COVID-19 é uma doença causada pelo Coronavírus SARS-Cov-2(SARS =severe acute respiratory syndrome)
Da mesma forma que aconteceu com o H1N1 e o SARS, ainda há quem pense que as consequências do coronavírus são mais propaganda de alguns grupos económicos com o fim de lucrar com o pânico e medo do desconhecido.
Para não inundar os leitores com a imensa literatura que encontro todos os dias, divagando sobre COVID-19, vou contar uma experiência directa que tive com 3 doentes infectados com COVID-19.
No dia 13 de Março, sexta-feira (acreditam em superstição?), recebemos um paciente nos cuidados intensivos, um “jovem” de 54 anos, cozinheiro num dos casinos de Las Vegas: admitido com febre e pneumonia na radiografia. Inicialmente, como estava “estável”, disse ao hospitalista e à enfermeira, que só iria entrar no quarto, estando isolado (porque o diagnóstico diferencial incluía o covid-19) e se o paciente mostrasse sinais de descompensação (para evitar aumentar o número de profissionais em contacto com o paciente).
Duas horas depois desta conversa, a enfermeira saiu do quarto dizendo: o doente está confuso, a saturação está só a 65%.
Entrei na antecâmara, coloquei o PAPR (power air-purifying respirator) e o PPE (personal protective equipment), para de seguida entrar no quarto: o doente estava a respirar a 40% por minuto, confuso, e mesmo depois de oxigénio a 100%, a saturação estava a 65%.
Entubei o doente com as precaucōes recomendadas pela OMS e a Sociedade de Cuidados Intensivos, e começamos o protocolo da ARDS Net (a radiografia, em menos de 3 horas mudou de manchas brancas para completamente branca-em termos leigos-quase nenhuma troca de oxigénio nos pulmões).
O doente ainda está vivo, mas a esposa dele, admitida 2 dias depois dele, faleceu ontem. A filha ainda está nos cuidados intensivos.
Imagem 1 – cozinheiro infectado
Imagem 2 – Esposa do cozinheiro infectado
Imagem 3 – Esposa do cozinheiro infectado
O hotel onde o indivíduo trabalha fechou as portas temporariamente.
Por 14 dias seguidos depois deste contacto, tenho trabalhado, mas com monitorização contínua da minha temperatura, sintomas de tosse, etc.
Mas estou bem de saúde e preparado para mais encontros.
Estamos experimentando com a hydroxychloroquine (vamos a ver; “se tivesse “siti malgoss – azeite amargo de óleo de palma”, também iria experimentar – brincadeira à parte!!!)
No nosso hospital também oferecemos ECMO (extracorporeal membrane oxygenation), forma de suporte artificial temporário dos pulmões e coração); Até agora, como Director do nosso programa de ECMO (único no estado de Nevada), ainda não aprovei nenhum ECMO interno ou por transferência de um outro hospital, devido a riscos de infecção, materiais de protecção disponíveis, etc), mas, da maneira como os casos estão aumentando, qualquer dia temos que usá-los num doente.
Todo o cuidado é pouco, por isso há que: lavar as mãos, evitar contacto por menos de 2 metros, usar chlorox para desinfectar, etc.
Este vírus existe, este vírus pode ser devastador, não é propaganda; Isto é para todos e sobretudo, para alguém que tem “close encounters” todos os dias com alguém infectado ou com alguém suspeito, e todos somos suspeitos.
Stay Safe (principalmente membros provedores de Saúde)-We need all of you!
Djoca 25.03.2020
Joaquim Tavares, MD,FACP,FCCP,DABSM,FAASM,EDIC,RPSGT
Medical Director, ECMO Program at Sunrise Hospital and Sunrise Children’s Hospital