Guiné-Bissau  -  Hospital Central das FARP (2)

 

AUTOBIOGRAFIA

Elísio Bento de Carvalho

Dr. Elísio Bento de Carvalho

Prontifiquei 2 quartos, com a respectiva casa de banho e cozinha na minha própria casa porque queria sobretudo o aparelho de ecografia, a fim de igualarmos e competirmos, de forma saudável, com o HNSM em equipamento de diagnóstico.

O médico russo, portanto, dormia e comia em minha casa.
Era eu quem lhe lavava a roupa suja, tal como fazia em relação à roupa suja do nosso hospital, ao equipamento desportivo da equipa de futebol militar, a «Estrela Negra».

Fui eu que ofereci ao falecido CEMGFA Saco Soares Cassamá, grande amante do futebol, os préstimos do HMP para lavar os equipamentos da nossa equipa militar de futebol.

A lavagem de toda essa roupa suja era feita em 2 máquinas de lavar, que eram por mim manejadas, pois não confiava em mais ninguém, para a devida programação.

O 1º Ministro Manuel Saturnino Costa, acompanhado do seu amigo Felisberto da Silva, vulgo «Papa», funcionário das Obras Públicas, viu-me em plena lavagem da roupa suja do Hospital (pijamas, robes, lençóis, etc.), quando numa tarde de sábado, visitou de surpresa o HMP, talvez para constatar in loco as minhas falcatruas, porque as sementes da destruição de todo este trabalho, com a utilização dos métodos mais sujos, tais como calúnias, já tinham sido lançadas (sobre isso falarei mais à frente).

Obtive a autorização para que o médico russo exercesse no nosso hospital.
No princípio tudo corria às mil maravilhas, todos satisfeitos, o médico russo simpático e sempre prestável.

A receita da ecografia era dividida da seguinte maneira: 75% para o Dr. Alexandre Erchicov e 25% para o HMP.

O Dr. Alexandre, pela 1ª vez na vida, estava a realizar os seus sonhos, de vida livre, adquirindo roupas de marcas estrangeiras (calças «Jeans», bebidas e cigarros do Ocidente (coisas que não havia na URSS).

Com o tempo, à medida que se sentia integrado entre os europeus a trabalhar na Guiné, o seu comportamento modificava, prevalecendo a arrogância e a prepotência.

Entretanto num belo dia irrompeu pelo HMP o Sr. Empresário Mihaíl, acompanhado do
recém designado (em 2010) Embaixador da Guiné-Bissau na Rep. Popular da China, o Sr. Seco N`Tchassó (irmão do cirurgião Lássana N`Tchassó).

De forma muito agressiva, o Sr. Mikhaíl apresentou as suas reclamações ao compatriota, o Dr. Alexandre Erchikov, acusando-o de não dividir as receitas da ecografia com ele, de que o aparelho era seu, que ele é que o tinha trazido para a Guiné, sem um único dólar nos bolsos.

O Dr. Alexandre pôs-se a chorar que nem uma criança, sem qualquer tipo de reacção.
Eu não podia tolerar tamanha desconsideração no meu próprio gabinete, e ainda mais sendo eu o Director do HMP.
Eu nunca estive a par do acordo entre eles para a divisão da receita de ecografia.

Nós dávamos 75% dela ao Dr. Alexandre e 25%, era para o HMP.
Pura e simplesmente peguei no aparelho, entreguei-o ao Sr. Mikhaíl, convidando-o a abandonar o meu gabinete, antes que tomasse medidas mais drásticas perante o seu feio e indigno comportamento.

Saliento aqui os esforços do Sr. Seco N`Tchassó para a resolução pacífica e civilizada do diferendo, mas os ânimos já estavam mais que exaltados.

Foi assim que aconteceu a separação do Dr. Alexandre e o empresário Mikhail, que curiosamente até à presente data  continua a viver em Bissau, tentando a sorte na vida.

Eu disse ao Dr. Alexandre que um dia conseguiríamos um novo aparelho.
E esse dia chegou, graças ao D. Septímio Ferrazeta, e igualmente ao Prof. Salazar que me informou sobre a sua existência.

Muito contribuíram os meus amigos Irmã Helena (italiana, na Missão Católica de Bula) e Eng. João Fernandes (proprietário da «Casa Amiga dos Deficientes», que me levaram à casa do Sr. Bispo.

E agora com o «nosso aparelho», melhor do que o antigo, continuamos com a ecografia no hospital, mantendo as antigas percentagens na divisão das receitas.

Inicialmente tudo corria às mil maravilhas.

Mas com o passar do tempo o nosso querido Dr. Alexandre começou a  comportar-se com muita arrogância, desprezando toda a gente.

Nessa altura, já procurava mais a companhia da comunidade europeia residente em Bissau.

Este comportamento acentuou-se mais depois do seu envolvimento amoroso com uma das nossas enfermeiras, casada.
Eu era muito amigo do esposo da referida enfermeira e como o caso era mais de que evidente (às claras), perturbando o normal funcionamento do Hospital, tive que tomar algumas medidas para pôr cobro à situação.

Nessa altura já ninguém existia para o nosso Dr. Alexandre, para além dessa enfermeira, ele deixou de colaborar com o restante pessoal da enfermagem, e mesmo com alguns médicos.

Um exemplo: o Dr. Alexandre aquando das intervenções cirúrgicas, queria apenas como assistente a sua enfermeira, que nem estava qualificada para isso, à revelia de médicos como o Dr. Lássana N`Djai (na altura um civil, aluno avançado da Faculdade de Medicina de Bissau, e com forte desejo de vir a ser um cirurgião), e a Dra. Arlette (Nené) Pedreira, médica formada na ex-URSS. Ambos  são actualmente eminentes cirurgiões, e a trabalharem no HMP.

O Dr. Lássana N`Djai, que foi meu aluno na Escola Piloto de Bolama, é hoje Major, médico cirurgião, tendo mesmo chegado a exercer o cargo no HMP.

E o Dr. Alexandre quis expulsá-lo da sala operatória em detrimento da enfermeira, que seria a 2ª assistente.

Exerci a minha autoridade como Director do HMP, pois nesse dia eu estava presente na qualidade de 1º assistente.

O Dr. Alexandre e a enfermeira descontentes com a minha decisão, abandonaram o Bloco operatório, pois exigi que se desse prioridade àqueles que provavelmente poderiam um dia, ser cirurgiões.

Peguei no bisturi e entreguei-o ao Dr. Lássana N`Djai, encorajando-o a fazer uma apendicectomia, que terminou com sucesso, e desde essa data, nunca mais parou.

As minhas relações com esse médico soviético pioravam a olhos vistos, já nem me convidava para assistir às ecografias.

Essa atitude do Dr. Alexandre, era encorajada por muitos conterrâneos, alguns mesmo,  oficiais superiores das nossas Forças Armadas (nem vale a pena citar aqui nomes) e alguns enfermeiros preguiçosos, descontentes, aqueles que não conseguiam acompanhar o ritmo de desenvolvimento do Hospital, esgueirando-se no jogo sujo.

Foi nesse período que o médico soviético adoeceu gravemente, com um simples Paludismo, e nem sabia tratar-se convenientemente.
Foi piorando pouco a pouco, internando-se por livre iniciativa num dos nossos quartos, climatizado com um aparelho de ar condicionado meu.

Daí dava ele instruções e a amiga enfermeira cumpria.
Sem resultado.
Quase inanimado, desidratado pois nem se alimentava correctamente, a mando peremptório da Responsável da Saúde Militar na época, a Tenente Coronel Arlette Cabral, que entendia que seria um problema sério para o Hospital se ele, o médico soviético, morresse, tive que intervir em conjunto com o Dr. Lássana N`Tchasso, instaurando a adequada terapia.
Em 2 dias, no decorrer dos quais eu o alimentei que nem um bebé, dando-lhe de comer a boca, o seu quadro clínico evoluiu positivamente.
E ele que já estava doente há mais de 1 semana!!!

Num belo dia, durante a visita geral aos doentes internados, descobri que nem todas as prescrições indicadas para o doente «médico» foram cumpridas.

Ao perguntar ao enfermeiro de serviço o porquê do não cumprimento das prescrições, fui informado que o Dr. Alexandre tinha recusado, pois ele era médico e sabia muito bem o que lhe convinha.
Pois é, agora pode dizer isso, já estava recuperado, foi a minha resposta.

Ao enfermeiro (já falecido) repreendi da seguinte forma: “nós é que construímos este hospital, eu é que vos dou aulas de superação já lá vão quase 5 anos. Esse senhor aí deitado, naquele momento, era apenas um simples doente como os demais”.

Então, zangado, frustrado com o complexo de alguns dos nossos parentes perante o homem branco, tirei as únicas férias em 22 anos de trabalho, sem pensar em medicina, sem ler nada, somente a descansar.

Fui para Varela numa 3ª feira, acompanhado da minha companheira e filha, na nossa carrinha dupla-cabine, conduzida pelo meu amigo e irmão, hoje em Lisboa, o Amândio Condom.

Montamos a nossa tenda de campismo à beira do areal da praia, e por lá ficamos até 6ª feira, quando o Amândio nos foi buscar.

Foram 4 dias de puro descanso na praia de Varela, em que pude ordenar as minhas ideias e tomar algumas decisões importantes, que vieram e muito, influenciar a minha carreira médica, e a minha vida.

Regressado a Bissau, na 2ª feira, reuni-me com o Dr. Alexandre para lhe comunicar o seguinte:

“ Sendo o ecógrafo meu, oferta do Sr. Bispo D. Septímio Ferrazeta, o estabilizador da corrente eléctrica, também meu, oferta do Sr. Amidu Silá da SITEC, o gel que se utilizava era enviado de Lisboa pelo meu pai, doravante a receita obtida através dos exames da ecografia seria dividida da seguinte maneira: 75% para o Hospital (não para mim!) e 25% para ele”.
E ele zangado disse que não faria mais nenhum exame. Problema seu, foi a minha resposta.

Nessa mesma noite recebi um telefonema da Sra. Ten/ Cor. Arlette Cabral, chefe máximo da Saúde Militar a informar-me que o Dr. Alexandre lhe tinha ido entregar a chave do gabinete onde se realizava a ecografia. Arrogante, convencido até ao fim!!!
Ela ainda me perguntou sobre qual seria a solução.
Respondi-lhe que mendigar para que o Doutor continuasse com os exames estava fora de questão, pois eu apenas entendi que estava na hora arrumar a casa, se ele não queria continuar com os exames, simplesmente fecharíamos o gabinete.

Logo cedo, na manhã seguinte ao chegar ao Hospital deparei-me com a Chefe em pessoa.

“ Então Elísio, como vai ser? Já temos pessoas inscritas.”
“ Anulem as inscrições, foi a minha resposta”

Então recebi da Sra. Ten/Cor. Arlette Cabral, chefe máximo da Saúde Militar. A seguinte ordem:

“ Tens estudado a ecografia ou não?”

Perante a minha resposta positiva acrescentou:

“Tens 30 minutos para te preparares, e iniciar os exames”.

Torna-se necessário aqui esclarecer o seguinte:

1º:
A ecografia, para mim nessa altura, em 1994 não constituía uma novidade, porque em 1º lugar, no decorrer do 4º ano do curso, durante o ciclo de Gineco-Obstetrícia, tive o primeiro contacto com ela e assimilei muito bem os ensinamentos dados pelo nosso excelente professor.

2º:
Em Setembro de1990, fomos honrados com a importante visita de uma delegação da saúde militar portuguesa, dirigida pelo Sr. Brigadeiro José Manuel Carrilho Ribeiro, na altura Director do Hospital Principal de Lisboa (HMP), a quem aqui presto as minhas sinceras homenagens e reitero o meu grande obrigado.

O Sr. Brigadeiro José Manuel Carrilho Ribeiro, co-autor juntamente com a Sra. Dra. Maria Luísa Moreira, de um Atlas de Ultrassonografia Abdominal no final da visita ao nosso hospital, depois dos seminários e aulas, disse-me o seguinte:

“ Que hospitalzinho simpático, arrumado e limpo, é pena não terem um ecógrafo”

Eu respondi que nunca teríamos uma coisa daquelas.

O Sr. Brigadeiro, disse que iria ver o que fazer, mas que antes, enviaria um livro sobre a ecografia, para estudarmos.

E foi assim que passados alguns dias recebi na qualidade de Director do HMP 2 Atlas de Ultrassonografia Abdominal, um deles, assinado por ele, especialmente para mim.

Desde essa altura comecei a estudar seriamente a ecografia.

O outro Atlas foi colocado na biblioteca (pois criamos essa importante secção no HMP) à disposição de interessados, que nunca apareceram!!!

O meu Atlas ainda o tenho comigo (1991-2010), em bom estado, fonte segura para consultas.

Portanto, enquanto o Dr. Alexandre, quis compartilhar os seus conhecimentos, eu aproveitei no máximo, pois a prática era ainda pouca, nula mesmo.

Após a ordem da Responsável da Saúde Militar, dei uma rápida vista dos olhos pelo capítulo da Gineco-Obstetrícia (os pacientes eram predominantemente mulheres, e em menos de 15 minutos, a tremer comecei a fazer, sozinho, exames de ecografia.

Eu «congelava» as imagens, e corria para o meu gabinete que não ficava longe para uma consulta do Atlas, com o suor a correr pelo rosto, com o medo de não errar.
Cansado de tanta correria, levei o Atlas para a sala de exames, para comparar as imagens obtidas com as figuras do livro.

Foi com um grande «Uffff» de alívio, que terminei os exames a 10 mulheres, evitando sempre hiper-diagnósticos, tal como fazia o meu predecessor.

Nesse dia não parei mais.

Sujeitei todos os doentes femininos internados do Hospital a exames de ecografia, a que acediam alegremente.
Li quase toda a noite, pois no dia seguinte haveria mais exames.

Foi assim que me tornei num ecografista, constituindo a ecografia até os dias que correm a minha principal actividade.

Em 1998 fui beneficiado com um estágio no Hospital da Marinha em Lisboa.

Muito antes,  convidei uma eminente especialista cubana em Imagiologia, a Dra. Mirta Martinez para me assessorar.

Ela achava que não era necessário, pois já conhecia o meu trabalho, mas lá a convenci a vir à minha Clínica, sem qualquer custo, 3 vezes por semana, para avaliarmos (para ela avaliar) os casos mais complicados.
Foi ela quem me ensinou a determinar o sexo.

À Dra. Mirta Martinez os meus agradecimentos, pois muito contribuiu para a minha formação no domínio da ecografia.

É graças a essa sólida formação, fruto de amizade que eu conseguia estabelecer com aqueles que sabiam mais do que eu, que consegui e consigo sobreviver aos inúmeros sobressaltos com que me deparei na minha vida.

Graças a esses eminentes cientistas e professores, aprendi a caminhar, como dizia o Amílcar Cabral, com «os próprios pés», dentro e fora do sistema, na liberdade, como na prisão (Maio de 1999- Janeiro de 2000).

Os ataques à minha pessoa continuaram, com as fileiras dos meus inimigos a obterem mais um reforço: o Dr. Alexandre.

Foram muitas as reuniões em que ouvi das boas: todo o tipo de acusações.
O meu pecado? O querer organizar um bom (razoável) hospital.

Foi após uma dessas reuniões, com duração de 2 dias, dirigida pelo falecido João João Vaz, chefe do Departamento da Logística e Transportes, que convidei os dissidentes a deixarem de calúnias e virem trabalhar em prol do HMP.
Muitos aceitaram o meu convite, mas continuando sempre a sua campanha de intrigas, calúnias, infelizmente procedimento habitual na nossa Guiné, nas disputas pelo «Cúru» (lugar).

Foi assim que em Junho de 1995, recebi no meu gabinete, muito antes das 8:00 horas de manhã a comissão de inquérito criada para «investigar a situação à volta do HMP», constituída pelos seguintes senhores:

Sr. João João Vaz (fal.) da Logística;
Sr. Leonardo de Carvalho, da Contra-Inteligência Militar (ainda vivo);
Pequeno Sambú, da Contra-Inteligência Militar (ainda vivo);
Francisco Sofia, da Contra-Inteligência Militar (ainda vivo).

A primeira pergunta da Comissão foi sobre uma hipotética (falatórios!!!) conta do HMP.
Eu respondi que não existia nenhuma conta, em Banco nenhum.

Qual o fundamento desta questão?

Realmente o nosso Hospital era, relativamente, uma «rica» Instituição, pois praticamente funcionávamos em regime de auto-financiamento.

Talvez, um dos meus pecados, foi o de ter sido capaz de executar na prática as recomendações da «Iniciativa de Bamako».

A «Iniciativa de Bamako» preconizava o auto-financiamento das Instituições da Saúde, gerando pequenas receitas, para o seu melhor funcionamento, pois mais de que provado estava a incapacidade dos estados (governos) africanos em garantir uma razoável assistência médica aos seus cidadãos.

No caso da Guiné, alguns privilegiados são contemplados com tratamento no exterior (Lisboa e Dakar, e agora Paris e Havana), enquanto que a grande maioria do povo, pura e simplesmente morre, por falta de recursos (técnicos, medicamentosos) nos nossos hospitais.
Temos recursos humanos qualificados, que dignificados, poderiam muito bem tomar conta da saúde do nosso povo.

O HMP, dentro de limites razoáveis, estava a conseguir tomar conta da saúde dos nossos militares e não só.

A grande maioria dos pacientes internados no HMP, conforme pôde constatar pessoalmente, em duas ocasiões, o 1º Ministro em 1994, Manuel Saturnino da Costa, era constituída por civis.

Sim, os civis confiavam no HMP, pagavam de boa vontade as tarifas cobradas pelo internamento com direito a roupa pessoal e de cama, assistência medica e medicamentosa, alimentação, escova e pasta dentífrica, serviço de cabeleireiro e de manicure e pedicure.
E tudo em perfeitas condições de higiene. Eu exagerava nos detalhes, com o HMP.
Queria que fosse o melhor (outro crime).

Os militares que, por direito beneficiavam de todas estas condições disponibilizadas por nós - equipa de trabalhadores por mim liderada, criada, não PAGAVAM RIGOROSAMENTE NADA.

Existem registos magnéticos e audiovisuais das várias entrevistas realizadas pelo Sr. Mamadu Betega Serra (igualmente instrumentalizado pelos meus adversários), da televisão guineense em 1994, aos militares que se encontravam internados, e que a essa pergunta provocatória sobre o quanto tinham pago, respondiam simplesmente: NADA.

Então perante a minha resposta que não existia nenhuma conta bancária do HMP, o Sr. Leonardo de Carvalho, da Contra-Inteligência Militar (ainda vivo) disse que iriam revistar a minha casa. Eu respondi que podíamos ir a qualquer altura que bem entendessem.
O inquérito terminou assim, e fomos todos no automóvel (Mercedes Benz, 200) do Sr. Leonardo de Carvalho, para a minha casa no Bº de Ajuda.

Esta comissão de inquérito entretanto criada, para investigar o HMP, chefiado pelo Sr. Leonardo de Carvalho ainda (até hoje, Julho de 2010), não produziu documento nenhum, apesar da pressa que tinha em revistar a minha casa.

«Ah, Bissau tá papiá» (“em Bissau fala-se muito”), foram as únicas palavras do Cor. João João Vaz, membro da Comissão de Inquérito para me investigar.

Não se viu os mundos e fundos de que se dizia eu ser possuidor.
Talvez os tivesse escondido, até hoje quiçá!

Foi nesse dia, mal terminou a revista da minha casa (pertença da família) que decidi pura e simplesmente abandonar, com lágrimas, o HMP.

Ainda tentei recuperar alguns artigos pessoais, mas fui impedido a mando do CEMGFA de entrar nas instalações da Base Aérea, onde ficava localizado o HMP.

Outro golpe sujo que culminou com o meu abandono voluntário do HMP, no dia 25 de Junho de 1995, veio da parte de um «ilustre defensor dos interesses do povo» o Deputado Augusto Poquena, uma pessoa que até hoje, dia em que escrevo estas linhas (14 de Julho de 2010) não tive ainda a honra de conhecer, nunca conversamos, nem estivemos jamais, mesmo que fosse a uma distância de 1, ou 10 km ou mais, próximos, um do outro.

Sr. Deputado, até hoje não voltei a pisar o hospital da Base Aérea.
O HMP já não merece a sua atenção? Pelos vistos está bem e recomenda-se.
Eu o contemplo apenas, de longe, quando visito de vez em quando, o meu amigo e irmão Bucar Dafé, que vive não muito longe.

Eu responsabilizo o Sr. Deputado Augusto Poquena de ter destruído gratuitamente (será?) o HMP e convido-o em pleno séc. XXI, neste ano de 2010 que voltasse a repetir as acusações que fez sobre a minha pessoa, tal como em 1995, na plenária da Assembleia Nacional Popular.

Caso a sua memória falhe, eu o ajudo:

O Sr. Deputado afirmou que o Hospital Militar Principal, foi PRIVATIZADO pelo Dr. Elísio Bento de Carvalho (eu já escrevi que detesto a palavra «Doutor», pois não o sou ainda).

O que conseguiu com a sua acusação, Sr. Deputado?
Nenhum tipo de acção criminal (sei lá, se é judicial) ou militar me foi estabelecido.
Tudo passou como «món de sal na iágu», «nas águas de bacalhau».

Onde é que se viu isto?

O Director de uma Instituição estatal, privatiza-a e não lhe acontece nada?
Pois é, nada, mas nada mesmo me aconteceu.

Abandonei o HMP e iniciei a minha vida PRIVADA, abri a Clínica «ABC», sita no Bº de Ajuda, 1ª fase, casa nº 101.

Este meu comportamento, isto é, esta minha decisão em termos militares significa: DESERÇÃO, acto grave, punível por lei.

Privatização + Deserção= 0 (zero).

Esta soma está correcta, Sr. Deputado?

Quem era o Chefe do Estado-Maior General da FARP na altura?
O Brigadeiro Ansumane Mané, o homem que abalou profundamente a Guiné.
Teria ele medo de mim? Não de certeza.
E ele, assim como o ministro da defesa, o Coronel Arafan Mané, o Tribunal Militar, não me punem?
Estranho não acha?
Ou qual seria o objectivo no fundo da sua acusação?
Me ajude, por favor, passaram-se 15 anos, mas não me sinto à vontade.
Não preciso do tempo para que as pessoas se esqueçam do meu criminoso acto: apoderar-se de um património do Estado.
Eu sou como a ave Phoenix.
Sabe o que é?
Ela renasce das cinzas.

Há pessoas que não querem que se recorde dos seus passados, e penso que o Sr. Deputado é uma deles.
Porque motivo foi preso?
Eu fui prisioneiro de guerra, após o 7 de Junho, e com muito orgulho o digo.

Sr. Deputado Augusto Poquena, este meu recado ser-lhe-á transmitido de qualquer maneira, talvez até eu lhe envie uma cópia do capítulo das minhas memórias em que me refiro a si.

Também enviarei uma cópia ao actual Procurador-geral da República, pois sinto-me desonrado com a sua infundada (?!) acusação.
Ou tem provas? Melhor seria.
Só lhe peço uma coisa, que as apresente publicamente.

Eu estou bem instalado na vida, dono de uma conhecida, famosa e respeitada clínica PRIVADA, a «ABC», onde já atendemos para exames de radiografia, ilustres dirigentes desta terra: o actual PR, a esposa do actual 1º Ministro, etc.
Nessa altura, foi o meu aparelho de RX que salvou a Guiné-Bissau, pois não havia outro em mais nenhum lugar da nossa terra.

A clínica «ABC», Sr. Deputado Augusto Poquena, que é PRIVADA, é minha, não tenho sócios nenhuns.
É conhecida, porque nela descarrego toda a minha energia, o meu pouco saber, tal com fiz no Hospital da Base Aérea, sem nenhuma espécie de ajuda oficial.

Pergunte ao Sr. 1º Ministro em exercício no ano de 1995.

Sabe quem era? Manuel Saturnino da Costa.

Será que foi ele quem assinou os documentos da privatização do HMP? Ele está vivo, graças a Deus.

O HMP, já foi desprivatizado, Sr. Deputado?

Ou continuo a ser, o seu dono, patrão?

Convido-o a acusar-me tal como da outra vez, que apresente provas, documentos da privatização do Hospital Militar Principal.

A minha vida entre 1995-1998

Depois da minha saída voluntária (deserção) do HMP iniciei a minha actividade privada, abrindo o Consultório médico «Esperança».
De 1995 a 1998, foram muitas as tentativas feitas pelo então Chefe do Departamento de Pessoal e Quadros, o Ten/Cor. Afonso Té (ver as várias guias de marcha para voltar a trabalhar no HMP na pasta de fotos relativa ao Hospital da Base Aérea).
Todas estas tentativas sempre esbarraram no veto do CEMGFA, o Brigadeiro Ansumane Mané.

Por fim, optou-se pela minha colocação na Marinha de Guerra Nacional (MGN).
Novamente o veto, desta vez mais violento do Sr. CEMGFA, o Brigadeiro Ansumane Mané.
Ao Comandante da Marinha, Feliciano Gomes foi mesmo exigida a sua presença no EMGFA para explicar sobre esta tentativa de me colocar na sua unidade.


Dessa vez foi muito duro, senti-me fortemente atingido, porque eu soube da decisão da minha expulsão numa tarde, em minha casa, de forma não oficial, através de uma secretária (civil) da Marinha.
Nem o Comandante da MGN, nem o seu Adjunto, o Caetano Gomes, tiveram a coragem de me comunicar pessoalmente que eu tinha sido expulso, não só da Marinha, mas também das FARP.

Mesmo assim fui ter com o Caetano Gomes, informando-lhe que já estava a par da decisão do CEMGFA (emitida há mais de uma semana). Exigi que me entregasse esse documento (ver a pasta HMP).
Foi a 2ª vez que senti uma dor muito forte, de mágoa perante mais uma injustiça.
A 1ª foi ao abandonar o HMP.
Eu só queria trabalhar e mais nada, nunca me alinhei em grupos, nunca prestei vassalagens a nenhum chefe.

Foi assim que chegou o fatídico dia 7 de Junho de 1998.

De madrugada, por volta das 4:00 já se ouviam tiros, esporádicos, que se vieram a intensificar já de manhã cedo.
Foi então que, de bicicleta, saí em direcção à Base Aérea.
Na zona de Brá, ainda não eram 7 horas, já se ouviam tiros nos quartéis aí localizados (mais atrás ficava o Serviço de Armamento).
Nessa pedalada em direcção à Base Aérea, vi o «Nissan Patrol» do Brigadeiro Ansumane Mané num vai-vem pela estrada antiga (colonial) que liga o centro de Bissau ao Aeroporto (estavam a levar armas e munições para o quartel da Artilharia, onde estavam concentrados os revoltosos).

Na rotunda do Aeroporto encontrei-me com 2 jovens soldados, meus amigos (Mussá e Quebá) que me informaram terem sido dispensados pelo Comandante da Base Aérea, que por sua vez armou apenas os oficiais. Eles não sabiam o porquê dessa decisão.
Chegado à entrada da Base Aérea vi alguns camaradas armados, que me deram indicações para prosseguir, pois havia problemas no país. Quais? Ninguém naquela altura podia dizer coisa alguma.

 Dirigi-me então à casa do meu grande amigo Bucar Dafé, que ainda estava inocentemente a dormir, informando-lhe do tiroteio na zona de QG (Sta Luzia), em Brá, e sobre os colegas da Base Aérea, todos armados. Ele dirigiu-se de imediato para o quartel, com a promessa de comunicar notícias sobre a situação, logo que as tivesse.
Pelo caminho velho (antiga estrada do Aeroporto), já em direcção a casa, encontrei-me com o meu antigo enfermeiro-chefe Iaia Bodjan, à paisana, na sua bicicleta, dirigindo-se para o HMP, pois entraria de serviço de vela nessa manhã.
Também estava alarmado com os tiros.
Foi nessa altura que vimos o próprio CEMGFA no seu carro, que vinha em direcção à Artilharia.
Estacionou o carro, saudou-me (apesar de tudo, sempre que nos encontrávamos nas ruas de Bissau ele conversava comigo, pois as nossas relações foram sempre boas, cordiais).
Ele disse-me para regressar imediatamente a casa.
Teve um momento de hesitação, mas repetiu o conselho.

Mais tarde vim a saber que se arrependeu depois dessa sua decisão, porque me queria como médico nas suas fileiras.
Foi assim que ao chegar de novo a Brá me deparei com os corpos dos falecidos Eugénio Spen e Rachid Saiegh.
Tive que retornar para atrás, a mando de um militar armado.
Pela estada de S. Paulo, em direcção ao Cemitério de Antula, fui para a casa das Irmãs, de onde telefonei para a Amura, para me informar da situação. Em vão.
Finalmente, depois de várias voltas pelo Bº Militar, lá consegui chegar a casa, no Bº de Ajuda.

Telefonei de novo para os colegas na Amura (Estado-Maior), mas estava tudo confuso.
Inicialmente disseram-me para aguardar lá em casa, que me mandariam buscar, depois houve outra ideia que talvez eu pudesse avançar para a cidade no meu carro pessoal, hipótese logo posta de parte, pois podia ser metralhado. Por quem? Não se sabia, os campos (as partes) ainda não estavam claramente definidas.
Autêntica confusão.

Então nessa noite de 7 (domingo) para 8 de Junho de 1998 (2ª feira), vestido completamente de negro, armado com a minha AK-M 47 fiquei de atalaia, não em minha casa, mas sim na casa vizinha, em frente da minha, de onde pude observar movimentações de vários destacamentos militares, com uma faixa vermelha de identificação no braço esquerdo.

Foi assim toda a noite, ouvindo já tiros de armas mais pesadas.
De manhã, exausto, fui dormir à minha casa.
À noite, de novo no meu esconderijo, vi um grupo de homens armados a dirigirem-se para a minha casa.
Não entraram, bateram apenas nos portões (da casa e da garagem), deram volta à casa, e concluíram em voz alta, que provavelmente, eu já tinha saído.
Nessa altura já se tinha começado o êxodo da população, para o mais longe possível dos tiros.
De manhã cedo apareceram o Dr. Suleimane Baió (colega da Ortopedia) e o enfermeiro Malan, que antes de mais agradeceram a Deus por me encontrarem, pois sabiam da missão do grupo acima referido, com o objectivo de me raptarem (?), de me matarem (?), sei lá!!!

Eles tiveram medo de se deslocar de noite para me avisarem.
Nesse dia, 9 de Junho, decidi não esperar mais que me viessem buscar (a partir da Amura) e por volta das 13:00, resolvi avançar, à paisana, bem pelo meio da estrada, em direcção à minha antiga unidade, a Marinha de Guerra Nacional.

Fui detido, no Bairro de Belém e na Chapa de Bissau, duas vezes, por militares, sem nunca me identificar, porque não sabia quem era quem, a que ala pertenciam e quais os seus objectivos.
Foi assim que na Chapa de Bissau, o Comandante da BIR (Brigada da Intervenção Rápida), o malogrado António Gomes, me resgatou das mãos de alguns militares (vindos do interior do país) e me levou para o Ministério do Interior.
Eram já quase 15:00.
Os telefonemas a partir deste Ministério, para a Amura, ou para a MGN, com o pedido de me virem buscar não surtiram efeitos.
Ninguém ousava atravessar a cidade.

Foi assim que o mesmo António Gomes, já quase 19:00 horas, a grande velocidade me transportou até o porto de Pindjiquiti, a partir do qual corri em direcção aos portões da MGN, entretanto entreabertas para me acolher.
Fui efusivamente saudado pelo Comandante, pois eu era mais um «bom reforço».
Levei cerca de 6 horas, do Bº de Ajuda à Marinha, nesse tenebroso dia.
Foi assim que entrei nesta guerra, e passei-a a visitar todas as frentes, distribuindo medicamentos e tratando dos feridos.
Talvez um dia eu escreva especialmente sobre a guerra, os seus horrores.

A guerra terminou em 7 de Maio de 1999, e já no dia 10, a maioria dos soldados e oficiais governamentais estavam presos.

Eu fiquei «detido» no Hospital Nacional Simão Mendes, dentro do qual podia movimentar-me à vontade, sem quaisquer restrições.

Fui preso no dia 29 de Maio, sábado, e levaram-me para a Prisão da Base Aérea, baptizado pelos colegas do infortúnio por «Prinda Pé» (pés suspensos, talvez).

Esse nome é devido a exiguidade do espaço.
Presto aqui as minhas homenagens ao Dr. Camilo Simões Pereira e família, que, à revelia de muitos colegas médicos, deixou-me ficar instalado no seu gabinete de trabalho.

Foi também o Dr. Camilo quem me puxou para dentro do Bloco Operatório no derradeiro dia do ataque a Bissau, enfiando-me, cabeça abaixo, em cima do meu fardamento, uma bata operatória, pois naquele momento o Bloco já tinha sido invadido por um grupo de militares da Junta à procura de médicos militares «escondidos», a mando de ALGUNS COLEGAS MÉDICOS, simpatizantes da Junta Militar, ou apenas simples oportunistas que já queriam marcar posição, não hesitando por isso, mandar matar-me.

Alguns desses colegas ainda lá estão, apesar de um ou outro já ter falecido.
O 1º grupo de militares que invadiu o Bloco, era comandado pelo Major Mário N`Bundé, da Artilharia Terrestre, que ao ver-me disse apenas: “Elísio, tu é que estás aqui? Vá, vai trabalhar”.

Gorada esta 1ª tentativa de me mandar liquidar, novamente a mando dos colegas médicos, passadas algumas horas, apareceu outro grupo dirigido pelo Combatente da Liberdade da Pátria Lourenço Djemé, marido da minha antiga cozinheira no Hospital da Base Aérea, de nome Isabel Djata. Quer com o Lourenço, assim como a sua esposa, tive sempre as melhores relações de amizade.
Ele, pessoa amiga, fez a meia-volta e continuei o meu trabalho.

E por lá fiquei em paz, apesar de saber sempre através de uma senhora, Servente, dos planos que os referidos doutores faziam, para se verem livres de mim.

Eu mesmo disse ao Dr. Camilo, que iria sair para as ruas de Bissau, fardado, então seria de certeza, preso.
Ele respondeu-me que o meu paradeiro era do conhecimento das chefias militares.
As minhas homenagens a essa Sra. Servente do Bloco Operatório (não vou citar o nome, para evitar represálias), que corajosamente escondeu nessas instalações o meu arsenal de guerra (Pistola «Makarov», 2 AK-M 47, Capacete, Colete à prova de bala), no momento em que os militares da junta já se irrompiam pelo HNSM, disparando fortes e impressionantes rajadas de armas automáticas.

As minhas homenagens pela amizade e lealdade demonstradas pelo saudoso Dr. António Tamba e pelo Dr. Ença Corobó

Prisão da Base Aérea, (Inferno II).

As celas estavam apinhadíssimas de presos, que muitos se suspendiam nas altas grades, com os pés pendurados para o lado de fora.
Foi chocante ver como as pessoas mudam.
O guarda prisional que me recebeu, uma pessoa a quem prestava inúmeros favores, já nem me conhecia, com o rosto de poucos amigos.
Mas tive sorte?!
Fui mandado para a cela Nº 9 vestido, calçado.
Muitos não tiveram essa «honra». Fui muito bem recebido pelos meus companheiros, que abriram alas para que eu avançasse, cela adentro.
Indicaram-me um canto, o Cor. Ansumane Silá (antigo Chefe da Escolta Presidencial) ofereceu-me um pedaço de cartão e mandou-me sentar.
Estava em estado choque. Tentava controlar a emoção.

Lá estavam, entre outros, o Coronel do Ministério do Interior Brancossinho, o Comissário Armando Nhaga.

Na 2ª feira seguinte, 31 de Agosto, já adaptado, recebi «condignamente» o Dr. Benjamim Correia, Chefe dos Serviços de Anestesia e Reanimação do HNSM, oferendo-lhe igualmente um pedaço de cartão, e cedendo-lhe um espaçozinho para se sentar.

Não havia espaço, éramos quase 50 pessoas lá dentro, numa superfície de 2.5x3.5mm.
Eu era um privilegiado, pois muitos dos camaradas alternavam-se, para ao menos poderem sentar-se durante uns escassos minutos.
Inicialmente nem água para a higiene pessoal havia, tudo era feito com as mãos, e era com essas mesmas mãos que comíamos quando lhes desse na gana entregar-nos a comida fornecida pelos nossos familiares.

Foi Tagmé Na Waie quem resolveu o problema da higiene, trazendo os Bombeiros para limpar as celas e restabelecer a canalização.
Não vale a pena acrescentar mais nada sobre a minha passagem pela Prisão da Base Aérea, que às vezes designo de «Inferno I».

Posso classificar as diferentes prisões, pois fiz um autêntico périplo por várias delas:

1- Base Aérea (Inferno II);

2- Cumeré, apenas por algumas horas, « Sheraton de 3 estrelas»;

3- Prisão de Mansoa, «Sheraton de 4 estrelas»;

4- 2ª Esquadra de Bissau, (Inferno I).

Dentre as prisões onde estavam os meus camaradas das forças governamentais, só não estive na da Marinha, (Inferno I), onde flutuava tudo (fezes, artigos pessoais, etc.) e todos (os presos), ao sabor das marés.

DR. ELÍSIO BENTO DE CARVALHO - O HOSPITAL CENTRAL DAS FARP  22.08.2010

DR. ELÍSIO BENTO DE CARVALHO  - Biografia  04.07.2010


PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Associação Guiné-Bissau CONTRIBUTO

associacaocontributo@gmail.com

www.didinho.org