Em memória de Carlos Jesus (Caíto)
Era uma tardinha, por volta das duas, na escola do Tio Bernal na zona de Peré: estávamos todos concentrados a tentar absorver os ensinamentos do Tio Bernal e de um dos seus assistentes (podia ser o Adriano Barbosa, o Zé Carlos ou o Silvestre Alves), e lá veio um senhor com dois rapazes, apresentando-os: o Vítor e o Caíto.
Desde então passamos a ser amigos com o Caíto e com o Vítor: jogos de futebol nos campos de Peré, malandrices típicas da nossa idade (8-11 anos de idade), nas ruas de chão de papel, sujeitos a “taponas” dos mais velhos como o Ângelo Dias, o Adolfo, o Zeca sinho, e outros.
E um dia memorável de que nunca me esquecerei: foi o dia 21 de Julho de 1969 – pouco depois da nave do Apollo 11 aterrar no mar da tranquilidade estávamos todos sentados na escola do tio Bernal, à volta de um rádio portátil a seguir o “relato” desta aventura inesquecível – ainda agora custa acreditar!
O Caíto era um indivíduo extremamente inteligente e com capacidade de liderança!
Nessa altura quando tinha que responder a questões de matemática, começava sempre por gaguejar (penso que por nervosismo), mas sempre respondia corretamente!
Com tempo, conseguiu superar quase por completo esse pequeno “defeito”.
Crescemos longe um do outro por mais de 14 anos, até quando comecei a frequentar a faculdade de medicina em Lisboa, estava já no quarto ano e o Nato convidou-me para jogar
na equipa de futebol “Pamparira”: na altura baseada no Barreiro (Baixa da Banheira, salvo erro), e era formada principalmente por jovens do histórico Bairro Da Ajuda.
Guarda redes – Bacay
Defesas: Sena, eu, NATO ,Vicky, Vavá
Médios: Beto Duarte (Beto Badio) – o cérebro da equipa, Tchalino
Avançados: Toy de Bula (Toy Caballo), Nelson Herbert (Zico) e Rui Ascencio.
O treinador era o Caíto – sempre organizado, um excelente manager de personalidades.
Depois de muitos jogos e de muitas fases de competição, ganhamos o torneio (eram equipas de todas as ex-colónias, a maioria de Cabo-Verde).
Era uma equipa cheia de confiança!
Antes das partidas, sabíamos que íamos ganhar e os adversários sabiam que iam perder!
No jogo final, nos balneários, depois da palestra habitual do Caíto, todos começaram a dançar ao som do Mama Djombo (Pamparira), e ganhámos!
O adversário era a equipa do Pomba (dr. Júlio César Wahnon), de Mindelo.
Alguns anos depois, o Caíto finalizou o curso de Medicina percorrendo eu e ele caminhos distintos: fui para os Estados Unidos e ele permaneceu em Portugal.
Em 2001, de férias em Lisboa, encontrei-me com ele e um filho dele na baixa de Lisboa, ele já um Urologista conceituado.
Muitos anos depois, salvo erro em 2018, enviou-me um email informando-me de que estava em Angola, mas nunca mencionou a doença que lhe estava a consumir…
Descansa em Paz Brother…
Estou certo de que onde quer que estejas, estás a praticar medicina e a treinar um clube de futebol.
E, depois de todo o esforço, de tantas mortes, quando pensamos que tudo ficou por trás, eis que chega a variante Delta!
Dos 35 doentes em ventiladores que vi na semana passada, só um (indivíduo de 84 anos) tomou a vacina. Os outros, entre 21-45 anos de idade, nenhum foi vacinado!
Apesar do esforço desta Administração (Biden-Harris), ainda nos dias de hoje, só 49% da população americana está vacinada… E é grátis!
A culpa pode ser atribuída aos políticos seguidores do Trump que ainda estão a fomentar falsas teorias
sobre a vacina.
Um abraço
Djoca
16.07.2021