E agora senhor presidente...?!

 

Caro Henrique Rosa

 No dia 08. 10. 2003 escrevi um artigo intitulado: " Analises 2 "no qual analisei o seu discurso à Nação na cerimónia da sua investidura como Presidente ida República interino. Nesse artigo, destaquei o seu discurso que tinha como ponto de referência o vincar de posição característico da sua personalidade. Ouvi e li o discurso tal como outros guineenses também ouviram e (ou) leram  (alguns até puderam ver), bem como a Comunidade Internacional, que também tomou conhecimento da sua posição.

O Henrique disse nessa altura que: " Não seria refém dos militares e, que exerceria a sua independência, esperando que os militares respeitassem a hierarquia ". Estas palavras, valeram todo um discurso!

Essas palavras, dissipavam todas as dúvidas quanto à personalidade da pessoa ora escolhida para ser o primeiro magistrado da Nação.

Essas palavras, mostravam que realmente havia necessidade de equilibrar o poder da força com a força da razão, para que uns e outros, todos conscientes dos seus deveres e direitos de cidadão, soubessem assumir as suas responsabilidades para com a pátria mãe.

O Henrique, como Presidente interino, tem  poderes constitucionais que a Carta de Transição lhe confere. O Henrique, para todos os efeitos, para além de Presidente da Guiné-Bissau é também o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau, ainda que de forma honorária, o que quer dizer que está acima de todas as chefias militares do país.

A Guiné-Bissau, sofreu a 06 de Outubro passado, um novo e profundo golpe a que se poderá atribuir infinitas designações. Para mim, caro Henrique, tratou-se de um golpe de força, com desequilíbrio entre o poder da força  e a força da razão. Precisamente o que a marca do seu discurso de tomada de posse não consentia que viesse a acontecer! Por isso me surpreender toda a sua movimentação desde esse dia a esta parte, culminando com a promulgação do decreto presidencial que nomeia novas chefias militares para o país.

Não vou fazer um balanço da sua presidência. Como escrevi há dias no artigo" A Guiné-Bissau ainda é um Estado?", ao Presidente interino não se cobra nem se pede nada, pois não apresentou programa, nem fez campanha. Está só de passagem. No entanto, não posso (e creio que outros também), deixar de lhe lembrar, caro Presidente, que a tomada de posse consiste num acto de juramento ao país e o que se disser na altura é um compromisso de honra para com o país.

O senhor presidente quebrou esse compromisso ao deixar-se pressionar por militares que têm a obrigação e o dever de respeitar os órgãos de soberania, porquanto existir o espírito do diálogo, contrariamente a outros tempos.

Militares que têm obrigação de respeitar o juramento que fizeram para com o seu próprio país, salvaguardando a sua integridade e a das suas populações.

O Henrique, tendo os poderes que presumivelmente ainda detém, não soube defender a República, não soube defender os seus concidadãos, mas sim defender a sua permanência como Presidente da República da Guiné-Bissau, sabe-se lá até quando, bem como defender os interesses de uma elite militarista, inculta quanto às tarefas e obrigações perante o país que representam.

O Henrique não soube defender a outra parte do povo guineense que sem fardas e sem armas faz produzir o país e está sem receber salários há mais de (.... ) já me perdi no tempo....!

Agora pergunto: Os militares estarão acima dos que não têm farda nem armas? E se a população civil também se revoltar e fizer justiça pelas suas próprias mãos, o Henrique também irá dizer que está do lado deles, ou irá chamar as autoridades competentes para actuarem, porquanto criarem  instabilidade...?! 

Será que mesmo com o argumento da reconciliação e da estabilidade, o Henrique não está a ver que está a comprometer o futuro Presidente a sair das próximas eleições presidenciais, porquanto, esse sim, estar no direito de impor o seu Manifesto de campanha, caso seja eleito?!

 Alguém de bom senso acredita que estas chefias militares irão querer deixar os postos agora atribuídos, em Março de 2005?!

Como antever uma reforma nas Forças Armadas com chefias impostas por grupo de militares, quando existe um governo legitimado e em funções, que tem a incumbência de apresentar nomes para aprovação ao Presidente da República?

Como se pode falar em reformas nas Forças Armadas, quando o próprio governo é desconsiderado pelo Presidente da República? 

Uma outra questão preocupante a ter em conta, é a sua tentativa de ocultar os factos, querendo manipular os órgãos de informação com pedidos infundados de não se passar para o exterior uma má imagem do país. Os órgãos de informação conhecem as suas atribuições e nos bons ou maus momentos são eles que espelham o estado das coisas no país. Não tente fazer a eles, o que os militares fizeram consigo e conseguiram, porque a Comunicação Social consegue ser a mais poderosa de todas as armas e, ainda assim, tolerada e respeitada por todos dentro do que se pressupõe ser o direito à liberdade de expressão. 

Aparentemente, o caso 06 de Outubro, fica resolvido com o pagamento dos salários aos militares revoltosos e com a nomeação das chefias militares impostas pelos revoltosos. Mas é aqui que, só quem não quer ver, não estará ao alcance de um juízo realista para questionar: Afinal onde está o poder...? A quem está entregue o poder...? Até quando teremos esta luta pelo poder...?

 E agora senhor presidente...?!

Fernando Casimiro ( Didinho )

30. 10. 2004

www.didinho.org