EU, NAZARÉ DE PINA VIEIRA...(2)


 

 

Nazaré de Pina Vieira

02.03.2013

Nazaré de Pina VieiraCaros compatriotas e amigos, Guineenses.

Há quem não entenda que a vida seja individual e única em cada um de nós, que só se vive uma vez. Cada um tem a sua oportunidade para passar por este mundo criado por Deus, qualquer um de nós vivos, estará cumprindo a sua oportunidade de nascer e de viver em qualquer canto do mundo, independentemente do seu país de origem ou país dos antepassados. Temos a nossa independência de pensamento e de acção neste aspecto, cada um tem o seu livre arbítrio para o bem e para o mal, é responsável pelos erros que comete e será julgado pelo seu acto na passagem terrena após a sua morte.

Nenhum de nós será excepção à regra Divina, ninguém será o culpado por contágio, porque Deus não dorme, os erros que não cometeste, não serás punido por engano na Justiça do Senhor, Ele é igual para todos, para qualquer um de nós, eu acredito nisto meus irmãos e falo-vos do fundo do coração.

Os meus filhos não podiam nascer sozinhos, nasceram de mim, portanto sou responsabilizada perante Deus para os criar, educar para o bom caminho e com a sua ajuda, fazendo o que me está destinada aqui neste mundo, na ausência do pai (Nino Vieira) já falecido, vivo para os meus filhos neste momento, quero ser útil como sempre fui, e também para o meu povo.

Nesta labuta do dia-a-dia, todos os meus entes queridos já falecidos, sinto que estão comigo na paz que o Senhor nos reserva. Quem me conhece sabe que estou para o que der e vier, se algo de mal acontecer há-de passar por mim primeiro, mas com ajuda de Deus, seremos sempre protegidos, eu e os filhos que me são confiados, os meus biológicos e todos aqueles que a natureza colocou afectivamente nos meus braços, dentro das fronteiras da minha responsabilidade maternal, são todos bem-vindos, sinto-me muito bem assim, como mãe e lutadora, agradecendo este facto a Deus.

Tento ser incansável e persistente nesta caminhada, tenho a certeza que não envergonho ninguém nesta tarefa que me foi confiada como mãe até hoje, e muito menos aos meus filhos que estão comigo, sabem das nossas lutas e dificuldades do dia a dia.

Nunca fizemos vida fácil, eu trabalhei toda a minha vida, o Bissau Guineense sabe disto muito bem. Por isso recusei milhões de dólares vindos da Líbia, oferecidos pelo Coronel Kadafy, que classifiquei como dinheiro de sangue, aquando da morte do pai dos meus filhos, talvez para me calarem, tentando que depois da morte, aceitássemos o dinheiro de abutres demoníacos, coisa que talvez alguns (sem ofensa a todos), tomassem atitude diferente, recebendo o montante para fazer a sua vida em qualquer parte do mundo. Mas eu e os meus filhos agimos de outro modo que achamos mais digno até aqui, vamos continuar a honrar o homem que Deus chamou para junto Dele.

Eu não aceito crime de nenhuma natureza e feitio, valorizo o ser humano e a sua natureza Divina, como filhos de Deus que somos. Nunca explorei ninguém, nunca matei, ajudo e ajudei sempre tudo e todos, dentro das minhas possibilidades e aqui em França, é o meu feitio, ajudar sem contrapartida, a quem precisa.

Para evitar qualquer confusão, digo aqui que logo depois da guerra de 1998, o comandante da junta militar Ansumane Mané, e também o Presidente Kumba Yalá, receberam-me em Bissau oito meses depois da saída do Presidente Nino Vieira para o exílio em Portugal, e não tive qualquer receio de pisar o chão que guarda o meu umbigo, nunca hesitei em fazê-lo, ambos os encontros hoje são uma prova inequívoca do respeito que tiveram por mim pessoalmente, uma consideração e reconhecimento no exercício da minha cidadania como Guineense, que gostei de anotar num momento conturbado da vida social e política na nossa Guiné-Bissau.

Na altura já tinha residência fixa em Paris, enquanto o ex-Presidente Nino Vieira se encontrava exilado em Portugal.

Visitei o meu país depois do golpe militar como todos sabem, para acompanhar a situação pós-guerra civil e os estragos cometidos contra imóveis e outros, que sou proprietária. Hoje penso recuperar toda a actividade profissional deixada ou que ficou parado desde então. Trabalhar é o que eu sei fazer, vou continuar se Deus quiser, quem não deve não teme, nunca fiz mal a ninguém, sou mulher séria, honesta e solidária, assim fui ensinada a viver desde berço e vou continuar, tenho um passado positivo no meu país que fala por si.

Neste momento volto ao mesmo assunto referenciado na minha última comunicação, sublinhando este mesmo ponto. Esta preocupação nossa (minha e dos meus filhos) em sabermos do paradeiro do dinheiro levantado no Ministério das Finanças em nome dos meus três filhos, uma pensão de sangue, pelo assassínio do pai, ex-presidente Nino Vieira.

Já escrevemos às autoridades Guineense, de todos eles não obtivemos ainda uma resposta formal, como seria de esperar num Estado de Direito, parecendo até que após a morte do Nino Vieira, ainda alguns criminosos silenciosos, pretendem abusar dos seus filhos, roubando o que seria para a sobrevivência dos mesmos, mas basta, chega.

Depois deste crime hediondo que permanece impune perante os olhos do mundo, o Estado como Pessoa de bem, deveria proteger os concidadãos, proteger tudo e todos que se encontram nas mesmas circunstancias, aqueles que perderam subitamente os seus ente queridos, vitimas de morte por crimes cometidos diante de todos nós e que permanecem silenciados no meio ambiente social, político e da Justiça no país.

Queremos ver isto resolvido, não cremos avançar mais em outros lugares para fazer valer o nosso direito, não e porque o Guineense tem valor moral a defender, acredito que no meu país, haja quem faça Justiça a tudo isto, pondo ponto final nesta desonestidade e roubo dentro de uma Instituição Pública da Guiné-Bissau.

Queremos saber porquê e quem são (nomes) os que têm desviado a pensão de sangue dos meus filhos desde a morte do pai, chega de vergonhas a recair sempre sobre as autoridades do nosso país, vamos isolar quem pratica o mal dos restantes, avançar para os tribunais se necessário for, por isso somos um Estado de Direito.

Aproveito aqui para deixar felicitações e desejos de sucesso e bom trabalho ao Dr. Ramos Horta, como também, aos nossos líderes políticos e da sociedade civil, igualmente boa sorte a todos, com ajuda de Deus, que tudo corra bem para todos nós, nesta tarefa de levantar a Guiné-Bissau da crise em que se encontra mergulhada, só empurrando para frente teremos saída, à luz do desenvolvimento muito desejado por todos.

Peço ao Pai do Céu, paz nos corações das famílias que perderam os seus entes queridos, vítimas de crimes cometidos aos olhos do Estado da Guiné-Bissau, um eterno descanso às suas almas.

Por esta ocasião de mais um aniversário do falecimento do Presidente João Bernardo Vieira Nino, venho aqui como mãe e cidadã Guineense, humildemente pedir perdão às famílias da nossa sociedade, pelos males, erros cometidos em vida no exercício da sua liderança institucional e social no país. Perdão, porque ninguém é perfeito, ele também não o terá sido em vida, por isso, e por todos nós, peço perdão por ele, que sejamos todos abençoados por Deus Pai e Criador de tudo que há no mundo.

Haja solidariedade, justiça social, fraternidade, amor e unidade entre Guineenses, porque acreditamos no progresso e bem-estar para todos nós, numa Guiné-Bissau com paz e desenvolvimento sustentado, sem exploração dos mais desfavorecidos.

Termino desejando boa sorte a todos os Guineenses, na família, no trabalho, no país de acolhimento ou no nosso país, Guiné-Bissau, que Deus nos proteja a todos e sempre.

Obrigada.

Nazaré de Pina Vieira.

EU, NAZARÉ DE PINA VIEIRA... 07.12.2012

 

 COMENTÁRIOS AOS DIVERSOS ARTIGOS DO ESPAÇO LIBERDADES


VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

associacaocontributo@gmail.com

www.didinho.org

   CIDADANIA  -  DIREITOS HUMANOS  -  DESENVOLVIMENTO SOCIAL