A minha singela homenagem ao Professor Doutor Leopoldo Amado

Foi na madrugada do passado dia 25 de Janeiro que recebi a triste notícia do falecimento em Dacar-Senegal, do Ilustre Filho da Guiné-Bissau, nosso Brilhante Académico, Historiador; um dos melhores investigadores que a Guiné-Bissau gerou e que nos deixa um legado científico vasto e por explorar, não só na sua área de formação, mas numa diversidade complementar de tantas áreas Académicas das Ciências Sociais, sobretudo.

Do Brilhantismo de um Intelectual como tu, recordo-me das nossas divergências, em momentos distintos de conjunturas políticas na nossa Guiné-Bissau; as tais divergências que ajudam a amadurecer pessoas de mente aberta, e a elucidar consciências.

Sim, estivemos de costas voltadas várias vezes, porque cada um de nós fez sempre questão de sustentar, com teimosia, seus pontos de vista, entre evidências e, ou a falta delas, face à situação política da nossa Guiné-Bissau. Não importa, agora, de que lado estava a razão, face às disputas que tivemos, mas sim, reconhecer que as nossas confrontações intelectuais ajudaram-nos a conhecer melhor a realidade histórica, política, social e cultural da nossa Guiné-Bissau, capacitando-nos para melhores contributos ao nosso País.

Porém, foram mais e de maior registo, os momentos bons da nossa convivência patriótica, fraterna e de amizade!

Do que guardarei de ti, sempre, é a certeza de que foste, até ao teu falecimento, o único Académico Guineense a reconhecer, promover, e a valorizar todos os teus compatriotas, motivando-os a fazerem mais e melhor pela nossa Guiné-Bissau!

Onde quer que estejas, sei que me autorizas a partilhar uma das nossas mensagens, para sustentar o reconhecimento, a admiração e a estima que sempre tive por ti.

de: Leopoldo Amado leopoldo.amado@gmail.com
para: Fernando Casimiro <didinhocasimiro@gmail.com>
data: 15/12/2016, 23:16

Caro Casimiro

Li com bastante atenção e deleite o admirável texto de apresentação do teu/nosso livro. Não podias ter melhor apresentação que, alias, remete-nos, a um tempo, para a literariedade subjacente e o realismo envolventes da obra. Que admirável assertividade! Para mais, o texto vem escrito numa linguagem simples, mas carregada de imagens, de afectos e de advertências, estas ultimas, curiosamente, bem calibradas. Bom, mais não digo sobre este quase divino texto, algo arrancado, esteticamente falando, das profundezas do nosso sentir patriótico (algo profundo, simultaneamente ontológico e complexo, ainda por se estudar), mas também das labirínticas circunvoluções mentais que a mítica e mística África (Guiné-Bissau, incluido) suscita no imaginário colectivo dos não-africanos. No caso em apreço, esta “approch”, quiçá involuntária, galgou os limites do belo da natureza e da magnificência do nosso profundo sentir. Dir-se-ia mesmo que este texto, simplório ate demais, mas profundo ate dizer chega (!), marcara de forma indelével o porvir de uma nova forma de literariedade política, de resto, muito em gestação galopante entre os guineenses, sobretudo da diáspora.
Tudo isso para te dizer, caro Didinho e primo (que o somos!, depois explico-te como, se bem que para o caso isso pouco importa) que esta obra, de três volumes,  interessa-me sobremaneira, pelo seu putativo potencial contributivo e, igualmente, pela substancia que encerra, independentemente dos juízos de valor do autor que aqui e acolá comporta,  e com o qual podemos ou não concordar (isso são outros quinhentos!).
Assim, convido-te a poderares comigo a possibilidade de o lançarmos a tua obra no INEP, na tua terra (Nha Tchon), com distinta e elevada solenidade, porque mereces, bastando para tal a evocação da tua entrega total à sua laboração, aliás, também confirmada pela autora de serviço do belíssimo texto de apresentação da mesma.
Parabéns Casimiro, bem-haja Didinho.
Melhores saudações.
Leopoldo Amado, Ph.D

Director-Geral do INEP –  Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa
Tel. +245 95968410 ou +245966601731
e-mail: leopoldo.amado@gmail.com
Nome Skype: leopoldo.amado45
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Mesmo com tanto para fazer, lias tudo, de todos, ignorando que o dia tem 24 horas e que entre o dormir e o acordar, também precisavas de te dedicar a ti e à tua família.

A Academia preencheu a tua vida, enriquecendo-te com conhecimentos, que se transformaram igualmente em sabedorias, de uma vida vivida com encanto e sem arrependimentos, certamente, digo eu…

Pena que tenhas partido tão cedo, quando tinhas muito para dar à tua família, à nossa Guiné-Bissau, à nossa África, e ao nosso Mundo…

Parafraseando  Fréderic François,

“Il faut dire je t’aime
À tous ceux qu’on aime
Tant qu’ils sont vivants, vivants
Il faut dire je t’aime
À tous ceux qu’on aime
Tant qu’il en est temps, encore temps”

Professor Doutor Leopoldo Amado “Poio”, meu estimado primo e amigo, descansa em Paz!

Didinho 14.02.2021


UM TRABALHO DE EXCELÊNCIA – ENTREVISTA DO JORNAL O DEMOCRATA AO PROFESSOR DOUTOR LEOPOLDO AMADO

DA EMBRIOLOGIA NACIONALISTA À GUERRA DE LIBERTAÇÃO NA GUINÉ-BISSAU

Simbólica de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau

Elegia ao Professor Pinto Bull

OS G’s que decidiram o final do Império colonial

AINDA A PROPÓSITO DO COVID-19

AINDA A PROPÓSITO DO COVID-19

Levantei-me hoje às 5:30 da manhã e depois do exercício matinal, decidi passar por Las Vegas Strip (faixa da cidade onde estão 90% dos casinos), antes de ir ao trabalho no hospital: uma cidade fantasma, ninguém nas ruas, hotéis com semelhança a túmulos num cemitério isolado: vieram-me à memória os tempos de quando tinha 8/9 anos, na Guiné, e que ao domingo à tarde entre a 1 e as 3 tinha que levar comida ao meu pai nos armazéns da ultramarina perto da Ponte Cais; as ruas desertas de Bissau, entre a zona dos correios e a ponte cais, todos a dormir a sesta ou a ouvir relatos de futebol português – silêncio e vazio, que me metiam medo. É assim, nos dias de hoje, aqui: tudo fechado agora devido ao coronavírus…

Coronavírus, são uma família de vírus, encapsulados, fita única, classificados dentro dos Nidovirales. Podem infetar mamíferos e aves, causando doenças respiratórias, entéricas, e neurológicas nos humanos.

Existem 6 espécies de coronavírus que podem causar doenças em seres humanos: coronavírus 229E, OC43, NL63 e HKU1 são comuns em todo o mundo e só causam sintomas marginais.
As outras duas espécies (a SARS-Cov) e a MERS-Cov) causam infeções mais sérias e são transmitidas de animais para humanos.
Em anos não distantes, estas duas últimas espécies causaram pandemias com mortalidades entre  19% e 37% respectivamente.
Em Dezembro de 2019 em Wuhan, Hubei, China, um novo síndroma respiratório emergiu  com sintomas clínicos semelhantes à pneumonia viral e com transmissão entre pessoas.
Através de análises sequenciais, confirmou-se a emergência de um novo coronavírus: COVID-19.
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Fig. 1 – Vírus a atacar tecidos pulmonares.
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Fig. 2 TAC
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É assustador o que se está a passar aqui, não só em Las Vegas, mas em todos os territórios que compõem os Estados Unidos (excepto, por agora, Montana e Dakota – Norte e Sul).
Elmhurst hospital, em Queens, já la vão 25 anos desde que lá estive, tornou-se agora o epicentro da pandemia aqui nos Estados Unidos.
Há colegas médicos e enfermeiros a falecer por causa de contaminação (não há máscaras suficientes para todos e tem que se improvisar). É uma calamidade que não se pode descrever.
Por agora, temos que manter a calma, usar todos os meios de higiene e proteção disponíveis, usar os nossos anos de treino e experiência para ajudar a tratar os doentes.
É importante não esquecer de:
Lavar as mãos com sabão e água por 20 segundos (mais eficaz do que gel contendo álcool);
Manter distância uns dos outros.
Aos colegas médicos:
1 – Se um doente com suspeita de estar infetado com coronavírus tem sintomas respiratórios moderados, por favor não espere: entubação/intubação, sem demora, porque da experiência que estou a ter nestas duas semanas, se esperamos/hesitamos, é a morte certa do doente;
2 – Se depois da entubação/intubação, não houver melhorias, usar as medidas de “proteção dos pulmões”, incluindo:
Óptimo PEEP (pressão positiva expiratória final);
Low tidal volume (pequeno volume corrente);
  • Pronação
  • Vasodilatadores pulmonares
  • Paralíticos
  • Se tudo falha, então ECMO
Infelizmente, em África, só há dois Centros de ECMO (África do Sul) e transportando doentes com PEEP elevado e oxigénio a 100% não é prudente.
Para qualquer intervenção, incluindo pequenas cirurgias, use PAPR (Powered Air Purifying Respirator – Respirador purificador de ar motorizado), PPE (Personal Protective Equipment – Equipamento de Proteção Pessoal), para evitar contaminação/transmissão.
Medicamentos em investigação:
Remdesivir: não aprovado; em investigação;
Hidroxicloroquina, Cloroquina: dados ainda insuficientes;
Tocilizumab: em investigação para doentes em choque;
Lopinavir/Ritonavir: investigação negativa;
Corticosteróides: podem ser perigosos
Voltando à entubação/intubação e tendo em conta a sua importância, recomendamos, absolutamente, usar a glidoscopia, em vez da entubação/intubação por laringoscopia direta (risco de contaminação para o cirurgião).
Com a glidoscopia, em vez de olhar diretamente para a boca do paciente, estamos a olhar para uma câmara.
Vejamos a seguir uma imagem de um meu assistente médico júnior, entubando/intubando um doente.

Las Vegas, USA,  27.03.2020

Joaquim Tavares “Djoca” , MD, FACP, FCCP, DABSM, FAASM, EDIC, RPSGT

Medical Director, ECMO Program at Sunrise Hospital and Sunrise Children’s Hospital

O Direito, entre Juristas e não juristas…

Creio que não estarei a dar nenhuma novidade se disser que os juristas (nem todos, obviamente), guineenses e não guineenses, que abordam a temática constitucional e legal da Guiné-Bissau, sobretudo, nos momentos de crises políticas, e institucionais, são os principais promotores da descredibilização do conceito e do estatuto do jurista.

Ao longo dos anos, assistimos a posicionamentos de vários juristas em matéria de interpretação constitucional e legal, que, mesmo o comum do cidadão apenas com o conhecimento linguístico assente numa formação escolar média, que lhe permite analisar e interpretar um texto opinativo, que não assente em bases científicas, consegue perceber que o uso e o abuso do estatuto de jurista nem sempre é suportado pelos seus posicionamentos alegadamente, de jurista, mas sim, de simples opinante, focado numa perspectiva política e não, jurídica.

Quando assim é, o jurista deixa de ser “jurista” e passa a ser um opinante como qualquer outro, pois que, nos seus posicionamentos, não aborda a sustentação científica do Direito, para casos concretos da sua intervenção, deixando transparecer suas tendências, suas tentações, suas raízes, suas pertenças, enquanto ser humano, comum, como todos os demais.

Outrossim, convenhamos que, a confrontação jurídica é o pilar da sustentação do Direito, enquanto Ciência. Se repararmos bem, nos órgãos colectivos de decisão dos Tribunais, há sempre uma equipa ímpar, para que, qualquer decisão que seja votada, possa haver um voto de desempate, de validação de uma decisão vencedora, isto, porque a cada Juiz de Direito, a sua visão, o seu entendimento, a sua liberdade interpretativa dos casos em julgamento.

Assim sendo, não devemos pensar que todos os juristas devem analisar, interpretar e decidir da mesma forma, ainda que possam muitas vezes ser unânimes nas decisões colectivas.

Os não juristas, por sua vez, não deixam de ser seres humanos, com formação e conhecimento de leitura, análise e interpretação em diversos campos do conhecimento, incluindo o Direito, mesmo não tendo sido essa a sua área específica de formação, mas de complementaridade.

Usar e abusar do conceito e do estatuto de jurista para excluir ou menosprezar a participação cidadã nos debates de ideias sobre assuntos políticos e institucionais da Guiné-Bissau, levados aos Tribunais, de cujos Acórdãos e Despachos, nascem novos conflitos, desta feita, de natureza jurídica, quando a sustentação dos debates é opinativa, repito, opinativa, não é o melhor contributo dos juristas para a informação e o consequente esclarecimento dos cidadãos, não juristas.

Positiva e construtivamente, vamos continuar a trabalhar!

Didinho 01.03.2020