A QUESTÃO KUMBA YALÁ
Fernando Casimiro (Didinho) 15.04.2012 Não resisto a escrever sobre a actual conjuntura política, social e militar guineense, quando constato que se pretende misturar questões étnicas relativamente a pessoas, ou grupos de pessoas, que são cidadãos guineenses, de etnia balanta, etnia que é parte integrante e significativa (ainda que mais expressiva em número populacional), a exemplo de todas existentes na Guiné-Bissau, na composição do mosaico étnico-cultural que constitui a sociedade guineense e relacioná-las, de forma tendenciosa com questões institucionais, apontando como alvo as Forças Armadas guineenses, por um lado, e por outro, o Dr. Kumba Yalá, candidato às presidenciais de 18 de Março que recusou participar na 2ª volta das eleições (justificando publicamente a sua recusa, parte de uma reivindicação conjunta com mais quatro candidatos), para se tentar explicar a intervenção militar do passado dia 12 de Abril. Começo por recordar a todos que este nosso Projecto Guiné-Bissau CONTRIBUTO nasceu precisamente, "graças" aos erros e desmandos do Dr. Kumba Yalá, enquanto Presidente da República, ele que foi derrubado por um Golpe de Estado no dia 14 de Setembro de 2003! Aproveito, por isso, para salientar que, em momentos de crise, também surgem oportunidades visando mudanças. Foi a partir da presidência do Dr. Kumba Yalá que deixei de ser mais um indiferente, mais um resignado, mais um conivente/cúmplice da desgraça que ao longo dos anos foi afundando a Guiné-Bissau, passando a ser um observador atento, um estudioso, um crítico, um defensor da causa guineense! Do Dr. Kumba Yalá ficaram marcas que, no entanto, permitiram-me e certamente a todos os guineenses, ter uma visão mais realista do "estado clínico" da Guiné-Bissau, face às consequências da sua desastrosa presidência! O Golpe de Estado militar de 14 de Setembro de 2003 que derrubou Kumba Yalá, a exemplo de outros, tinha sido efectuado pelas Forças Armadas, porém, ninguém na altura relacionou a questão étnica com o Golpe, mas tão somente, que, face aos desmandos do Dr. Kumba Yalá, era previsível que o Golpe acontecesse... Quando o Partido da Renovação Social (PRS) presidido por Kumba Yalá perdeu as eleições legislativas de 2004, apesar das reivindicações, contestações, etc., não houve nenhum Golpe de Estado, não houve nenhuma referência de que as Forças Armadas estariam conotadas com uma etnia para inverter os resultados eleitorais e colocar o PRS de Kumba Yalá no poder. Quando em 2005 Kumba Yalá participou nas eleições presidenciais e perdeu, tendo apoiado Nino Vieira na 2ª volta, apesar das reivindicações e contestações, não houve nenhuma referência conotativa das Forças Armadas com uma etnia, nem Golpe de Estado para colocar Kumba Yalá no poder. Quando em Novembro de 2008 se realizaram eleições legislativas que ditaram a vitória do PAIGC ninguém falou de "cumplicidade étnica", nem houve Golpe de Estado para dar vitória ao PRS de Kumba Yalá. Quando em 2009 se realizaram as presidenciais antecipadas que ditaram a vitória de Malam Bacai Sanhá e a derrota de Kumba Yalá, não houve nenhuma referência à questão étnica, nem às Forças Armadas e muito menos houve Golpe de Estado. Afinal, onde está a verdade, na forma como se tenta explicar ou justificar, a intervenção militar de 12 de Abril, associando-a a uma etnia - balanta - em defesa de um dos candidatos, que por ser da etnia balanta, neste cenário, é visto como parte civil mandante da intervenção militar? Afinal quando é que o Dr. Kumba Yalá foi de facto favorecido, numa perspectiva étnica com a cumplicidade das Forças Armadas, quer nas eleições presidenciais em que participou, ou nas eleições legislativas em que o seu partido, o PRS participou? Porquê esta relação agora, quando se podia ver a questão de outra forma? Vejamos a actual situação da Guiné-Bissau e recuemos no tempo apenas o necessário para compreendermos que o problema que hoje vivemos poderia ter sido evitado se: 1- Houvesse respeito pela Constituição da República e, concretamente à situação excepcional da vacatura do cargo de Presidente da República, devido ao falecimento do Presidente Malam Bacai Sanhá, no tocante às competências e limitações do Presidente da República Interino e, consequentemente, à inconstitucionalidade de uma candidatura do Primeiro-Ministro Carlos Gomes Júnior. 2- Houvesse respeito do Primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior pelo povo que elegeu o PAIGC como Governo e por assim dizer, para governar até ao fim da legislatura, ou seja, até Novembro de 2012. 3- Houvesse respeito do Presidente do PAIGC Carlos Gomes Júnior pelos militantes do seu partido, permitindo que o partido escolhesse um candidato ou aceitasse candidaturas internas com vista às eleições presidenciais antecipadas. Houvesse da parte do Presidente do PAIGC humildade na forma de lidar com os seus camaradas de partido, ainda que divergentes na forma de pensar. 4- Houvesse do Primeiro-Ministro Carlos Gomes Júnior inesgotáveis exercícios de reflexão sob diversos prismas, para auferir as consequências constitucionais, legais, políticas, sociais e outras que poderiam advir da sua candidatura ao cargo de Presidente da República, face ao exposto na Constituição da RGB. 5- Houvesse respeito do Governo na forma de lidar com as nossas Forças Armadas, evitando a confrontação e a humilhação pública das Forças Armadas. Se chegamos onde chegamos, tudo isso não teria sido evitado se ao invés de candidato presidencial, o Primeiro-Ministro Carlos Gomes Júnior continuasse a ser Primeiro-ministro e o PAIGC apoiasse outro candidato, que poderia ser Serifo Nhamadjo, por exemplo? Hoje fala-se da "ameaça" que é Kumba Yalá. Pergunto: Se o PAIGC tivesse escolhido e apoiado um outro candidato que não o Primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior e em presença de tantos outros candidatos, alguns apoiados por forças políticas e outros na qualidade de independentes, teríamos chegado a um impasse eleitoral com 5 candidatos contestatários? Creio que não! Se o Primeiro-Ministro Carlos Gomes Júnior não tivesse optado por ser candidato, a Governação teria continuado e a esta hora, certamente a Guiné-Bissau já teria um novo Presidente da República. Se seria o Dr. Kumba Yalá? Quais seriam as reais hipóteses do Dr. Kumba Yalá voltar a ser eleito como Presidente da República da Guiné-Bissau? Que cada um tire as suas ilações e conclusões! Seria aquele que o povo escolhesse, desde que, todo o processo da sua candidatura e eleição fosse constitucional e legal! VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR! A BALANTIZAÇÃO OU O FOMENTAR INCONSCIENTE DO TRIBALISMO 11.12.2004 PRESIDENTE KUMBA YALÁ, SEJA RESPONSÁVEL 30.05.2003 UMA ALTERNATIVA ÀS ELEIÇÕES 28.05.2003 GUINÉ-BISSAU: REFORMAS PRECISAM-SE NAS FORÇAS ARMADAS 13.05.2003 PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - UMA RECAPITULAÇÃO NECESSÁRIA!01.03.2009
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR! Cultivamos e incentivamos o exercício da mente, desafiamos e exigimos a liberdade de expressão, pois é através da manifestação e divulgação do pensamento (ideias e opiniões), que qualquer ser humano começa por ser útil à sociedade! Didinho O MEU PARTIDO É A GUINÉ-BISSAU!
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
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