Li
hoje no
http://ditaduradoconsenso.blogspot.com/ algumas transcrições do livro com o
título de "Testemunho", da
autoria de Filinto Barros, recentemente falecido e cuja apresentação coube a
Fernando Delfim da Silva.
Não fiquei surpreendido com o conteúdo
partilhado, ou não fosse uma rotina, a eterna questão para uns tantos
guineenses, de quem é guineense puro e, numa nova abordagem ou perspectiva,
segundo o "testemunho" do intelectual Filinto de Barros (ele sim, guineense puro
ou portador de um ADN característico/uno, que define o cidadão guineense), não
basta que o indivíduo nasça na Guiné-Bissau para ser considerado guineense. Tem
que ter também sangue guineense...
Ao fazer referências sobre o estatuto de cidadão em
relação a Luís Cabral, Filinto Barros atacou igualmente Amilcar Cabral e tantos
guineenses gerados pela condição da naturalidade ainda que, não sendo
descendentes de pais nascidos no território da antiga Guiné Portuguesa, bem como
os que, fruto das implicações da presença colonial e não só, são mestiços.
É deste tipo de intelectuais, que dividem e
confundem, o (mesmo) povo, fomentando o ódio, que o país precisa?!
Dizer que Luís Cabral foi o principal responsável
pelo golpe de Estado de 14 de Novembro, pelas intrigas que fazia, é realmente de
uma tremenda injustiça. O tempo pós 14 de Novembro demonstrou ou não quem era o
maior de todos os intriguistas na Guiné-Bissau?
Gostaria que um dia, os guineenses pudessem ler "A
FUGA DE NHOMA" um trabalho do antropólogo guineense Eduíno Sanca, com
testemunhos do antes e depois do golpe de estado de 14 de Novembro de 1980, para
que cada um tire de uma vez por todas as conclusões sobre o que realmente
aconteceu e como aconteceu. O trabalho não foi (ainda) publicado em livro,
poucos tiveram acesso a ele, mas espero que o autor consiga publicá-lo a bem da
verdade!
Não estou aqui para atacar quem já não me poderá
responder, mas em 2006, Filinto Barros insurgiu-se contra um artigo de opinião
que escrevi e recebeu da minha parte a resposta merecida. Hoje, gostaria de
perguntar ao Dr. Fernando Delfim da Silva, na qualidade de apresentador do livro
de Filinto Barros, se ele também acha que há um tipo de sangue que caracteriza o
cidadão guineense e, já agora, que me diga se ele também tem esse sangue...
Acho bem, que meias verdades publicadas neste livro
sirvam para debater a fundo outras questões de interesse nacional e não se fique
apenas pela argumentação de que quem escreveu o livro não está mais de vida e,
por isso, ninguém pode responder por ele.
Quando Filinto Barros fala do caso Dicol/Petromar,
é evidente o seu posicionamento tendencioso de atacar Carlos Gomes Jr.
Identificado o corrupto, seria difícil descobrir o
corruptor?
Haverá alguém à época, que desconhecesse a relação
de proximidade entre o ex-Presidente João Bernardo "Nino" Vieira e o seu "testa
de ferro" Carlos Gomes Jr. "Cadogo"?
Se Filinto Barros na qualidade de Ministro da
tutela sabia todos os detalhes das operações financeiras, como é que não sabia
quem dava ordens para essas movimentações financeiras que dá a conhecer?!
Quem mandava no país, a título absoluto?!
Por que não colocou o problema ao Presidente da
República de então, João Bernardo Vieira, já que ele, Filinto Barros era seu
Ministro?!
De quem tinha medo Filinto Barros?!
Será que também foi Luís Cabral quem nomeou Carlos
Gomes Jr. para Director-Geral da Dicol?
Claro que foi o ex-Presidente João Bernardo "Nino"
Vieira!
Quem foi que mandou prender um seu primo "T. Gama."
(quadro da Dicol), que descobriu as vigarices que estavam a ser feitas na Dicol
por Carlos Gomes Jr., por solicitação deste?!
Foi o próprio ex-Presidente Nino Vieira e
pode ser provado!
Quem foi que traiu um tio "A. Vieira"que na altura
era trabalhador da casa "Salgado &Tomé" em Bissau, até hoje sede da Petromar,
depois deste lhe ter pedido ajuda para comprar a loja, na qualidade de
trabalhador mais antigo e porque os donos, portugueses, tinham decidido vender a
loja e regressar a Portugal?
Foi o ex-Presidente João Bernardo "Nino" Vieira,
que comprou todo o edifício da antiga casa "Salgado & Tomé, onde ainda hoje é a
sede da Petromar, deixando o tio a "ver navios"...
Pode ser provado!
Afinal, há ou não envolvimento de Nino Vieira no
caso Dicol/Petromar?
Prometo voltar a este assunto assim que receber o
livro e depois da sua leitura e análise completa.
Entristece-me ver que alguns que estão incluídos no
lote de "guineenses do faz de conta", ou seja aqueles como eu, que se diz, não
terem "sangue guineense" ou não serem "guineense puro", ainda mostrarem regozijo
por reflexões de mentes doentias, recheadas de ignorância em matérias tais como
Cultura e Identidade.
A
INDIFERENÇA QUE VAI FAZENDO A DIFERENÇA 21.08.2006
DOIS DEDOS DE
CONVERSA COM FILINTO DE BARROS 25.08.2006
POLITICAMENTE
INCOMPETENTE 28.08.2006
QUANTO
MAIS TE ABRES MAIS TE ENTERRAS 01.09.2006
O
ÓDIO A AMILCAR LOPES CABRAL (2) 23.01.2011
O
ÓDIO A AMILCAR LOPES CABRAL 21.01.2011
A MESTIÇAGEM, OU
O VERDADEIRO CONCEITO DO QUE VENHO DEFININDO COMO A GLOBALIZAÇÃO NA
VERTENTE HUMANA 31.01.2009
PREFÁCIO
Vou tentar aproveitar a entrevista... "Testemunho" é uma
colectânea de 4 textos, onde dou a conhecer a maneira e a
percepção que tive dos acontecimentos em que fui interveniente.
Como todas as obras do género, elas são polémicas, por
inconclusivas.
Portanto aguardo de todos contribuições altivas por mais
polémicas que possam ser. Isto só ajudará o nosso país e
cidadãos a ficarem mais esclarecidos.
A Dicol, o
Carlos Gomes
Jr., e,...
Angola
Esta empresa
era puramente
comercial e não
fazia parte do
parque
industrial, mas
sim da tutela
energética.
(...) Empresa
mista com
capitais
públicos
guineenses e
portugueses, a
Dicol detinha o
monopólio do
comércio dos
combustíveis
líquidos no
país. Em
princípio não
devia falar
desta empresa,
dado que tinha
todas as
condições de
viabilidade, por
actuar
monopolisticamente
numa área
comercial e com
garantia do
Banco Central em
termos de
fornecimento de
divisas.
Infelizmente a
realidade era
outra! A unidade
era mesmo
deficitária, com
dívidas bastante
elevadas. Quando
deixei o
Ministério, o
país devia a
Angola cerca de
17 milhões de
dólares por não
pagamento dos
cumbustíveis
fornecidos e a
Dicol tinha uma
dívida de cerca
de 20 milhões de
dólares ao
banco! Por outro
lado, a mesma
Dicol detinha um
crédito de
elevado montante
sobre terceiros
na praça,
acontecendo no
entanto que uma
boa parte desse
crédito era de
cobrança
duvidosa e mais,
não cobrava
juros aos
devedores,
quando por sua
vez e via a
banca depositar
juros sobre os
seus débitos!
Com uma
estrutura
financeira do
género e aliado
à inflacção
deslizante, o
preço do
combustível era
alterado de três
em três meses.
Todos os anos, a
empresa fazia
provisões
orçamentais
sobre a
liquidação das
dívidas o que
estava na origem
da pressão sobre
os preços, mas
não me lembro da
Dicol ter
honrado os seus
compromissos.
Isto fez com que
houvesse fricção
entre a tutela e
a direcção da
empresa, sobre a
justificação da
necessidade dos
aumentos dos
preços
periódicos,
facto que
influenciava
negativamente a
evolução da taxa
de inflação
interna.
Acontece que a
direcção da
empresa tinha
muitos ‘apoios’,
pelo que se
tornou difícil
exigir uma
gestão racional.
Tanto o sector
da banca como o
das Finanças,
davam ‘apoios’
exagerados à
empresa! Ainda
me lembro duma
operação
incrível, em que
foi transferido
para a
responsabilidade
do Tesouro
Público, uma
dívida de cerca
de 12 milhões de
dólares que a
Dicol tinha com
o Banco Central,
permitindo assim
‘limpar’ a
situação da
empresa e
torná-la
elegível para um
novo
endividamento!!!
Tudo isto contra
a minha posição
de ministro da
tutela (...)
Isto só tinha
explicação na
gestão danosa da
empresa com o
conluio da parte
portuguesa, que
tinha um
administrador a
nível financeiro
a trabalhar na
empresa e cujos
relatórios
anuais do
Conselho de
Administração
eram sempre de
elogios. O
culminar da
gestão danosa
veio com a
abertura do
sector do
combustível ao
sector privado,
sob pressão do
Banco Mundial.
(...)
Imediatamente
surgiu uma
empresa privada
-
NOTA: a empresa
chama-se
PETROMAR, cujo
dono é o actual
primeiro-ministro,
Carlos Gomes Jr.
- com capitais
mistos formados
pela parte
portuguesa,
sócia na Dicol,
e pelo director
cessante da
Dicol!!!
Como explicar
que o gestor
duma empresa
pública abandone
a empresa para
ir operar no
mesmo domínio,
através duma sua
empresa?
Sobretudo quando
a Dicol detinha
à partida todas
as condições de
concorrer e
obter esse novo
mercado
offshore, devido
aos depósitos em
terra e ao porto
de acostagem,
acabado de
construir sem
obedecer as
regras de
transparência
pela empresa
Soares da Costa,
que, para
cúmulo, acabou
ficando a dever
cerca de 1milhão
e meio de
dólares à
empresa!!
Como explicar a
posicao da socia
portuguesa?
Dir-me-ao que se
tratou duma
operacao para
contornar a
recusa do
governo em
privatizar o
sector! Mas a
parte portuguesa
era publica
(PETROGAL) e nao
privada!! A
"febre" de
privatizar por
privatizar do
Banco Mundial
era so para a
Guine-Bissau e
nao para
Portugal!!!
Continua
Pós 14 de
novembro
Por mais volta que queiramos dar, Luis Cabral é um
caboverdeano de origem e não devia ocupar o cargo de Presidente
(da Guiné-Bissau). O nacionalismo guineense saiu muito
confundido com este figurino! Era patente para todos que ninguém
lutou para substituir o português pelo caboverdiano
(...) Num outro figurino, um figurino federalista Luis
Cabral teria toda a legitimidade de exercer esse cargo. Mas
havendo dois Estados separados, o lugar dele na Guiné-Bissau não
podia ser o de Presidente! Não vale a pena perder tempo para
encontrar documentos que atestam o local de nascimento!
Aqui não se trata do jus
solo, mas do jus sangue
(...) Se há um responsável pelo golpe (de 14 de novembro),
Luis Cabral deve ser apontado, pelo ambiente de intrigas que
implantou, tentando inverter as hierarquias saídas da luta
(...) O primeiro sinal veio do III Congresso, onde a
Direcção Superior surgiu com oito elementos em vez dos quatro.
Nada haveria de assinalar não fosse o facto que dos quatro
anteriores, dois continuaram a estar destacado dos demais:
secretário-geral e secretário-geral adjunto. Os outros dois,
Chico Mendes e 'Nino' Vieira, foram na prática diluídos nos
restantes seis! Uma forma inteligente de despromover alguém,
fazendo subir os seus inferiores hierárquicos até aqui!
(...) Questionado, a Direcção, pela boca do Luis Cabral,
explicou que isso se devia ao facto do Pedro Pires estar a
exercer o cargo de primeiro-ministro em Cabo Verde! Ninguém se
convenceu com esta explicação extemporânea, tendo ficado claro
para todos nós que o alvo era o 'Nino' Vieira. Aristides Pereira
estava presente e nada fez para contrariar as 'manobras' do seu
adjunto. Pedro Pires, igualmente nada fez para recusar uma
medida que na prática iria aumentar o seu prestígio em nada.
Esta acção foi muito má e a meu ver esteve na origem da
crispação do 'Nino' e dos seus próximos. Ora, 'Nino' detinha na
prática todo o comando das forças armadas, não só junto das
bases como no seio dos oficiais superiores e intermédios, mesmo
que estupidamente estes últimos tenham sido afastados após o
'golpe'.
Continua
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exercício da mente, desafiamos e exigimos a liberdade de expressão,
pois é através da manifestação e divulgação do pensamento (ideias e
opiniões), que qualquer ser humano começa por ser útil à sociedade!
Didinho