UMA CARTA DE EINDHOVEN

Xavier Monteiro

 

 

 15 de Setembro de 2005

 

 

Querido irmão Didinho

 

O que eu quero com esta minha carta é antes de tudo, manifestar-te o meu apoio pessoal, elogiar o teu árduo e valoroso trabalho. Sou eu Xavier Monteiro, teu irmão e camarada da antiga Escola Nacional de Judo.

 

 Há uns três meses atrás, recebi de um bom amigo meu, um artigo teu sobre as eleições na nossa terra natal. O facto é que o teu site tornou-se de repente a fonte primária de informação, no meio da camada mais esclarecida na Holanda. Toda a gente fala hoje de Didinho. A mim, só me resta orgulhar de te ter conhecido e de ter desenvolvido contigo uma relacção fraternal, como era costume na escola de judo. Aprendi contigo a primeira técnica, a queda. Tu já não te lembras de certeza, eu sim. Eu e o Kaningué Tavares entramos no mesmo dia, para te situar no tempo.

És muito sério em tudo aquilo que fazes. Um homem determinado. Esse carácter teu fez de ti um bom judoka. Lembro ainda que o Kim Yu Jiang, o nosso divino mestre, teve uma vez que te dar um tick depois do treino, no salão do Benfica. Toda a gente pensou que se devesse ao facto de teres estado a pronunciar algumas asneiras em coreano. Quanto a mim foi por causa da tua determinação nos combates. Principalmente em randori’s  ainda depois do mathé continuavas para ver quem decidia o combate. Ele queria, quanto a mim, acordar-te. Tu e o Messias (Candido Cabral, Tchias) como Luis Tavares (Kaningué), Alberto Pereira, Serifo Iafa, Fermino Adendé e mais alguns, eram os queridos dele devido ao vosso empenho.

Só que agora tens um outro rol. É aí que vou concentrar nesta minha modesta carta.

 

Tu conheces-me bem, Didinho. Sou ainda o Xavier que conheces. O simplório.

Nunca fui senhor de grandes conhecimentos. O que me vale é a minha tenra experiência empírica ou seja do sensível. Não obstante isso, quero te dizer o seguinte :

 

 

Ponto 1.   Deves de certeza saber que, qualquer artigo teu, independentemente do tema, será sempre susceptível de tocar emocionalmente as pessoas. Haverá sempre um grupo de indivíduos que vão dizer, como tem acontecido, « finalmente alguém teve a ousadia de abordar este tema ». Também haverá aquele grupo que vai sentir-se inconfortável com tal, pois gostariam talvez de ver o assunto arquivado. Esta é uma velha lição que a  história da humanidade nos repete continuadamente. Aqueles que foram vítimas ou se identificam com as vítimas não podem nem querem esquecer o acontecimento, enquanto os perpetuadores preferem que tudo se esqueça.  

 

Ponto 2.   Didinho, deves saber também - melhor que eu - que como jornalista, publicista, colunista, escritor ou historiador, todas as verdades que trazes à luz do dia, haverá sempre alguém que vai sentir-se ferido. É o clássico actio-patio grego.

Esse “Who the cap fit vai obviamente tentar empurrar-te ao banco do descredito. Mas não vai ficar por aí como vai ainda tentar retalhar a mágoa.

O teu orgulho não pode, desta feita, ficar ileso. Só que aqui, não deves deixar transparecer a ideia de estares sentado a lamber as tuas máculas. Nem deves dar impressão de entrar num impasse. O importante é manteres a tua postura firme. Esta é a imagem que guardei de ti. O DIDINHO, mentalmente forte !

 

Ponto 3.   As ameaças de morte dirigidas à tua pessoa são, quanto a mim, irrealistas. Querem é impingir-te uma quebra psíquica. O facto é que um jornalista, publicista, analista, escritor, historiador, ... corre sempre riscos. Uma das facetas inerentes à tua personalidade é a de desafio ao medo. Don’t take any risk.

Quero dizer, não precisas desafiá-los ao ponto de saber se eles estarão realmente em estado de transformarem as ameaças em repressões ou se não passam de uma lufada ( bluff ).  Não facilites, nem precisas repetir as proezas do general Humberto Delgado. O medo tem as suas funções.

 

Ponto 4.   ...Aliás, as cartas do tal Djodje, que pensas que se trata de Helder Proença, parecem-me mais o tipo de claques que se registam entre os adeptos dos clubes de futebol. O autor dessas cartas pretende é, colocar-te na posição de estares contra um ou outro político ; contra uma ou outra formação política. Indo nessa cantiga  perdes a credibilidade pois abandonarias assim a  terra firme da imparcialidade. Quanto a mim, os erros da gestão política, excesso de uso do poder, podem vir tanto da esquerda como da direita.

Meu irmão, não és nem estás contra ninguém, creio eu. Keep your faith.

Adianto ainda que sou um frequentador assíduo do teu site.

 

Em resumo:  quando lanças um artigo e alguém quiser chatear-te, o que deves fazer é ver o que é que podes aprender com esse  feed back  para em seguida ires para frente. Não precisas responder a provocações. Nunca dês às questões um caracter pessoal! A mente humana tem algo de relativo ao monstro, quanto mais sangue vê mais força tem. Entrar em trocas de acusações só te custam a qualidade. Dizia um ditado português que, o risco de discutir com um estúpido é que os transeuntes ficam sem saber qual dos dois o é.

 

Para terminar,  li numa das tuas cartas que a tua mãe se encontra doente. Faço votos para que ela se recupere depressa. Dá-lhe as minhas melhoras. No tempo da escola de judo às vezes andavamos juntos até a tua casa. Às vezes estava ela encostada ao portão, do que me parecia, à tua espera.

 

Ao Guto,  teu primo, os cumprimentos do Xavier di boca garandi.

Cumprimentos para toda a tua família, filhos e esposa. Também ao Beto, teu irmão.

 

Para ti, um forte abraço fraterno de sempre. Estou contigo.

 

 

Eindhoven, 15 de Setembro de 2005

Xavier Monteiro

 

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