A SAÚDE DOS GUINEENSES NA GUINÉ E NA DIÁSPORA
Prof. Joaquim Silva Tavares (Djoca)
04.12.2009
Editorial de Dezembro
Num recente congresso da Sociedade Europeia de Cuidados Intensivos (ESICM) e numa recente publicação on-line no Jornal Da Associação Médica Americana (JAMA),
o Dr. Anand Kumar, do Canadá, fez uma apresentação da situação do H1N1 no período compreendido entre Março a Julho de 2009:
Todas as camas nas Unidades de Cuidados Intensivos em Winnipeg, local de maior incidência da pandemia, estiveram ocupadas em Junho de 2009; dos 168 doentes
admitidos nas UCI (ICU) confirmados ou suspeitos de contraírem a Gripe Porcina, o tempo entre o aparecimento dos sintomas e a hospitalização foi de 4 dias e o tempo
médio entre a hospitalização e o internamento na UCI foi de 1 dia. A idade média destes doentes era de 32.3 anos; sendo 67% do sexo feminino e 30% crianças.
No primeiro dia na UCI, 81% dos doentes necessitaram de ventilador e 33% necessitaram de vasopressores.
No editorial a acompanhar este artigo do Dr. Kumar, os Drs. Douglas White e Derek Angus da Universidade de Pittsburgh salientaram que muitos hospitais nos Estados
Unidos talvez não tenham médicos especializados nos tratamentos respiratórios de último recurso (HFVO - Osciladores De Alta Frequência ou ECMO - Oxigenação
extra-corporal) e mesmo hospitais com estes médicos podem não ter pessoal de apoio suficiente para suportar um elevado número destes doentes.
Salientaram, como temos vindo a salientar neste SITE: ”Qualquer morte devido ao H1N1 será de lamentar, mas mortes resultantes de falta de planeamento e
preparação inadequada, principalmente da parte de médicos, será uma tragédia.
Voltando à apresentação do Dr. Kumar:
Em 28 dias, 24 de 168 doentes críticos morreram; 5 pacientes adicionais morreram no período de 90 dias, com a taxa de mortalidade de 17% (72% das mortes foram do
sexo feminino) 41% dos doentes tinham problemas respiratórios prévios (asma, emphyzema, etc.); 33% eram obesos e 24% tinham tensão alta. (Nenhum dos
investigadores da equipa do Dr. Kumar revelou qualquer conflito de interesse - não foram financiados por nenhuma companhia farmacêutica e nao têm acções em
nenhuma companhia produtora de vacinas, etc.); O estudo foi suportado pela Agência de Saúde Pública do Canadá, pelo Ministério da Saúde de Ontário e pelo
Instituto Canadiano de Investigação da Saúde.
Com todas as informações acima mencionadas e mais outros estudos e dados, para além das experiências de cada hospital (no último Verão, as UCI dos nossos
hospitais estavam superlotadas), lançou-se uma campanha massiva de higiene, vacinação em massa e no caso específico dos nossos hospitais, encomendamos HFOV,
ECMOS e contratamos enfermeiros-extra para estarem de prevenção. COINCIDÊNCIA OU NÃO (estudos com resultados a sair dentro de 2 a 3 anos); Como resultado,
mais de 90% dos trabalhadores de Saúde concordaram em ser vacinados e decidiram seguir à linha as medidas de higiene; As vacinas para a população esgotaram por
causa da procura.
Pode ser coincidência, mas duvido: neste Outono (e se Deus quiser no inverno) as unidades de cuidados intensivos estão superlotadas e há menos mortes; Estudos
posteriores vão confirmar ou negar esta causa-efeito.
Um outro tema deste Editorial é a participação de colegas médicos neste SITE! Vou tentar especular o porquê:
1- 1 - Falta de tempo: é uma desculpa plausível! Mas, duvido que haja muitas pessoas que dispensem mais horas a trabalhar do que eu ou o Didinho; ainda assim,
arranjamos tempo para contribuir na medida do possível…
2- 2 - Um problema geral dos Médicos e Advogados: Egocentrismo; Porque perder tempo se posso ler revistas especializadas na minha área; e se já sei a maioria dos
tópicos que vão discutir no site;
Desculpa não plausível; facilmente nos esquecemos da máxima do Pai da Filosofia (Sócrates): Só sei que nada sei!
Ainda aqui, também duvido que haja muitas pessoas que leiam materiais médicos mais do que eu: com esse fim decidi ser membro de Associações Médicas (American
College of Physicians, American College of Chest Physicians, American Thoracic Society, Society of Critical Care Medicine, European Society of Intensive Care, Ordem
dos Médicos de Portugal, American Academy of Sleep Medicine) cada uma com pelo menos uma revista e subscritor de jornais como o New England Journal Of
Medicine, o UP to Date e outras revistas como o Mayo Clinic Proceedings e Cleveland Clinic Journal.
Mas, aprendo mais quando discuto com colegas casos clínicos, trocamos experiências, ensino e aprendo com estudantes, residentes, etc.
3- 3 - Medo de ser apontado como agitador político e ser considerado persona non grata na Guiné!
Desculpa que alguns poucos colegas me deram, mas que acho muito fraca! Se falar sobre problemas do H1N1, condições da Saúde na Guiné, cólera, etc., é ser agitador
político, então deixem de praticar medicina, porque praticar medicina significa defender a integridade da saúde física e mental das populações.
4- 4 - Medo de serem expostos;
Leva muito tempo, muita “queimança” de pestanas e neurónios para fazer o curso de Medicina! Muitos de nós, depois de terem o diploma nas mãos, dizem: agora é
tempo de colher os louros da Glória: usando a linguagem comum, desleixam-se, não lêem, não vão a congressos, não estudam, não discutem inovações com colegas,
vão de “bancos” a bancos”, e nos intervalos fazem tudo o que não esteja relacionado com a leitura ou medicina; no fim, não estão disponíveis para discutir nada que
esteja relacionado com a medicina, simplesmente porque não estão à altura.
Não há arma mais letal para o paciente do que um médico que não leia e não esteja actualizado!!!
5- 5 - Para os colegas que estão na Guiné, uma razão que me apresentaram de não estarem actualizados e, ou, nao poderem participar neste nosso Site, é a falta de acesso
à Internet/computador; Atendendo a circunstância da Guiné, esta desculpa é plausível.
Mas desde já lanço um desafio e oferta: desde já me ofereço a comprar pelo menos um computador com acesso à Internet e subscrição a uma revista médica que
escolherem, para uma sala de reuniões de Médicos no Hospital Simão Mendes (podem contactar-me ou ao Didinho e cumprirei a promessa).
6- 6 - Medo de serem expostos a criticismos e “chamar nomes”por parte de alguns lunáticos:
Só pelo facto de respirarmos, por motivos vários, algumas pessoas odeiam-nos (cor diferente, raça diferente, pensamento diferente, etc.) e quando se atinge o mínimo
de sucesso na vida ou quando temos opiniões próprias, alguns vão ao extremo de nos odiar de morte: Por isso, não se preocupem com esses lunáticos. Concentrem-se
no que têm a oferecer.
Para terminar, convido-vos a ler um artigo extraordinário do Mestre Filipe Sanhá O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DAS NOSSAS CRIANÇAS (página Criança) sobre o
desenvolvimento da criança, Piaget, Freud;
Se seguirmos as recomendações, ainda ha esperança para essa nossa terra; Muitas das manifestações, acções que vimos, estamos a ver e se não fizermos nada, vamos
continuar a ver no futuro, advêm da falta de atendimento e encaminhamento das crianças numa fase crucial do desenvolvimento.
Ah! Da próxima vez que a Sra. ex-ministra da Saúde da Lapónia for a uma das conferências sobre OVNIS (UFO’s), não me deixem de enviar um convite:
Talvez possa aprender mais sobre americanos em Marte, teorias da conspiração, falar com Extraterrestres, perguntar-lhes como conseguiram erradicar a polio, a
varíola, sem recorrer à vacinação e talvez convencê-los a receber a vacina contra o H1N1.
Um Natal Feliz e Próspero Ano Novo!
Djoca!
ESPAÇO PARA COMENTÁRIOS PARTICIPE!
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO