se sabe que o seu reino está a desmembrar-se por causa do tráfico de droga, do crime organizado; que existem conluios internos com a rede do narcotráfico,...com marginais, o “primeiro país africano” referenciado como narco-estado pela comunidade internacional; e que o país está à beira do colapso e literalmente “cercada” por motivos de incúria e que o Estado pode colapsar, e como consequência, conduzir o reino a uma rebelião, resposta: eu não sei de nada e não quero saber de nada; este assunto não me diz respeito, não é da minha competência e façam o favor de perguntar ao chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Ponto, isso mesmo!

 

- O rei tem conhecimento que existe intromissão sistemática e propositada com ameaças e coacção psicológica de algumas pessoas influentes para impedir que a lei prevaleça e que a justiça funcione? Estes sujeitos não andariam à procura de dinheiro e de um lugar ao sol? - Eu não sei de nada, perguntem à ministra da Justiça e aos tribunais.

 

- Pessoas que denunciam práticas ilícitas tais como corrupção, tráfico de influências e tráfico de droga com ramificações no poder, são perseguidas com ameaças de morte, e temendo pela sua vida, refugiam-se no edifício das Nações Unidas? E acrescentam ainda, que temos um país menos seguro, mais injusto e vivemos em ditadura; que o rei deveria descer à terra e enfrentar os problemas. - Eu não sei de nada, perguntem às Nações Unidas.

 

A justiça só é justiça quando se assume o erro. O assumir o erro, é condição para se evoluir para um patamar superior e não voltar a cometer os mesmos erros; os guineenses têm medo de falar abertamente; dizem que não vão estragar a sua vida por causa da justiça, da verdade e da decência.

 

- O rei sabe que a Polícia de Ordem Pública não tem meios para fazer face a esse bando de criminosos e ao aumento de criminalidade; as mães temem pela segurança dos seus filhos menores? - Eu não sei de nada, penso que o ministro do Interior é que trata destes assuntos. Ponto, isso mesmo!

 

- O rei sabe que esta amnistia aprovada no parlamento pode ser falseadora e enganadora da verdadeira reconciliação dos seus súbditos... e pode levar a novos conflitos? - Eu não sei de nada, não tenho nada a ver com isso, perguntem aos deputados pois, foram eles que aprovaram esta amnistia na Assembleia Nacional Popular. Ponto, isso mesmo

 

- O rei sabe que faz muitas viagens sumptuosas à Europa e África, quando diz que não vai visitar as regiões (que estão moribundas e dá pena ver!) por falta de verbas no Tesouro público? - Eu não sei de nada, perguntem ao ministro das Finanças, aliás, eu estou meramente a atender aos convites feitos pelas realezas europeias e aristocracias africanas e que seria uma desfeita muito grande se não o fizesse e aproveito para fazer exames médicos de rotina porque os hospitais do país não têm condições nenhumas; não há equipamentos; não há técnicos especializados; não há medicamentos; com falta permanente de luz e água, e mais a mais, um individuo entra são e pode sair de lá doente.

- Mas o rei está doente? - Eu, doente?! Eu não sei de nada, perguntem ao meu médico. Ponto, isso mesmo!

 

E novamente questionado e sempre por jornalistas,...

- E no reino de sua majestade, o rei sabe que a situação na Saúde dos seus súbditos é gravíssima,... o acesso à medicação é uma roleta russa, e isto, não é um atentado à vida humana? - Eu não sei de nada e não é da minha responsabilidade, perguntem à ministra da Saúde. Ponto, isso mesmo!

- O rei sabe que os seus súbditos estão cada vez mais pobres e miseráveis; um crescente e generalizado mal-estar; a juventude – a esperança, o futuro do país –, está desnorteada, sem vislumbrar a luz ao fundo do túnel? - Eu não sei de nada, perguntem ao povo. Isso mesmo!  

- Parece que o rei é acarinhado pelo seu povo, mas por que é que, quando passa nas nossas ruas, na sua “limusina”, tem sempre uma imponente e aparatosa escolta militar? - Eu não sei de nada. Não tenho nada a ver com isso! Isso mesmo!

 

- Contudo, o rei sabe que há deveres mas existem direitos também, e os funcionários públicos não recebem os seus salários há que tempos e já perderam conta do valor em dívida para com eles (em dissonância com os salários exagerados dos deputados quase 30 vezes mais do que a média! E sem atrasos!) e fazem constantemente greves?

- Eu?! Eu não sei de nada, perguntem aos ministros da tutela. Ponto, isso mesmo!

 

- O rei sabe que os professores fazem greve às aulas – porque não recebem os seus salários –, os estudantes também o fazem porém, porque pagam as suas propinas; o ano lectivo nunca começa a tempo e horas, e termina sabe lá Deus; os estudantes garantem passagens administrativas. Esta situação não compromete seriamente o futuro do país? - Eu não sei de nada, perguntem ao ministro da Educação.

 

- Mas o rei sabe que, quando se dirige aos ministros, para obter esclarecimentos ou respostas sobre determinados assuntos, ou estão incontactáveis ou fogem!? - Eu não sei de nada, não quero saber de nada; esta matéria é da exclusiva responsabilidade do Sr. primeiro-ministro. Ponto, isso mesmo!

 

- O rei sabe que existe uma diáspora guineense realizada profissionalmente, sempre com o sonho do regresso, e que pode ajudar o país a sair da lama em que se encontra, mas a mesma diáspora, diz que o regresso à Guiné a curto e médio prazo é uma loucura? - Eu não sei de nada e não tenho nada a ver com isso! São conspiradores. Já agora, perguntem aos embaixadores e à ministra dos Negócios Estrangeiros. Ponto, isso mesmo!

 

Por fim, quando os jornalistas lhe questionam se ele é de facto o garante da concórdia nacional, do progresso e do desenvolvimento, responde que sim, sem gaguejar; que ele é o único garante da paz, da harmonia, da estabilidade e da reconciliação entre todos os guineenses térreos, e sem estes desideratos, não haverá progresso nem desenvolvimento. E acrescenta, que todos os homens nasceram para serem felizes; que o sol quando nasce é para todos.

Ufa! Em que é que ficamos? O rei pensa mais em si ou mais na situação dos seus súbditos?

 

Senhoras e senhores eis o campeão do não sei de nada! Inaudito! É assim de perguntas e respostas, nestas contradições e incoerências, portanto, onde os térreos e o marciano convivem e coabitam, que o rei vai gerindo o reino de fantasias contribuindo cada vez mais para o seu afundanço. Cada vez mais andamos nas asas do vento, parafraseando Marisa. Deus no céu e rei na terra, livra! Ponto, isso mesmo! Viva o rei!

 


 

Um Feliz Ano de 2008 para todos, e que seja o ano do início da mudança positiva e efectiva de que o país realmente precisa.

 

 Este texto, é mera crónica e qualquer semelhança com a realidade é apenas coincidência.

 

Francelino Alfa

 

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